sexta-feira, 4 de dezembro de 2020

O Negacionismo

O termo negacionismo começou a ser utilizado no século XX, relacionado com situações históricas e questões científicas. Podemos entender o negacionismo como uma estratégia para negar uma realidade que é desconfortável ou simplesmente como a negação de uma verdade comprovada. A primeira grande corrente negacionista aparece após a II grande guerra com negação da existência do holocausto. Perante todos os registos cinematográficos, fotográficos e testemunhos dos intervenientes, os negacionistas afirmavam que era tudo uma invenção dos judeus. Apareceu o movimento que negava a ida do homem à Lua, afirmando que as imagens que víamos eram manipulações. Tivemos os negacionistas do HIV. Em pelo século XXI ainda existem os terraplanistas, gente que não acredita que a terra é redonda, acreditam que a terra é plana. Apareceram os negacionistas climáticos, um grande grupo que nega que as alterações climáticas são consequência da atividade humana, defendem que desde que o planeta existe houve este tipo de alterações e sempre vai continuar a haver. Também temos os negacionistas das vacinas, e só para dar o exemplo de dois casos: a varíola que provocou cerca de 500 milhões de mortes e cuja vacina acabou por erradicar o vírus da face da Terra, ou a poliomielite que colocou milhares de crianças e adultos paralíticos e que a respetiva vacina erradicou a doença quase completamente, mas o movimento negacionista continua a negar o efeito positivo das vacinas. Atualmente o negacionismo prolifera com grande intensidade devido aos meios tecnológicos de difusão e reunião onde com facilidade se formam comunidades com o mesmo tipo de perceção. Das várias estratégias utilizadas pelos negacionistas cito duas: A Teoria da Conspiração, onde é colocada em causa o consenso científico argumentando que os cientistas, os governos e as empresas estão em redor de uma conspiração complexa escondendo a verdade às pessoas e o Falso Especialista, que é uma pessoa que se comporta como se fosse um expert na matéria, pode até ter formação na área, mas não tem relevância nenhuma na mesma, essa pessoa tenta destruir a reputação dos especialistas que são referência mundial na causa em questão. Na defesa do seu argumento o negacionista utiliza o que a psicologia chama de “projeção” projeta nos outros aquilo que ele é, sendo manipulado diz que as outras pessoas é que estão sendo manipuladas e ele não, porque pensa pela própria cabeça. A psicanálise explica a negação como uma reação ao medo de sofrer, perder algo que se estima muito, poder ficar doente, perder privilégios etc. O ser humano gosta de se sentir seguro e quando vê uma brecha no seu nível de segurança mesmo que inconscientemente reage com a negação e quanto mais medo a pessoa tem mais nega o facto perturbador existente. Agora temos os negacionistas da perigosidade do COViD, a vacina que vai conter microchips que recebem sinais 5G e as máscaras que não protegem. Mas atenção, a desinformação cria o negacionismo nos incautos e os extremistas têm aproveitado muito bem esse fator para projetarem os seus ideais e desacreditar a democracia.

sexta-feira, 23 de outubro de 2020

E se for Verdade

E se for verdade que existe reencarnação, que existe uma lei do karma que estabelece que todo o bem ou mal que tenhamos feito irá trazer consequências boas ou más nesta vida ou nas próximas existências? Se tudo isto fosse comprovado cientificamente mudaríamos a nossa forma de agir? Se soubéssemos que quem viria depois de nós seriamos nós mesmos, qual seria a nossa postura? Ian Stevenson foi um cientista que na Universidade de Virgínia criou uma equipa de trabalho com médicos e psicólogos para estudar a reencarnação. Com um método, o mais científico possível, analisou a veracidade do que certas crianças contavam descrevendo a vivência de uma vida anterior num sítio completamente diferente e aparentemente impossível de terem conhecimento. Eram analisadas todas as possibilidades das crianças em questão terem tido conhecimento do que contavam através de familiares, filmes que tivessem visto, livros que pudessem ter lido ou se inclusivamente havia imigrantes na zona. Desde que houvesse alguma relação das narrativas com os itens analisados o caso era logo abandonado, em caso contrário davam continuidade ao estudo deslocando-se ao local onde a criança dizia ter vivido, investigando se teria havido nesse local alguém com as caraterísticas que a criança mencionava e se com essa pessoa teria acontecido o que a criança narrava. Neste estudo com mais de 40 anos de investigação foram analisados em diversas partes do mundo mais de 3000 casos e em 68% encontraram uma conexão com a história relatada. Estes dados são suficientes para afirmarmos que existe uma outra vida após a morte? É claro que não. As pessoas precisam de uma comprovação científica para tudo. O facto deste tipo de estudo não poder ser comprovado e replicado em laboratório faz com que não tenha uma aceitação científica. Na sua obra Critica da Razão Pura, Kant diz:” existem coisas que nem a razão nem a experiência podem conhecer. Uma delas é Deus”, mas é intrínseco do Homem a investigação da causalidade, foi isso que levou Aristóteles a criar o quadrado lógico ou tábua das oposições, onde estabeleceu regras para um entendimento lógico de tudo o que existe. Baseado na lógica aristotélica, São Tomás de Aquino cria as 5 vias onde prova racionalmente a existência de Deus. A ciência não consegue provar que existe vida após a morte, mas também não consegue provar que não existe. Eu não convivo com a visão de que sou apenas um aglomerado de octiliões de átomos e trilhões de células, preciso de algo mais transcendental para dar um sentido à vida. Eu não procuro a verdade, pois como dizia Agostinho da Silva: “quem tem a verdade num bolso, tem sempre uma inquisição do outro lado pronto para atacar alguém”, prefiro o questionamento filosófico. Assim como Santo Agostinho adaptou o pensamento de Platão aos preceitos da Igreja, eu busco na filosofia a arte do conhecimento que coloca em questão o próprio conhecimento e que me ajuda a ter um pensamento muito próprio. Termino com duas citações: Dostoievski no seu romance Os Irmãos Karamazov: “Se Deus não existe tudo é possível?” e Álvaro de Campos no seu poema Tabacaria: “Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?”

sexta-feira, 2 de outubro de 2020

Dr. Fausto

O nome Fausto está ligado a algumas das grandes obras literárias, musicais e de pintura. Consta que Fausto era uma pessoa sedenta de conhecimento o que o levou a estudar medicina, alquimia, astrologia e magia. Também se diz que tinha os dons da adivinhação e charlatinice, qualidades estas que fizeram dele um homem muito rico. Fausto era alemão e tornou-se muito conhecido ao percorrer várias localidades da Alemanha fazendo curas e prevendo o futuro. Von D Johann Faosten (Fausto) viveu entre 1480 e 1540 na transição da idade média para a idade moderna, período onde grassava o misticismo. Os seus prodígios e o facto de Fausto não ser um homem temente a Deus, ajudou na criação da lenda de ter vendido a alma a Mefistófeles (diabo) a troco dos poderes sobrenaturais que dispunha. A lenda de Fausto atinge o seu apogeu e uma dimensão mundial na obra” Dr. Fausto” do grande poeta e escritor alemão Goethe. Mais tarde, Thomas Mann prémio nobel da literatura escreveu uma das suas maiores obras “Dr. Fausto” sobre o mesmo tema. Nesta obra, Thomas Mann conta a história de um individuo que faz um pacto com o diabo para conseguir com a sua ajuda cumprir todos os seus desejos, em troca, o diabo proíbe essa personagem de amar. Este romance que começou a ser escrito em 1943 e foi publicado em 1947, é uma analogia ao povo alemão que fez um pacto com Hitler (diabo) ficando incapaz de amar (amor cristão) em troca do domínio do mundo e criação de uma raça pura. Mas o que será que leva tantos escritores a se dedicarem a esta barganha Faustiana de “Vender a alma ao diabo”. Provavelmente é o paradoxo humano de trocar o bem pelo mal. A obra continua atual, pois os pactários que negoceiam o seu caráter numa busca egoísta pelo dinheiro e fama proliferam cada vez mais na nossa sociedade. A frase “vão-se os anéis, mas ficam os dedos” para muitos deixou de fazer sentido, parece preferirem perder os dedos, mas ficar com os anéis. O conceito de uma vida após a morte, a conquista do paraíso, do céu ou a infelicidade do inferno, não faz parte da sociedade atual, o futuro passou a ser simplesmente o agora (Carpe diem). Então como viver no pouco tempo de vida que temos? Criou-se a ideia de consumo fácil e rápido e de que quanto mais se consumir mais felizes seremos. Este tipo de felicidade tem criado uma sociedade depressiva. O hedonismo regressou em força, esta filosofia que coloca o prazer como o bem supremo da vida está de volta, não o hedonismo mais moderado de Epicuro, mas o mais radical, o do seu fundador Aristipo. Para contrariar estes excessos está a emergir, ainda que de forma envergonhada, o Minimalismo uma opção de vida que sem prescindir de uma boa qualidade de vida e conforto incentiva as pessoas a se libertarem dos excessos, abdicar de bens materiais que não têm um propósito, colocando a sustentabilidade no centro das nossas vidas. Não deixemos um rasto de destruição e dor na busca egoísta de uma suposta felicidade, até porque a velha pergunta filosófica: A felicidade existe? Nunca teve uma resposta concreta. Não vale a pena vender a alma ao diabo.

quarta-feira, 9 de setembro de 2020

A Alimentação

Que tempos são estes em que temos que defender o óbvio?” quando uma cidade em cada quarteirão tem uma farmácia é um sinal inequívoco de que a sua população está doente. Provavelmente a primeira causa desta situação são as opções alimentares, sendo que são vários os fatores que determinam as essas opções. Alguns fatores mais referenciados e relativamente aos jovens são: o ambiente familiar, tendências sociais, publicidade de alimentos e influência dos colegas. Mas num mundo em que em cada 4 segundos morre uma pessoa de fome, para muita gente essas influências e opções alimentares não existem, o objetivo é tentar sobreviver. Por isso, quando falamos de opções alimentares falamos para pessoas com acesso a informação, educação e com alguns recursos financeiros, pois a falta de dinheiro também condiciona essas opções. Comer é um ato básico essencial das nossas vidas, mas deveria merecer uma reflexão que fosse além do aspeto nutricional. Pensar no efeito ambiental que tem aquilo que comemos. A pecuária intensiva é responsável por 14,5 % dos gases estufa, ou seja, polui mais que todos os carros, navios e aviões que se deslocam pelo mundo. Esta indústria é também responsável por grande parte da desflorestação, destruição de ecossistemas naturais, perda da Biodiversidade e consumo excessivo de água potável. Efetivamente uma das saídas para este problema é o vegetarianismo ambiental. Mas isto não significa que só quem come carne é que contribui para a maior fonte de poluição do mundo. Uma pessoa que se alimente de sistemas integrados de produção animal e vegetal de origem biológica e local, pode poluir menos que um vegetariano que consome alimentos naturais provenientes de uma outra parte do mundo daquela onde vive, com imensa pegada de carbono e por vezes exploração humana. É importante ter em consideração a proveniência dos alimentos, consumir de preferência produtos locais e evitar desperdícios. As nossas opções alimentares também devem merecer uma reflexão sobre os princípios éticos, o que comemos não deveria ter uma proveniência do sofrimento animal ou exploração humana. Nós sabemos e podemos constatar no dia a dia que os animais vivenciam sentimentos como a dor, solidão, alegria, tristeza, carinho, raiva entre outros sentimentos que são comuns aos seres humanos. Também sabemos que os sentimentos dos animais, não são só dos cães e dos gatos, as vacas, os porcos e os outros animais também os manifestam. Também sabemos que muitos alimentos proveem de grandes latifúndios onde grassa a exploração humana e onde são utilizadas grandes concentrações de produtos químicos. Para quem tem alguma informação e alguma disponibilidade financeira comer é um ato de responsabilidade nutricional, económica, social, ecológica e ética. Nós somos seres espirituais a fazer uma caminhada evolutiva e o respeito pelos outros seres humanos, pelos animais e pela natureza são alguns dos aspetos evolutivos dessa caminhada. Viver é estar em permanente reflexão sobre os nossos comportamentos.

sexta-feira, 3 de julho de 2020

O legado que deixamos


Uma dissertação feita por um conhecido filósofo brasileiro, sobre o percurso de vida de um ser humano e o legado que deixa para as gerações vindouras, serviu de mote para este artigo. Nessa oratória o filósofo cita dados fornecidos pela Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação, onde a média de consumo diário de sólidos, líquidos e gasosos por parte do um ser humano que é de 1,5Kg. Fazendo algumas contas, quem tiver o privilégio de viver o que a estatística diz sobre a esperança de vida em Portugal, consumirá durante a sua vida cerca de 45 toneladas sólidos, líquidos e gasosos, mas, como o ser humano também é um animal excretor, após a sua morte deixará atrás de si cerca de 45 toneladas de excrementos. A questão que se coloca é: além do consumo de recursos do planeta e das imensas toneladas de excrementos que depositamos, o que é que fizemos de útil durante o nosso tempo de vida? Ou será que a nossa vida foi fútil, banal e inútil. Qual é o sentido da vida? Poderá ser simplesmente aperfeiçoarmos mecanismos de sobrevivência, vivendo da melhor forma possível, mas isso é o que também fazem os chamados animais irracionais. O Ser Humano teve a sorte, ou o azar, de possuir algo a que chamamos de consciência e devido a isso, só sobreviver vivendo bem sem olhar a meios, não chega. A nossa mente acaba sempre por nos questionar sobre a razão por que existimos. Embora a nossa existência seja involuntária, simplesmente existimos, pois, a mesma dependeu mais da vontade dos nossos progenitores do que de nós, algo nos impele a escolher um propósito que dê um significado a essa existência. Podemos pensar que a vida é uma festa e que estamos cá só para nos divertirmos, que tudo acaba com a nossa morte e, como dizia o antigo slogan a vida é: “sexo, drogas e rock and rol”. Também podemos acreditar, na reencarnação, na ressurreição, acreditar que a vida é uma escola para o nosso desenvolvimento espiritual, que é se relacionar com a realidade de acordo com o que a realidade é, que é ajudar o mundo à nossa volta, desejar a felicidade do outro e sentir que a felicidade do outro é importante para nós. O sentido da vida é um campo muito vasto a explorar, as religiões, correntes filosóficas e políticas, grupos ateístas, dão várias perspetivas sobre o assunto e arrastam multidões para os seus objetivos coletivos. Há quem acredite que o objetivo da vida é a felicidade e que essa felicidade não é encontrada em bens materiais, nem nas outras pessoas, depende única e exclusivamente de um bem-estar interior e de uma ligação do nosso interior à energia criadora de tudo o que existe. Muitos são aqueles que têm contribuído para a existência de um mundo melhor, seja através de descobertas científicas, ou simplesmente prestando auxílio a alguém que precise de ajuda. Independentemente daquilo em que se acredite o importante é que a nossa passagem por este planeta não tenha só servido para consumir alguns dos seus recursos e depositar algumas toneladas de excrementos.

sábado, 13 de junho de 2020

Mudança


Por vezes contar uma história onde conste exemplos do que queremos transmitir, é uma boa estratégia para nos fazermos entender. Já Jesus falava muitas vezes por parábolas e, quando um seu discípulo lhe perguntou porque falava daquela forma, Jesus respondeu: “falo assim para aqueles que vendo, não veem e ouvindo, não ouvem nem entendem”. Existem muitas histórias que transmitem de uma forma mais compreensível algumas condutas importantes para um relacionamento mais harmonioso, saudável e humanista de vivência em sociedade. Como vou escrever sobre a mudança de comportamento, conto resumidamente uma história passada com Buda, que mostra de uma forma simples aquilo que eu quero dizer: Estava Buda a meditar com os seus amigos, quando se acercou dele um homem muito irado e cuspiu-lhe na cara. Buda olhou serenamente para o homem com compaixão e o homem irado depois de lhe dirigir alguns impropérios retirou-se. Nessa noite o homem não dormiu com remorsos da sua atitude. No dia seguinte foi ao lugar onde Buda meditava, chegou-se junto dele e pediu-lhe perdão. Buda respondeu-lhe: Eu não te posso perdoar, tu não me fizeste mal nenhum. O homem então disse: Não se lembra de mim? Eu ontem estive aqui e cuspi-lhe na cara. Buda olhou o homem e respondeu: O homem que esteve aqui ontem, não é o que está aqui hoje, mas se um dia encontrar o homem que esteve aqui ontem, então perdoo-lhe. Esta história ensina-nos que uma pessoa pode mudar e quando muda, a pessoa que existia anteriormente deixa de existir. A maioria das pessoas não está preparada para aceitar uma mudança de um qualquer membro do grupo, então reage negativamente. Ao contrário do Buda da história, a sociedade não reconhece o novo homem e relembra constantemente ao dissidente o seu passado na sua antiga personagem, faz parte da estratégia, não convém que alguém altere o percurso que lhe está destinado. Hoje assistimos a um movimento crescente que procura alterar os seus comportamentos, são indivíduos que se preocupam com o futuro, não com o seu futuro, mas com o futuro na humanidade. São pessoas que trocam a religiosidade pela espiritualidade, que procuram harmonia entre o corpo, mente e espírito, sabendo que isso só é possível vivendo em harmonia e respeito com a natureza. Desde que nascemos começamos a ser programados para viver segundo as regras que beneficiam um determinado sistema. Somos treinados para replicarmos o que aprendemos, incentivados a preencher o lugar onde somos necessários e não aquele que desejamos, a máquina tem de produzir sempre e cada vez mais. Aquele que pensa por si próprio é perigoso e não é útil à engrenagem. Devemos ocupar o dia inteiro nos estudos e mais tarde no trabalho, comprar coisas caras a crédito que levaremos uma vida inteira a trabalhar muito para as pagar. O ideal, é chegarmos a casa cansados para dormir e não termos tempo para pensar. Um bem-haja a todos aqueles que tentam ser melhores, mesmo que ninguém veja a nova pessoa em que se tornaram e sejam apenas relembrados pelo que eram anteriormente.

terça-feira, 14 de abril de 2020

A Vacina


Nós já temos a vacina. Segundo um excelente artigo da jornalista Carla Tomás no semanário“Expresso”, as diversas epidemias só nas últimas duas décadas: a SARS (2002) a MERS (2012) e agora a SARS CoV-2 causadora do COVID19, a gripe da aves (2005) e a gripe suína (2009) conhecida por gripe A, são todas de origem animal  - morcegos, macacos, camelos, porcos ou galinhas. No mesmo artigo e fazendo referência a um investigador de renome, refere que excetuando o vírus causador da varíola, que parece ser exclusivamente humano e que por essa razão foi possível eliminá-lo, doenças como o sarampo, varicela e as gripes resultam do manuseamento de animais. Assim sendo, já temos a vacina, é abandonarmos a criação intensiva de animais, consumirmos moderadamente produtos de origem animal e deixar de destruir ecossistemas. A natureza continua a enviar avisos e como diz o ditado: “Quem me avisa meu amigo é”. A natureza também tem a sua bomba atómica e não precisa de um Enola Gay para a transportar. Entretanto vai sair a Super Vacina e mais uma série de vacinas para proteger o humano, porque a destruição e o consumismo exacerbado têm de continuar, os recordes da revista Forbes têm de continuar a ser batidos, em 2019, Jeff Bezos de 55anos, dono da Amazon teve a sua fortuna avaliada em 131 biliões de dólares. Para quem está em confinamento este é o momento ideal para uma introspeção e uma reflexão a nível de todos os aspetos que regulam a vida. Para quem gosta de leitura este é o momento ideal para ler ou reler alguns dos clássicos que abordam o comportamento humano e concomitantemente aumentar o seu pecúlio cultural. Gosto da definição de cultura de Matthew Arnold, poeta inglês:” É a busca da nossa perfeição total, mediante a tentativa de conhecer o melhor possível o que foi dito ou pensado, em todas as questões que nos dizem respeito”. Mas a leitura é também o que Margerite Yourcenar escreve na sua obra de arte que é o romance histórico, Memórias de Adriano:” A palavra escrita ensinou-me a escutar a voz humana, como as grandes atitudes imoveis das estátuas me ensinaram a apreciar os gestos. Em contrapartida, e posteriormente, a vida, fez-me compreender os livros”. As minhas sugestões vão para: Os Miseráveis de Victor Hugo, em relação a esta obra o Escritor Vargas Llosa num ensaio sobre a mesma, escreveu: “É uma das obras de literatura que mais fizeram homens e mulheres de todas as línguas e culturas, desejarem um mundo mais justo, mais racional e mais belo do aquele em que viviam”. Os Irmãos Kamarazov de Dostoievki que num posfácio a este romance Sigmund Freud diz: “Os Irmãos Kamarazov é o romance mais magistral que alguma vez se escreveu e nunca seremos capazes de apreciar de verdade o episodio do Grande Inquisidor”. Grandes Esperanças de Charles Dickens é outro dos grandes romances. Colocaria ainda nesta lista de leitura de reflexão: A Servidão Humana de Somerset Maugham e a Insustentável leveza do SER de Milan Kundera. Para terminar, para bem de todos desejo que tudo isto acabe o mais rápido possível, especialmente para  aqueles que estão sofrendo com a doença, com falta de trabalho e os que estão na linha da frente arriscando a vida no combate à doença.

quarta-feira, 1 de abril de 2020

O Importante


 

 

Tu, triste Farol solitário
Luz que orienta a embarcação
Porque brilhas lá no alto

Achas-te digno de adulação?

Não te iludas, triste Farol solitário
Ninguém te está a aplaudir
As gaivotas quando batem as asas

É para a água sacudir

Também, o vento não te assobia melodias
É a tua vaidade que te faz acreditar

Que o som do vento
São músicas para te cortejar


O mar não te declama poemas
O som das ondas a enrolar

É o mar, chamando os amantes e os poetas
Para os inspirar

Triste Farol solitário, presunçoso
O que ouves, essa sonoridade
É simplesmente
O eco da tua vaidade

Digo-te, triste Farol solitário
A razão da tua tristeza

Vives na ilusão
A tua alma está presa


 
És um simples Farol
Onde um dia trabalhou um faroleiro
Não te compares ao Farol de Alexandria
Que iluminava o mundo inteiro


José Adriano Gonçalves

sexta-feira, 20 de março de 2020

A Pedra



Existem pedras históricas como a pedra com que David matou Golias, pedras da banda desenhada como o Menir que Obelix transportava, pedras reprodutoras como a pedra parideira, pedras de ensino como a pedra de ardósia em que aprendi a escrever as primeiras letras, pedras da literatura como a de Saint Exupéry: “a pedra não tem outro objetivo que não seja ser pedra. Mas, ao colaborar, ela congrega-se e torna-se templo”. Existem um sem número de pedras cada uma com a sua história. Mas há uma pedra especial a mais importante de todas, a Pedra Filosofal. Os alquimistas da idade média sonhavam com a Panaceia e a descoberta da Pedra Filosofal, que segundo a alquimia permitiria transformar vis metais em ouro. A partir do século XVI, os alquimistas aparentemente deixaram de querer transformar metais vulgares em ouro e dedicaram-se à fabricação de medicamentos, fazendo uma ligação entre a química e a medicina, mas o sonho ficou. António Gedeão começa o seu extenso poema “A Pedra Filosofal” dizendo que: “O sonho é uma constante da vida tão concreta e definida como outra coisa qualquer” e acaba o poema com: “Sempre que o homem sonha o mundo pula e avança como uma bola colorida nas mãos de uma criança”. Para o poeta a Pedra Filosofal é o sonho que fez o homem avançar, o tal sonho que levou o homem para a aventura marítima e para a aventura no espaço que culminou no desembarque na superfície lunar. A Pedra Filosofal é uma energia transformadora com capacidade de transformar o Mundo. A sua função não é transformar o reles metal em ouro, isso foi um equívoco, mas sim, transformar o reles humano em bom humano, o ódio em amor, o caos em harmonia. A Pedra filosofal foi a energia que transformou a Idade média (idade das trevas) no renascimento com o seu humanismo e posteriormente com o iluminismo, dando início aos avanços culturais, sociais e tecnológicos que usufruímos nos dias de hoje. A Pedra Filosofal é o que Jesus explicou a Nicodemos, para atingirmos a perfeição “é necessário nascermos de novo”. A época do Renascimento foi um nascer de novo para a humanidade, uma nova forma de sentir e agir no mundo. Essa etapa está concluída, já cumpriu a sua missão. A Pedra Filosofal existe (estejamos atentos aos sinais) e a humanidade vai voltar a nascer de novo, vem aí uma nova era. Surgirá um novo caminho, um novo ciclo de consciência, a compreensão de que somos fundamentalmente energia, mudaremos a nossa base energética e aprenderemos a utilizar a nossa energia de uma forma altruísta. Aproxima-se a era da harmonia. Harmonia ecológica, harmonia entre todos os seres, harmonia entre corpo, mente e espirito.Uma das definições de pedra filosofal é:“Coisa muito desejada, mas impossível de atingir”. Podemos dizer o mesmo da utopia, mas E. Galeano explica “A utopia está lá no horizonte…. Por mais que caminhe nunca a alcançarei. Para que serve a utopia? serve para isso mesmo, para que eu não deixe de caminhar”. Para mim, a Pedra Filosofal também serve para que nunca deixe de sonhar.

terça-feira, 18 de fevereiro de 2020

O Mistério



Falar sobre o mistério da criação e a origem do universo é uma grande ousadia. A curiosidade sobre o início de tudo e a razão da nossa existência é ancestral. É claro que são perguntas irrespondíveis, embora religiosos e cientistas teimem em dar respostas. O clérigo do alto do púlpito e de bíblia na mão, brota sapiência explicando aos fiéis como Deus criou o mundo em seis dias: “No princípio Deus criou o céu e a terra, depois criou a luz e viu que a luz era boa e separou a luz das trevas e chamou dia à luz e à noite trevas”. Fala de como se processou a criação até ao final do sexto dia e também diz que ao sétimo dia Deus descansou. Desse púlpito ecoam longos sermões, onde se explica o que é que o criador pretende da criatura e também se fala do fim do mundo, onde haverá um julgamento em que os bons herdarão uma vida eterna plena de felicidade e os maus serão deitados num lago que arde com fogo e enxofre. O cientista tão bom palestrante como o clérigo, embora sem bíblia, mas com PowerPoint, emana a sua sabedoria pelos auditórios. Para ele, o universo em vez dos seis dias do clérigo, levou biliões de anos a ser criado. Há 13,7 biliões de anos existia um ponto com uma concentração inimaginável de energia, esse ponto explodiu (Big Bang) e deu origem ao universo. Formaram-se as galáxias, as estrelas, os planetas e as luas. O nosso planeta teve origem há cerca de 4,6 biliões de anos. Nele surgiram as moléculas precursoras da vida que se desenvolveram no fundo mar em regiões de água aquecida pela lava de erupções vulcânicas. Ao longo de milhões de anos essas moléculas foram-se desenvolvendo transformaram-se em células e deram origem às várias formas de vida que hoje conhecemos. Umas ficaram no mar e nasceram-lhes barbatanas, outras decidiram voar e nasceram asas, a quem quis ficar pela terra apareceram pernas. Ao contrário do clérigo, para o cientista não haverá final feliz para quem é bom, a galáxia onde vivemos chamada Via láctea, daqui a 4,5 milhões de anos desaparecerá ao colidir com outra galáxia chamada de Andrómeda. Como dizia Ariano Suassuna “é preciso de ter mais fé para acreditar na história das moléculas do que para acreditar na de Adão e Eva”. É claro que clérigos e cientistas não sabem nada sobre como tudo aconteceu e a razão porque existimos. Os cientistas não dizem como é que se criou essa bola que depois explodiu, nem os clérigos dizem o que é que Deus fazia antes de criar o Universo. Também temos a teoria evolucionista que diz que o homem, os chimpanzés e gorilas proveem de um antepassado comum que viveu há mais de seis milhões de anos em algum lugar da Africa. A diferença intelectual do humano para qualquer outra espécie é abismal, e citando novamente Ariano “eu nem falo na Nona Sifónia nem na Divina Comédia para não ofender os animais”. Não simpatizo com religiões, mas acredito na espiritualidade. Viver sem Deus para mim seria insuportável. Existem fenómenos paranormais como caso de reencarnação das irmãs gêmeas Pollock, estudados pela ciência, e outras situações que me fazem acreditar que somos muito mais que um simples aglomerado de átomos.