quarta-feira, 28 de fevereiro de 2024

O Mito dos Cavalos Alados

 

Vou escrever um pouco sobre a natureza da alma, dentro do contexto do diálogo platónico Fedro. Platão na sua obra Fedro, descreve um diálogo que houve entre Sócrates e Fedro. Embora os temas debatidos neste diálogo sejam essencialmente o amor e a retórica, vou-me cingir apenas à questão da alma, abordada também nesta obra através do conhecido Mito da Parelha Alada. Nesta alegoria, Platão faz uma reflexão sobre o que é a alma e qual a sua natureza. A primeira ideia é que a alma é imortal e indestrutível, transcende à matéria, não nasce nem morre, porque a alma é o princípio de tudo e como é um princípio não pode ser gerado, senão deixa de ser um princípio. A segunda opinião é sobre o dualismo, para tudo o que existe há sempre um oposto. Na abordagem da alma, existe o mundo sensível que é o mundo que observamos através dos cinco sentidos, e o seu oposto é o mundo das ideias (céu) constituído de coisas não observáveis, onde existe tudo o que nós conhecemos, mas de forma imaterial, imutável e perfeita. O mundo sensível é uma cópia imperfeita (por vezes demasiado imperfeita) do original que existe no mundo das ideias. Entre esses dois mundos existe um espaço onde andam as almas dos Deuses que são aquelas que já atingiram a perfeição e as outras que ainda estão a passar por provações para evoluir. Das que ainda estão a passar por provações, muitas vão encarnar num corpo humano. Platão escreveu que o seu mestre Sócrates, para melhor explicar a Fedro o seu pensamento sobre alma e como é que a consciência humana pode lidar com os elementos que a constituem, criou o Mito dos Cavalos Alados. O Mito divide a alma em três partes e começa a ser explicado da seguinte maneira: a alma pode ser comparada com uma parelha alada, constituída por uma biga (carruagem)com dois cavalos alados (cavalos voadores) conduzida por um Auriga (cocheiro). O Auriga é a parte que representa o intelecto, a razão, sendo ele que controla e tenta harmonizar os dois cavalos. As outras duas partes são representadas pelos cavalos, sendo que um cavalo é o bom e representa o impulso racional da alma, a parte positiva da paixão, e o outro é o cavalo mau, que representa a parte instintiva da alma, ou seja, a parte das paixões e dos desejos irracionais. Ambos os cavalos têm uma coisa em comum, amam as coisas belas. O cavalo bom é branco e belo é amigo da opinião certa não precisa de ser esporeado pois basta para o fazer trotar uma palavra de comando ou de encorajamento, ele olha para o mundo das ideias (céu) comtemplando toda a beleza que lá existe. O cavalo mau tem um aspeto feio, é amigo da soberba e da lascívia, não obedece a ordens e a muito custo obedeceu, depois de castigado com açoites, fica olhando para baixo contemplando as belezas terrenas, e ao contrário do cavalo bom que se contenta em contemplar, tenta possuir tudo o que é belo, foçando a carruagem para baixo. para o mundo material. E assim anda a alma a vagar pelo espaço, e o cocheiro a tentar equilibrar uma carruagem com dois cavalos que querem estar em lugares diferentes. Nesta indecisão a carruagem por vezes fica descontrolada e cai na terra, os cavalos perdem as asas e a alma fica habitando um corpo para passar pela experiência dos sentidos. Este é o sinal de que o cavalo mau venceu. Todos os que habitamos a terra pertencemos às almas em que a parte má da alma venceu. As nossas Asas que estão partidas vão ter de voltar a crescer para voltar a voar e levar a alma novamente para a luminosidade. Para que as asas voltem a crescer os cavalos têm de ser bem alimentados e os bons alimentos segundo Platão, são a beleza, a sabedoria a justiça e as virtudes. Para isso o cocheiro tem de ser mais habilidoso para conseguir harmonizar os dois cavalos, uma vez que não podemos negar nenhum deles, pois os dois são necessários, só que têm de estar em harmonia e bem alimentados. O problema é que são muitos os incentivos para o mau alimento, é muito o lixo que entra na nossa mente das mais variadas formas e isso impede a nossa evolução espiritual. Muitos de nós vão precisar de muitas reencarnações até que as asas cresçam e a alma possa voltar a voar. Constantemente sou puxado violentamente pelo cavalo mau e por vezes continuo a ser um mau cocheiro e não o consigo controlar os cavalos e a minha carruagem (minha vida) vai no rumo errado. Mas o facto de conhecer este mito tem-me ajudado a refletir e nos momentos menos bons, digo sempre para mim mesmo, lá está o cavalo mau a dominar e isso permite-me ir em busca do equilíbrio. Se alguém ao ler esta minha divagação sinta a curiosidade de explorar este mito e o ajudar a conhecer-se melhor, valeu a pena mais esta divulgação. Mas se ninguém ler, também valeu a pena, porque enquanto o escrevia fiz várias reflexões positivas para mim mesmo.

Adriano


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