sexta-feira, 31 de maio de 2019

A Filosofia


 
Sempre que a humanidade atravessa um período de conturbação social, a filosofia emerge das profundezas para confortar a alma humana. Os filósofos são os eternos amigos da Humanidade e perante as adversidades são eles os primeiros a aparecer. Evocam-se os espíritos dos mais ilustres filósofos da antiguidade, para ajudarem a curar uma sociedade que vive doente, angustiada, intolerante e violenta. A sociedade atravessa uma crise de valores, porque a família e a escola, na sua generalidade, não conseguiram contrabalançar com valores de ética, moral e educação uma juventude programada para a competição e, educada no binômio produção/consumo numa sociedade que se tornou demasiado industrializada e pouco social. Esta situação criou em muitos membros da sociedade um vazio existencial e desequilíbrios emocionais. Ao longo da história sempre houve crises sociais e, foi sempre a filosofia a catapulta que projetou o pensamento humano para patamares de consciência mais elevados. A função da filosofia é fornecer “ferramentas”, que permitam ajudar a compreender o que acontece à nossa volta, para atuarmos de acordo com os princípios éticos da conduta humana. Como é o caso da escola filosófica estoica criada em Atenas por volta de 300 a.C. pelo filósofo Zenão de Cítio. Esta corrente filosófica ficou famosa através dos seus ilustres praticantes, onde se inclui o famoso Imperador Romano, Marco Aurélio. O estoicismo ensina que as virtudes devem ser baseadas nos comportamentos e não nas palavras. Que não devemos depender do que não controlamos, mas apenas de nós e das nossas escolhas. O estoicismo lembra que o mundo é imprevisível e que o tempo é efémero, por essa razão devemos vivê-lo da melhor forma possível. Temos a obrigação de sermos firmes, controlar as nossas emoções, ser fortes e confiar na nossa capacidade de raciocínio. O estoico, pensa em como pode melhorar diariamente a sua maneira de ser e agir, como superar os problemas e transformá-los em oportunidades. O estoicismo não se preocupa com teorias abstratas é, um conjunto de reflexões, conselhos e práticas para viver melhor. Como o estoicismo valoriza a ação em detrimento das palavras, tem alguns exercícios práticos que ajudam o fortalecimento da personalidade. Uma das práticas difundidas pelos estoicos é a reflexão matinal, onde a pessoa se prepara para as situações que poderá encontrar durante o dia, mesmo as mais adversas. Essas meditações devem ser anotadas para autoavaliação, assim fazia Marco Aurélio, cujos pensamentos se encontram publicados no famoso Livro “Meditações “. Vários são os aforismos que compõem o pensamento estoico: receba elogios e criticas da mesma maneira, reveja o seu dia e tire ilações, lembre-se sempre que vai morrer, confie em si mesmo, não tenha vergonha de pedir ajuda, faça uma mudança no seu interior. Seja uma força do bem. A filosofia desempenha um papel fundamental na formação, ensina a pensar, transmite valores para a transformação da sociedade. O sistema não quer que as pessoas dominem a arte de pensar com clareza, porque contraria a “moral do rebanho”.

segunda-feira, 13 de maio de 2019

A Democracia


No ano 399 a. C. o filósofo Sócrates, considerado por muitos como o fundador da filosofia ocidental, foi julgado e condenado à morte. A cidade estado “Atenas “onde Sócrates vivia, era gerida desde o ano 508 a.C.  por um novo sistema politico chamado democracia. Por esta razão, o Filósofo teve um julgamento democrático. O julgamento tinha três acusadores, que perante o Bulé (conselho constituído por 500 membros) apresentaram as acusações, às quais, Sócrates rebateu detalhadamente cada uma. Tendo a maioria dos jurados votado a favor da condenação, Sócrates foi condenado, num dos primeiros atos de injustiça (que temos conhecimento) praticados pela democracia. Sendo a liberdade de expressão o suporte vital de qualquer regime democrático, não deixa de ser um paradoxo alguém, em democracia, ser condenado por utilizar a sua liberdade de expressão, sem nunca ter incentivado à violência e desobediência. Platão, seu discípulo, após o julgamento, condenou a democracia referindo que este julgamento mostrou que a democracia poderia calar a verdade tanto quanto a tirania. Passados quatro séculos, segundo as escrituras sagradas, deu-se o julgamento de Jesus Cristo. Pelo que conta a história, Jesus foi um homem de bem, que sempre pautou a sua vivência com gestos de bondade e tolerância. Acusado injustamente, o governador romano Pôncio Pilates, ficou com o ónus da questão. Entendendo que Jesus era inocente, o governador aproveitou a tradição de soltar um preso na Páscoa para o libertar. Colocando lado a lado, Jesus e um conhecido criminoso de nome Barrabás, teve uma atitude “democrática”, perguntando ao povo quem é que queriam que ele libertasse. A maioria escolheu Barrabás para ser libertado e, como se não bastasse, exigiu a crucificação de Jesus. Prosseguindo na minha divagação, nos séculos XV e XVI quando todos defendiam o geocentrismo, dizendo que o planeta Terra estava fixo no centro do Universo com os corpos celestes a girar em seu redor, só Copérnico e Galileu, cada um em sua época, defenderam o heliocentrismo, dizendo que a terra girava em volta de si mesma e em redor do Sol e, mais uma vez, a maioria errou. Sem dúvida, numa perspetiva histórica, nem sempre a maioria tem razão. A democracia não se esgota na votação, contém leis e mecanismos de ação que salvaguardam a dignidade da pessoa humana. A democracia não é a ditadura da maioria, rege-se pela justiça social e concede espaço de opinião à minoria. Ao longo de 2500 anos, a democracia evoluiu e fortaleceu-se, mas quando imbuída de ignorância, continua tão frágil como no seu início. Não podemos cumprir a democracia sem sabermos o seu verdadeiro significado, desconhecendo a importância de uma sociedade num estado democrático. É necessária uma educação para a política e para a sociedade, um tema que precisa ser debatido nas aulas de filosofia, disciplina que deveria constar do currículo escolar desde os primeiros anos de escolaridade. Não devemos confundir instruir com educar. Os alunos devem ser instruídos nas áreas das suas aptidões específicas, mas educados no aspeto moral e cívico. Uma sociedade desinformada, sem hábitos de leitura, sem cultura política, pode através da democracia, construir uma tirania e, trocar liberdade por grilhões.