segunda-feira, 21 de junho de 2010

Uma estranha tristeza

Uma estranha tristeza. Morreu Saramago, mas não partiu só, pois como ele uma vez disse “ Quando eu me for deste mundo, partirão duas pessoas. Sairei, de mão dada, com essa criança que sempre fui” .
Foi uma pessoa por quem nunca nutri simpatia. Talvez pelo seu semblante tristonho, pelas suas opções politicas ou pela forma agressiva (digo eu) que exprimia as suas opiniões.
Mas ao saber da sua morte, senti uma tristeza, um sentimento que eu não sei bem explicar. É o único prémio Nobel da língua portuguesa, é português, já vendeu mais de 10milhões de livros pelo mundo inteiro, e se não existissem outras razões, acho que estas deveriam ser suficientes para que eu tivesse alguma admiração por ele. Nem que fosse uma divida de gratidão pela projecção que ele deu à língua portuguesa.
Além do mais, ao ver, ouvir, e ler as suas entrevistas, revejo-me em muitas das suas opiniões. Frases como “ Nós somos manipulados e enganados desde que nascemos” e usando os exemplos de violência ocorrida na Índia, Israel e outros Países, supostamente por motivos religiosos expressou a sua ideia de que “ as religiões, todas elas sem excepção, nunca serviram para aproximar e congraçar os homens, mas pelo contrário, foram e continuam a ser a causa de sofrimentos inenarráveis, de morticínios, de monstruosas violências físicas e espirituais” o facto de ser uma pessoa de rotura com o sistema, desde a sua forma de escrever até a sua forma de pensar e (provocar) nas pessoas novas formas de pensar, são factos em que eu me revejo. Por esta e muitas outras razões, não compreendo o meu distanciamento desta personalidade.
Um dos meus passatempos favoritos é ler, e nunca li um livro do Saramago. O primeiro livro que comprei do Saramago foi O Evangelho Segundo Jesus Cristo, comecei a ler, fiquei pelo terceiro capitulo e ofereci o livro. Depois comprei o Ensaio sobre a cegueira, fiquei mais ou menos pelo mesmo numero páginas e ofereci o livro. As minhas filhas ofereceram-me A Viagem do Elefante, mas também não li. Acho que um dia destes vou ler, A viagem do Elefante e depois irei comprar o Memorial do Convento, pois é um livro que me desperta muita curiosidade.
Mas há uma coisa que o Saramago não disse, é que ele assim como os religiosos defendia uma ideologia (politica) e a ideologia que ele defendia e outras, também nunca serviram para congraçar os homens e também foram causas de muitos sofrimentos.
Se formos contabilizar o sofrimento e as mortes causadas pelas religiões, começando pelas cruzadas, passando pela inquisição e indo até aos dias de hoje. Penso que não ficam nada a dever ao sofrimento e mortes causadas pelas ideologias politicas com as revoluções comunistas, socialistas, fascistas, etc. Não sei quais das duas maior sofrimento e mortes causou e ainda causa.
De qualquer forma, a estranha tristeza que senti, acho que tem a ver com o facto de nunca ter conseguido separar a opinião que fabriquei sobre a sua pessoa e a obra que sempre me recusei a ler.
A terminar, resta lembrar, que os fanatismos não são bons para nenhuma sociedade. Vivemos em sociedade, mas cada pessoa deve pensar sempre por si e nunca ser um seguidor cego de qualquer ideologia, seja ela qual for. Podemos votar em pessoas e não em partidos, podemos acreditar em Deus e não nas religiões, podemos ver futebol sem sermos facciosos, etc. É difícil? Eu acho que não. Eu experimentei ser assim e estou a dar-me muito bem.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Cromos - uma colecção e uma lição




Quando eu era miúdo coleccionava cromos (estampas coloridas) com jogadores de futebol. Eram rebuçados (balas) de açúcar que traziam embrulhados as fotos dos craques com um número no verso. Depois comprava uma caderneta e começava a cola-los nos respectivos números (como não tinha cola, fazia uma mistura de farinha com água), só que em milhares de cromos havia um que era único, não era repetido, esse era conhecido pelo premiado. Sem ele não se completava a caderneta que daria uma bola de futebol em cautchouc (coisa fina para a altura). Durante a minha infância e tal como milhares de miúdos coleccionei cadernetas incompletas, pois faltava sempre o premiado.
Com as colecções de cromos, além dos nomes dos jogadores, também aprendi a negociar. Por vezes tinha que dar muitos cromos em troca de um e vice-versa. Ajudou-me na criatividade, e foram as minhas primeiras lições sobre organização (que acabei por nunca aplicar, sou desorganizado por natureza). Mas a grande lição foi com o premiado que nunca vinha parar ás minhas mãos. Através dele, fiquei a saber que há coisas na vida que temos que “lutar” muito para obter e mesmo quando damos o nosso máximo não conseguimos. Mas também aprendi que vale a pena lutar, e que quando termina uma colecção mesmo incompleta, aparecerá outra, para tentarmos completar. Fazendo uma analogia com a minha vida, ainda hoje continuo a fechar cadernetas incompletas, embora já me tenham saído alguns premiados (onde coloco os meus filhos), mas em muitas situações ainda procuro premiados, pois há cadernetas da minha vida que estão incompletas. Mas sei que, com a lição que aprendi com os cromos, até o último dia da minha vida, não deixarei de tentar completa-las.
Continuando a divagar:
Na Terça-feira fui buscar o meu filho à escola (infelizmente um acontecimento raro) e deparei-me com um enorme alvoroço. Da sala do meu filho não saía nenhum aluno. Estavam vários pais à porta da sala num autentico burburinho.
No Pátio os alunos estavam todos organizados em Grupos, havia alguns empurrões, faziam um ruído e uns movimentos que fazia lembrar uma feira. Após algum tempo, fiquei a saber que os alunos da sala do meu filho não podiam sair, porque um aluno tinha-se apropriado indevidamente dos cromos de um colega. A agitação no Pátio, era devido à troca de cromos de jogadores de Futebol. As conversas eram todas à voltas dos jogadores, Já tens o Messi? E o Ronaldo? Queres trocar?
Quem diria que estes putos, os tais da playstation portátil, game boy, phonescoop e outros avanços tecnológicos, andavam seduzidos pelos pedacinhos de papel com fotografias de jogadores de futebol, tal qual os miúdos há 40 ou talvez 50 anos atrás. Afinal eles não são diferentes! UFF que alivio.
Deram-lhe uns cromos e a mão que segurava a tecnologia passou logo a segurar uma simples caderneta.
Os cromos já não trazem o doce de açúcar, o que é muito bom para a saúde. Também já não é preciso cola , pois são auto-colantes, não há o premiado, nem prémio para quem completa a caderneta, mas o entusiasmo é o mesmo.
Espero que expliquem aos miúdos que uma colecção de cromos, além do respectivo divertimento, tem outros atributos, que podem ser úteis.
Quando eles não conseguirem os cromos que pretendem, não os deixem desistir da colecção, e digam-lhes o que estão aprendendo com isso. Eles precisam de ter sempre uma forma positiva de ver qualquer situação , por muito ruim que ela seja.
Vendo bem as coisas, tanto podemos dizer que as rosas têm espinhos, como podemos dizer que os espinhos Têm rosas.

segunda-feira, 7 de junho de 2010



Comprei o áudio livro do principezinho. Comprei com o pretexto de oferecer ao meu filho, mas claro que já sabia que a oferta ia ser mais para mim do que para ele. Afinal o fã desta história sou eu, e não ele. Não vou falar sobre o livro, pois já o fiz num artigo deste blogue. O áudio livro narrado e interpretado por Pedro Granger está muito bom. Quem gosta da história deve comprar, pois vai ficar maravilhado com a forma como o livro é lido, e quem não gosta da história também deve comprar, pois vai passar a gostar. Eu poucas vezes li histórias para os meus filhos, quem o faz normalmente é a mãe deles, mas ao ouvir esta história via áudio, fiquei a saber duas coisas: Uma, é que ouvir alguém ler uma história é muito bom, a outra é que nunca alguém tinha lido uma história para mim. Sinceramente nunca tinha pensado nisso. Mas ao ouvir esta história, fiquei tal qual um miúdo, ia ouvindo e imaginando, imaginava o Rei,um rei gordo eheheh, como seria o vaidoso, o acendedor de candeeiros, as expressões do principezinho quando ouvia a lição da raposa. Foi assim que tive uma nova sensação,e descobri que nunca alguém tinha lido uma história para mim.
Nota.: A todos como eu, que nunca tiveram alguém que lhes lesse uma história, peçam a alguém que lhes leia, pois vale a pena. Se não houver alguém para ler, já sabem, compram um áudio livro, sentam-se confortavelmente num sofá, vão ouvindo e deixando a imaginação fluir.( é mil vezes melhor que ver um jogo de futebol na televisão e nem é preciso beber cerveja e comer amendoim. eheheheh)