sexta-feira, 31 de maio de 2019
A Filosofia
segunda-feira, 13 de maio de 2019
A Democracia
No ano 399 a. C. o filósofo Sócrates, considerado por muitos
como o fundador da filosofia ocidental, foi julgado e condenado à morte. A
cidade estado “Atenas “onde Sócrates vivia, era gerida desde o ano 508 a.C. por um novo sistema politico chamado
democracia. Por esta razão, o Filósofo teve um julgamento democrático. O
julgamento tinha três acusadores, que perante o Bulé (conselho constituído por
500 membros) apresentaram as acusações, às quais, Sócrates rebateu
detalhadamente cada uma. Tendo a maioria dos jurados votado a favor da
condenação, Sócrates foi condenado, num dos primeiros atos de injustiça (que
temos conhecimento) praticados pela democracia. Sendo a liberdade de expressão
o suporte vital de qualquer regime democrático, não deixa de ser um paradoxo alguém,
em democracia, ser condenado por utilizar a sua liberdade de expressão, sem
nunca ter incentivado à violência e desobediência. Platão, seu discípulo, após
o julgamento, condenou a democracia referindo que este julgamento mostrou que a
democracia poderia calar a verdade tanto quanto a tirania. Passados quatro
séculos, segundo as escrituras sagradas, deu-se o julgamento de Jesus Cristo.
Pelo que conta a história, Jesus foi um homem de bem, que sempre pautou a sua
vivência com gestos de bondade e tolerância. Acusado injustamente, o governador
romano Pôncio Pilates, ficou com o ónus da questão. Entendendo que Jesus era
inocente, o governador aproveitou a tradição de soltar um preso na Páscoa para o
libertar. Colocando lado a lado, Jesus e um conhecido criminoso de nome
Barrabás, teve uma atitude “democrática”, perguntando ao povo quem é que
queriam que ele libertasse. A maioria escolheu Barrabás para ser libertado e,
como se não bastasse, exigiu a crucificação de Jesus. Prosseguindo na minha
divagação, nos séculos XV e XVI quando todos defendiam o geocentrismo, dizendo
que o planeta Terra estava fixo no centro do Universo com os corpos celestes a
girar em seu redor, só Copérnico e Galileu, cada um em sua época, defenderam o
heliocentrismo, dizendo que a terra girava em volta de si mesma e em redor do
Sol e, mais uma vez, a maioria errou. Sem dúvida, numa perspetiva histórica,
nem sempre a maioria tem razão. A democracia não se esgota na votação, contém
leis e mecanismos de ação que salvaguardam a dignidade da pessoa humana. A
democracia não é a ditadura da maioria, rege-se pela justiça social e concede
espaço de opinião à minoria. Ao longo de 2500 anos, a democracia evoluiu e
fortaleceu-se, mas quando imbuída de ignorância, continua tão frágil como no
seu início. Não podemos cumprir a democracia sem sabermos o seu verdadeiro
significado, desconhecendo a importância de uma sociedade num estado
democrático. É necessária uma educação para a política e para a sociedade, um
tema que precisa ser debatido nas aulas de filosofia, disciplina que deveria constar
do currículo escolar desde os primeiros anos de escolaridade. Não devemos
confundir instruir com educar. Os alunos devem ser instruídos nas áreas das suas
aptidões específicas, mas educados no aspeto moral e cívico. Uma sociedade
desinformada, sem hábitos de leitura, sem cultura política, pode através da democracia,
construir uma tirania e, trocar liberdade por grilhões.
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