terça-feira, 14 de abril de 2020

A Vacina


Nós já temos a vacina. Segundo um excelente artigo da jornalista Carla Tomás no semanário“Expresso”, as diversas epidemias só nas últimas duas décadas: a SARS (2002) a MERS (2012) e agora a SARS CoV-2 causadora do COVID19, a gripe da aves (2005) e a gripe suína (2009) conhecida por gripe A, são todas de origem animal  - morcegos, macacos, camelos, porcos ou galinhas. No mesmo artigo e fazendo referência a um investigador de renome, refere que excetuando o vírus causador da varíola, que parece ser exclusivamente humano e que por essa razão foi possível eliminá-lo, doenças como o sarampo, varicela e as gripes resultam do manuseamento de animais. Assim sendo, já temos a vacina, é abandonarmos a criação intensiva de animais, consumirmos moderadamente produtos de origem animal e deixar de destruir ecossistemas. A natureza continua a enviar avisos e como diz o ditado: “Quem me avisa meu amigo é”. A natureza também tem a sua bomba atómica e não precisa de um Enola Gay para a transportar. Entretanto vai sair a Super Vacina e mais uma série de vacinas para proteger o humano, porque a destruição e o consumismo exacerbado têm de continuar, os recordes da revista Forbes têm de continuar a ser batidos, em 2019, Jeff Bezos de 55anos, dono da Amazon teve a sua fortuna avaliada em 131 biliões de dólares. Para quem está em confinamento este é o momento ideal para uma introspeção e uma reflexão a nível de todos os aspetos que regulam a vida. Para quem gosta de leitura este é o momento ideal para ler ou reler alguns dos clássicos que abordam o comportamento humano e concomitantemente aumentar o seu pecúlio cultural. Gosto da definição de cultura de Matthew Arnold, poeta inglês:” É a busca da nossa perfeição total, mediante a tentativa de conhecer o melhor possível o que foi dito ou pensado, em todas as questões que nos dizem respeito”. Mas a leitura é também o que Margerite Yourcenar escreve na sua obra de arte que é o romance histórico, Memórias de Adriano:” A palavra escrita ensinou-me a escutar a voz humana, como as grandes atitudes imoveis das estátuas me ensinaram a apreciar os gestos. Em contrapartida, e posteriormente, a vida, fez-me compreender os livros”. As minhas sugestões vão para: Os Miseráveis de Victor Hugo, em relação a esta obra o Escritor Vargas Llosa num ensaio sobre a mesma, escreveu: “É uma das obras de literatura que mais fizeram homens e mulheres de todas as línguas e culturas, desejarem um mundo mais justo, mais racional e mais belo do aquele em que viviam”. Os Irmãos Kamarazov de Dostoievki que num posfácio a este romance Sigmund Freud diz: “Os Irmãos Kamarazov é o romance mais magistral que alguma vez se escreveu e nunca seremos capazes de apreciar de verdade o episodio do Grande Inquisidor”. Grandes Esperanças de Charles Dickens é outro dos grandes romances. Colocaria ainda nesta lista de leitura de reflexão: A Servidão Humana de Somerset Maugham e a Insustentável leveza do SER de Milan Kundera. Para terminar, para bem de todos desejo que tudo isto acabe o mais rápido possível, especialmente para  aqueles que estão sofrendo com a doença, com falta de trabalho e os que estão na linha da frente arriscando a vida no combate à doença.

quarta-feira, 1 de abril de 2020

O Importante


 

 

Tu, triste Farol solitário
Luz que orienta a embarcação
Porque brilhas lá no alto

Achas-te digno de adulação?

Não te iludas, triste Farol solitário
Ninguém te está a aplaudir
As gaivotas quando batem as asas

É para a água sacudir

Também, o vento não te assobia melodias
É a tua vaidade que te faz acreditar

Que o som do vento
São músicas para te cortejar


O mar não te declama poemas
O som das ondas a enrolar

É o mar, chamando os amantes e os poetas
Para os inspirar

Triste Farol solitário, presunçoso
O que ouves, essa sonoridade
É simplesmente
O eco da tua vaidade

Digo-te, triste Farol solitário
A razão da tua tristeza

Vives na ilusão
A tua alma está presa


 
És um simples Farol
Onde um dia trabalhou um faroleiro
Não te compares ao Farol de Alexandria
Que iluminava o mundo inteiro


José Adriano Gonçalves