Vou escrever um pouco sobre a
natureza da alma, dentro do contexto do diálogo platónico Fedro. Platão na sua obra
Fedro, descreve um diálogo que houve entre Sócrates e Fedro. Embora os temas
debatidos neste diálogo sejam essencialmente o amor e a retórica, vou-me cingir
apenas à questão da alma, abordada também nesta obra através do conhecido Mito
da Parelha Alada. Nesta alegoria, Platão faz uma reflexão sobre o que é a
alma e qual a sua natureza. A primeira ideia é que a alma é imortal e indestrutível,
transcende à matéria, não nasce nem morre, porque a alma é o princípio de tudo e
como é um princípio não pode ser gerado, senão deixa de ser um princípio. A
segunda opinião é sobre o dualismo, para tudo o que existe há sempre um oposto.
Na abordagem da alma, existe o mundo sensível que é o mundo que observamos
através dos cinco sentidos, e o seu oposto é o mundo das ideias (céu) constituído
de coisas não observáveis, onde existe tudo o que nós conhecemos, mas de forma
imaterial, imutável e perfeita. O mundo sensível é uma cópia imperfeita (por
vezes demasiado imperfeita) do original que existe no mundo das ideias. Entre
esses dois mundos existe um espaço onde andam as almas dos Deuses que são aquelas
que já atingiram a perfeição e as outras que ainda estão a passar por provações
para evoluir. Das que ainda estão a passar por provações, muitas vão encarnar num
corpo humano. Platão escreveu que o seu mestre Sócrates, para melhor explicar a
Fedro o seu pensamento sobre alma e como é que a consciência humana pode lidar
com os elementos que a constituem, criou o Mito dos Cavalos Alados. O Mito
divide a alma em três partes e começa a ser explicado da seguinte maneira: a alma
pode ser comparada com uma parelha alada, constituída por uma biga (carruagem)com
dois cavalos alados (cavalos voadores) conduzida por um Auriga (cocheiro). O Auriga
é a parte que representa o intelecto, a razão, sendo ele que controla e tenta
harmonizar os dois cavalos. As outras duas partes são representadas pelos cavalos,
sendo que um cavalo é o bom e representa o impulso racional da alma, a parte
positiva da paixão, e o outro é o cavalo mau, que representa a parte instintiva
da alma, ou seja, a parte das paixões e dos desejos irracionais. Ambos os cavalos
têm uma coisa em comum, amam as coisas belas. O cavalo bom é branco e belo é
amigo da opinião certa não precisa de ser esporeado pois basta para o fazer
trotar uma palavra de comando ou de encorajamento, ele olha para o mundo das
ideias (céu) comtemplando toda a beleza que lá existe. O cavalo mau tem um aspeto
feio, é amigo da soberba e da lascívia, não obedece a ordens e a muito custo
obedeceu, depois de castigado com açoites, fica olhando para baixo contemplando
as belezas terrenas, e ao contrário do cavalo bom que se contenta em contemplar,
tenta possuir tudo o que é belo, foçando a carruagem para baixo. para o mundo
material. E assim anda a alma a vagar pelo espaço, e o cocheiro a tentar
equilibrar uma carruagem com dois cavalos que querem estar em lugares
diferentes. Nesta indecisão a carruagem por vezes fica descontrolada e cai na
terra, os cavalos perdem as asas e a alma fica habitando um corpo para passar
pela experiência dos sentidos. Este é o sinal de que o cavalo mau venceu. Todos
os que habitamos a terra pertencemos às almas em que a parte má da alma venceu.
As nossas Asas que estão partidas vão ter de voltar a crescer para voltar a
voar e levar a alma novamente para a luminosidade. Para que as asas voltem a
crescer os cavalos têm de ser bem alimentados e os bons alimentos segundo Platão,
são a beleza, a sabedoria a justiça e as virtudes. Para isso o cocheiro tem de
ser mais habilidoso para conseguir harmonizar os dois cavalos, uma vez que não
podemos negar nenhum deles, pois os dois são necessários, só que têm de estar
em harmonia e bem alimentados. O problema é que são muitos os incentivos para o
mau alimento, é muito o lixo que entra na nossa mente das mais variadas formas
e isso impede a nossa evolução espiritual. Muitos de nós vão precisar de muitas
reencarnações até que as asas cresçam e a alma possa voltar a voar. Constantemente
sou puxado violentamente pelo cavalo mau e por vezes continuo a ser um mau
cocheiro e não o consigo controlar os cavalos e a minha carruagem (minha vida)
vai no rumo errado. Mas o facto de conhecer este mito tem-me ajudado a refletir
e nos momentos menos bons, digo sempre para mim mesmo, lá está o cavalo mau a
dominar e isso permite-me ir em busca do equilíbrio. Se alguém ao ler esta
minha divagação sinta a curiosidade de explorar este mito e o ajudar a
conhecer-se melhor, valeu a pena mais esta divulgação. Mas se ninguém ler,
também valeu a pena, porque enquanto o escrevia fiz várias reflexões positivas
para mim mesmo.
Adriano
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