sexta-feira, 30 de abril de 2021
O Egoísmo
O famoso escritor, biólogo evolutivo e ateísta militante, Richard Dawkins, defende no seu livro “O gene egoísta” que os seres humanos e todos os outros animais são simplesmente máquinas criadas pelos seus genes e, que se a nossa espécie sobreviveu milhões de anos num mundo tão competitivo deve-se a uma qualidade que ele considera ser a de um gene bem-sucedido: o seu egoísmo implacável. Por esta razão e segundo ele, a natureza biológica irá sempre contrariar a construção de uma sociedade na qual os indivíduos cooperem generosa e desinteressadamente para o bem-estar comum. Estou em desacordo com esta teoria, pois um gene bem-sucedido que tudo faz para manter a sua sobrevivência não iria deixar destruir o seu habitat, e colocar a sua existência em risco como está acontecendo atualmente. Isto vem a propósito da comemoração do Dia Internacional da Mãe Terra, onde várias organizações ambientalistas, chefes de estado e o presidente da ONU, teceram largas recomendações e alertas para a urgência de todos nós tomarmos ações sobre as mudanças climáticas. Mas, palavras leva-as o vento. O busílis da questão é o egoísmo, que ao contrário de virtude conforme defende Dawkins é um defeito, pois considera tudo só pelas vantagens que pode auferir e só tem em conta os próprios interesses com desprezo e em detrimento dos interesses alheios. As alterações climáticas e o esgotamento dos recursos naturais são sintomas, a doença é o egoísmo, sendo necessário atuar na sua causa. O desenvolvimento da economia é uma necessidade, precisamos de produzir para que se viva em conformidade, mas este desenvolvimento não deve ser feito só para proveito pessoal, deve ter em conta o bem-estar de toda a humanidade, da economia em geral, da sociedade e da natureza como um todo. As pessoas na sua generalidade estão de acordo em ter atitudes de preservação do meio ambiente e de baixo consumo dos recursos naturais, mas desde que não interfira no seu comodismo e com as suas realizações pessoais. Há muitos anos li uma história que me fez refletir e que muito resumidamente era assim: Alexandre o Grande quando chegou a Atenas teve conhecimento que por lá andava o grande sábio Diógenes e foi falar com ele. Diógenes encontrava-se deitado no chão a apanhar sol e Alexandre apresentou-se e disse-lhe: “pede o que quiseres que eu te dou”, Diógenes levantando os olhos respondeu: “Apenas não me tire o que não me pode dar”, Alexandre percebendo que se posicionara entre o sol e Diógenes e estava fazendo-lhe sombra, perplexo com o que tinha ouvido afastou-se. A lição que podemos tirar desta história é que para Diógenes o sol era mais importante que as riquezas que Alexandre lhe queria dar, ou seja, a natureza era mais importante que os bens materiais. Só faltam 0,3ᵒC para cairmos no abismo, ou seja, atingirmos o aumento de temperatura de 1,5ᵒC acima da temperatura média global registada na época pré-industrial, mas o nosso egoísmo cega-nos e como Tolstói escreveu: “Há quem passe por um bosque e só veja lenha para a fogueira”.
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