Nas tertúlias
do sábado à tarde, quando no emaranhado das conversas, surge algo sobre a sustentabilidade
do planeta “ temos o caldo entornado”. Os três R´s, da sustentabilidade;
reduzir o consumo, reutilizar dando novas utilidades às coisas que já não necessitamos
e reciclar para diminuir a quantidade de resíduos que vão para as lixeiras,
poupando também na utilização de matérias-primas, permitem um vasto leque de
opiniões que uma longa tarde de conversa por vezes não é suficiente para
provocar consensos.
Frases simples
como: Devemos ter práticas que estabeleçam uma relação de harmonia entre o que
consumimos e o meio ambiente ou, como alguém já escreveu; “ambiente limpo não é
o que mais limpa, mas o que menos suja” por mais incrível que pareça não são
consensuais.
Neste tema a
pessoa mais interventiva do grupo e a quem vou dar o nome fictício de Manuela
recusa-se a fazer reciclagem e por mais que eu tente argumentar sobre os
benefícios desta prática existe sempre um contra-argumento.
A Manuela não
faz reciclagem porque lá no condomínio onde vive quase ninguém faz, por essa
razão diz: ou fazem todos ou não vale a pena fazer. Além do mais, desconfia que
na recolha, o carro do lixo volta a misturar tudo. Disse-lhe que o dever dela
era fazer a sua parte como o louva-a-deus na história do incêndio na floresta.
Como ela desconhecia a história, lá contei, e passo a descrever: Houve um
grande incêndio na floresta e os animais começaram a fugir das chamas, nessa
fuga desenfreada o elefante viu um louva-a-deus com um pouco de água no bico
indo em direção às chamas. O elefante perplexo perguntou ao louva-a-deus:- O
que é que vais fazer? Ao que o louva-a-deus respondeu: - Vou apagar o incêndio.
O elefante nem queria acreditar e disse-lhe: -Tu és louco, não vez que essa gotícula
de água, não serve para nada, foge connosco ou vais morrer. O louva-a-deus
respondeu: -Eu vou fazer a minha parte.
Depois a Manuela argumentou que a nossa
dimensão é tão pequena e o que podemos fazer é tão pouco, que a influência dos
nossos hábitos a nível do planeta é nula. Lá ataquei eu com a famosa frase do
Edmund Burke “ Ninguém cometeu maior
erro, do que aquele que nada fez só porque o que podia fazer era muito pouco”.
Os meus argumentos nunca eram suficientes.
Logo de
seguida disse-me que não era empregada do lixo, que pagávamos impostos para que
alguém fizesse esse serviço. Lá tive que lembrar-lhe que ela também não era
empregada das bombas de gasolina e deitava combustível no carro e não era
empregada do supermercado e fazia os pagamentos nas máquinas de Auto
atendimento, ações mais graves, pois retiravam postos de trabalho.
Cada argumento
meu só servia para elevar o nível da discussão. A minha amiga acabou por dizer
o que lhe ia na alma, que essa coisa da reciclagem é tudo uma treta. Foi ao
telemóvel, fez uma busca no Google a apresentou-me uma lista com dez itens de
supostos malefícios da reciclagem. Estas a ver? E agora o que dizes? Disse-lhe
que não me guiava pelo Google, mas pelo meu raciocínio e consciência, esses
eram os meus maiores valores. Propus que ela tentasse ver o planeta como um condomínio,
exatamente como o condomínio onde vivia. Que pensasse um pouco na influência
que as ações dos seus vizinhos em termos de higiene e segurança nas próprias
casas, têm na casa dela. Enfim, vão ter que passar ainda algumas gerações para
mudar mentalidades.
Mas numa terra onde pessoas ditas normais ocupam
constantemente estacionamentos destinados a pessoas com deficiência, onde
existe gente que fica aborrecida porque perdeu algum tempo na estrada devido a
um deficiente que ia numa cadeira de rodas movida eletricamente. Gente que usa
uma ferramenta para retirar as moedas dos carrinhos de supermercado só para não
o irem colocar no respetivo local. Pais que ensinam os filhos a apagar sempre a
luz por causa da conta da eletricidade e não para diminuir a poluição que a
produção de energia elétrica provoca. Não podemos esperar atitudes altruístas
de quem cultiva o egoísmo, quem não respeita o seu semelhante nunca irá
respeitar um planeta.
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