sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

Reflexão

Como é que posso controlar os meus pensamentos se eles são criados pelo cérebro e se é o cérebro quem tudo controla. Ou seja, se eu digo que tenho de controlar as minhas emoções, esse eu a que me refiro é o cérebro ou existe algo em mim que pode controlar o cérebro. Segundo um famoso neurocientista, o nosso cérebro é a estrutura mais complexa e enigmática do universo, contém mais neurónios do que as estrelas existentes na galáxia. Mas será o cérebro quem controla e guia o ser humano sendo este a sua própria essência, ou o cérebro é apenas um mecanismo que a essência humana utiliza para produzir ações. Eu gosto da ideia de que somos seres espirituais que utilizam a matéria para o seu desenvolvimento e que a essência humana é o espírito. Este tema é debatido desde a antiguidade, se recuarmos 2500 anos encontramos a famosa frase no templo de Delfos “conhece-te a ti mesmo” e se lermos alguns conceitos filosóficos desse período como: “O Daimon interior” e “Viver em areté”, encontramos amplos debates sobre o tema. O nosso cérebro é programado desde a nossa nascença por tudo o que nos ensinam e pelo que vivenciamos e tal como um computador, utiliza essa informação para produzir ações. Mas é necessário procedermos a uma filtragem dessa programação e sermos capazes, após reflexão, de criarmos pensamentos próprios e reprogramar o cérebro. Para isso é necessário conseguirmos silenciar a nossa mente de forma a ouvirmos a nossa voz interior (a nossa essência). Segundo os místicos, o silêncio responde até mesmo aquilo que não foi perguntado. Filósofos como Sócrates diziam que para sabermos qual o caminho a percorrer é necessário consultarmos o nosso Daimon interior. O Daimon interior segundo essa filosofia, é o nosso eu mais profundo, ele transporta o que trazemos de existências anteriores com a informação do que precisamos de continuar a aperfeiçoar. É uma energia imortal que habita em nós e exige de nós o cumprimento da nossa obrigação, fazendo sentirmo-nos mal quando enveredamos por outros caminhos. Segundo essa filosofia, após conhecermos a nossa vocação e o caminho a percorrer é necessário viver em Areté, ou seja, viver a vida no máximo da perfeição que os limites da nossa natureza permitem. As nossas ações diárias devem estar o mais próximo do cumprimento do propósito ou função a que cada um se destina. Infelizmente vivemos de forma robotizada agindo mecanicamente e com dificuldade em ter pensamento próprio, cumprindo simplesmente o que nos foi ensinado. Na área laboral, nas relações amorosas, no desenvolvimento espiritual e em várias opções de vida, grande parte da humanidade vive trilhando caminhos que não são os seus, vivendo frustrada, deprimida e achando que a vida não vale a pena. Durante milénios a humanidade tentou perceber o sentido ou propósito da vida, porque só essa resposta a levaria para o caminho da felicidade (eudaimonia). Essa resposta é individual e só a encontramos dentro de nós, por isso é importante continuar a refletir sobre aquilo que somos, porque feliz será aquele que conseguir ser quem é.