quinta-feira, 30 de março de 2017

O Quinto Império

 
O homem vivia em grupo, ia vagueando pelas imensas terras, coletando os alimentos de que necessitava sem ter que forçar a natureza a nada que não fosse natural. Supõe-se que se alimentava de raízes, plantas e frutos que ia retirando das árvores. Com o aumento demográfico ele sentiu necessidade de se apoderar das árvores e reproduzi-las a fim de ter alimento suficiente para si e para o seu grupo. Plantou mais árvores, fez um risco no chão e passou a ser dono daquela área repartindo os alimentos segundo os seus interesses. Aquilo que deveria pertencer a toda a humanidade passou a pertencer a um só homem ou a um grupo de homens. Este é o pecado original, que deu origem à maior parte do sofrimento humano. A Bíblia regista este momento metaforicamente no episódio em que Eva e Adão, incentivados pela serpente comeram o fruto da árvore do conhecimento. O que diz esta metáfora é que, quando comeram aquele fruto que era de todos e por isso não podia ser de ninguém, cometeu-se um erro (pecado) muito grave. O comer o fruto da árvore proibida representa simbolicamente o momento em que o homem tomou conta da árvore, fez o tal risco no chão e deu início ao que hoje chamamos de propriedade privada. A partir desse momento, o homem começou a tornar-se sedentário, aconteceram os “assentamentos permanentes” que deram origem às cidades, depois aos países e por fim aos impérios. O homem apropriou-se de tudo o que era livre na natureza, aprisionou, domesticou e torturou os animais, aprisionou e tornou escravos outros homens e explorou a natureza castigando o planeta com as maiores atrocidades possíveis. A partir do momento em que o homem disse: “esta árvore é minha” o seu sentido de posse foi aumentando, tornou-se insaciável. Para obter o que julgava ter direito, fez as guerras, que ao longo dos séculos têm matado milhões e milhões de pessoas, deixou um rasto de destruição e causou um sofrimento incomensurável. Será que este percurso poderia ter sido feito de outra forma? Provavelmente não. O nosso futuro terá de ser a continuidade deste mundo de ganância em que poucos têm demais e muitos têm de menos? Viveremos num mundo onde segundo a ONU atualmente 2,4 biliões de pessoas não têm acesso a água potável, enquanto outros esbanjam os seus recursos hídricos? Em que uns morrem pela gula e outros pela fome, porque não têm um grão de cereal para comer? Poluiremos o nosso planeta de tal forma a não ser possível a existência de vida? Vamos acreditar que esse não é o nosso destino e, que o nosso futuro será o sonho do homem “poeta português” com que sonharam Camões com a criação da “Ilha dos Amores”, o Padre António Vieira e posteriormente Fernando Pessoa com a criação do “Quinto Império”. Sonharam que o “Quinto Império” seria o império português e Portugal iria ajudar a construir um império civilizacional, espiritual, de fraternidade universal a ser vivido na terra. Este “Quinto Império” promoveria a transformação e purificação da humanidade que conduziria a uma relação harmoniosa entre o homem os animais e a natureza, entre o homem e Deus. Segundo o homem “poeta português” a humanidade alcançará um grau de perfeição, entrará em comunhão com o divino, tendo acesso ao conhecimento e implantará a paz e a fraternidade no mundo. Poderemos chamar a este sonho do homem “poeta português” uma utopia, como foi uma utopia a construção do país que é Portugal, do dobrar o Cabo do Bojador, do Caminho Marítimo para a Índia e tantas outras utopias que os portugueses acabaram por tornar realidade. Hoje em dia já é fácil de constatar na sociedade portuguesa uma transformação de mentalidade e criação de um novo paradigma ambiental, ético, cultural, civilizacional e espiritual. Estejam atentos…

quarta-feira, 15 de março de 2017

Evoluindo


Segundo a Associação Vegetariana Portuguesa, em 2007 existiam em Portugal cerca de 30.000 vegetarianos. Em 2014, a Associação Portuguesa de Medicina Preventiva anunciou que esse número ascendia a cerca de 200.000. Muitos podem questionar estes números, mas, poucos contestarão a gestão comercial da McDonald’s, cuja cadeia de restaurantes em Portugal, lançou um hambúrguer vegetariano, o McVeggie, composto por quinoa e vegetais. Ninguém acredita que a maior cadeia mundial de restaurantes de fast food, iria investir num produto que não tivesse um grande número de consumidores.  Esta pequena introdução vem a propósito dos projetos de lei, que primeiramente apresentado pelo partido Pessoas Animais e Natureza (PAN) e, posteriormente pelo Bloco de Esquerda (BE) e Partido Ecologista os Verdes (PEV), torna obrigatório a inclusão de pelo menos uma opção vegetariana (que não contenha nenhum produto de origem animal) nos menus de todas as cantinas públicas e refeitórios do Estado. Esta lei, foi aprovada no parlamento na passada sexta feira com a abstenção do PSD e CDS e concordância dos restantes partidos que compõem o hemiciclo. Aguarda promulgação e a respetiva publicação em Diário da Republica. Prevê-se que entre em vigor daqui a dois meses. De salientar, que a aprovação da lei, foi pedida em petição pública por mais de 15 000 pessoas. A Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE) assegura a fiscalização e o cumprimento da lei, sendo esta a instituição à qual qualquer cidadão pode enviar uma queixa. Assim, acabará a discriminação que existia em relação às pessoas que têm uma opção de vida vegetariana. Mas, como uma boa notícia nunca vem só, esta semana foi publicado em Diário da Republica, no dia 3 de março, o novo estatuto jurídico dos animais. Esta nova lei, largamente noticiada aquando da sua promulgação pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, entra em vigor no próximo dia 1 de maio. O estatuto reconhece os animais como: “Seres vivos dotados de sensibilidade e objeto de proteção jurídica”. Esta legislação vem alterar o anterior código penal, no qual os animais eram considerados coisas. Estas novas leis, só surpreendem aqueles que não conhecem a história da evolução das leis em Portugal. O nosso país ao longo da sua história tem estado na vanguarda das leis que acabaram com muitas injustiças e desigualdades sociais. Vou mencionar apenas algumas das que considero mais importantes: Portugal foi o primeiro país no mundo a inscrever na Constituição a abolição da pena de morte.  Já, em 1761 Portugal tinha sido o primeiro país a abolir a escravatura, embora de forma restrita, pois só abrangia o território Continental e a Índia. Em 1869, foi aprovada a abolição completa da escravidão no império português. Em 1867, primeiro código civil, começou em Portugal a evolução dos direitos das mulheres. Em 1889, Portugal já tinha uma mulher médica e, em 1890 é autorizado o acesso das mulheres aos liceus públicos. Mais recentemente, o ordenamento jurídico português consagra, em sede de lei Constitucional, Direitos Fundamentais dos Cidadãos com Deficiência. Esta lei consagra às pessoas portadoras de deficiência o direito social, designadamente o direito à subsistência condigna. Também possuímos uma lei de bases do ambiente, bastante ambiciosa, que defende o direito dos cidadãos a terem um ambiente humano e ecologicamente equilibrado. Portugal, subscreve na íntegra a declaração sobre os direitos das pessoas pertencentes a minorias Nacionais ou Étnicas, Religiosas e Linguísticas. Muitas destas leis que têm sido fundamentais para a evolução da nossa sociedade, provêm de propostas de pequenos partidos, ações individuais e movimentos de cidadania. Dai, a importância de não criarmos bipolarização politica, dispersarmos os votos, darmos oportunidade às várias correntes de pensamento e, criarmos sinergias que contribuam para uma sociedade mais equilibrada e solidária.