sexta-feira, 6 de dezembro de 2019
Ética
Na
filosofia, ética é o ramo que estuda os valores morais de um grupo ou de um
individuo. O ser humano é um ser em constante conflito consigo próprio. Sigmund
Freud estudou este fenómeno e dividiu a mente em três elementos: ID, Ego e
Superego. O ID nasce connosco e representa o elemento mais primitivo da mente,
onde reside o inconsciente e os desejos mais básicos e primitivos. Após o nascimento,
começa a desenvolver-se o EGO (consciência), aspeto que procura controlar os
impulsos do ID de forma a encontrar soluções menos precipitadas, mais realistas
e que vão de encontro dos ideais e sejam socialmente aceitáveis. O Superego (consciência
moral) são as crenças, cultura familiar, componente moral e social da personalidade
e age em contraponto com o ID. O Ego, também conhecido como o nosso EU, tenta
criar um caminho de equilíbrio entre o ID e o Superego, agindo como “uma pessoa
equilibrada”. Conhecemos atitudes éticas que engrandecem a humanidade e outras
que pelo contrário envergonham. Passo a citar um caso de ética, ou seja, de um
Ego que vive em equilíbrio: Numa corrida de atletismo “corta mato” realizada em
Espanha, Ivan Fernandes, ia em segundo lugar na prova que era liderada pelo campeão
olímpico, o queniano Abel Mutai. Quase no final da prova, Mutai que tinha uma
grande distância em relação ao segundo classificado, pensando que já tinha
cortado a meta parou e, começou a cumprimentar o público. Ivan Fernandes que
vinha em segundo lugar, em vez de correr para a meta e ganhar a prova,
dirigiu-se a Mutai e gesticulando explicou-lhe que ainda não tinha cortado a meta,
o atleta queniano correu os poucos metros que faltavam e venceu. No final da prova
os jornalistas perguntaram a Fernandes: porque fizeste isso? E ele respondeu:
Isso o quê? Porque deixaste o Abel Mutai ganhar? Fernandes respondeu: eu não o deixei ganhar, ele
ganhou porque foi melhor do que eu. Que mérito é que eu teria se tivesse ganho
desta maneira? Se eu estivesse no primeiro lugar do pódio, quando chegasse a
casa o que é que eu ia dizer à minha mãe? Falando de ética, esta é uma frase
belíssima, porque a nossa mãe é a última pessoa que queremos dececionar, porque
se a pessoa que nos trouxe à vida tiver vergonha de nós, é porque não prestamos.
Os problemas morais e éticos são situações que normalmente não envolvem só a
pessoa em questão, mas também outras pessoas que podem sofrer consequências das
decisões e ações, que muitas vezes até podem afetar uma comunidade inteira. Falta
de ética e atitudes que envergonham, são por exemplo: cientistas e governos que
pelo dinheiro fácil, se deixam corromper por lóbis como o da indústria da
carne, lacticínios, medicamentos, produtos químicos e armamento. Esconderem
estudos que provam os malefícios provocados nas pessoas e no planeta por essas
industrias e, não satisfeitos, ainda ajudam a promover os respetivos produtos. Eticamente
falando, estes corruptores e corrompidos, são as tais pessoas que não podem
contar à mãe aquilo que fazem, ela iria sentir vergonha de os ter parido.
sexta-feira, 1 de novembro de 2019
Questionar e agir
No clássico infantojuvenil “Alice
no País da Maravilhas”, o seu autor Lewis Carroll coloca um diálogo interessante
entre Alice e o Gato. Alice pergunta ao Gato qual seria o melhor caminho que deveria
seguir para sair daquele lugar. O Gato responde:” Isso depende muito do sítio onde queres chegar”. Alice diz: “Na verdade não me importo muito”, ao que
o gato responde:” Então pouco importa o
caminho que sigas”. Nesta história L. Carroll também coloca Alice num
monólogo, onde Alice se interroga: “(…) a
questão é: quem sou eu afinal? Ah, esse é o grande dilema!”. Neste diálogo
e monólogo que podemos interpretar como filosóficos, existem duas questões que deveríamos
colocar a nós próprios. Quais são os nossos objetivos como seres humanos e,
quem somos nós além da nossa identificação civil. Com estas duas questões respondidas,
então, podemos pedir aconselhamento quanto ao caminho a seguir. Até lá, tal
como respondeu o Gato a Alice, não importa qual o caminho que sigamos. Num
outro clássico da mesma índole: “O Principezinho” de Saint Exupéry, o autor descreve
um diálogo entre a Raposa e o Principezinho:”
Adeus, disse a Raposa. Eis o meu segredo. É muito simples: Só se vê bem com o
coração, o essencial é invisível aos olhos”. Este também é um pressuposto
importante para a evolução humana, vermos as situações pela perspetiva
humanista. Cito dois livros para adolescentes porque é sobre duas adolescentes
que vou continuar a escrever. Malala Yousafzai, ganhou o Prémio Nobel da Paz
com apenas 17 anos. Num local dominado por melícias fundamentalistas Talibãs, onde
havia grande repressão sobre as mulheres e se matava alguém simplesmente por
discordar do sistema, Malala com apenas 11 anos começou a manifestar-se defendendo
o direito de as meninas frequentarem a escola. Continuou com várias formas de luta
defendendo a liberdade e a sua causa: “O direito à educação”. Quando tinha 15
anos aconteceu o que parecia inevitável, um terrorista disparou três tiros na
sua cabeça. Felizmente não morreu. Agora, outra adolescente, Greta Thunberg com
16 anos de idade, lidera uma luta Hercúlea para salvar o planeta. Conseguiu o
apoio de milhões de pessoas. Em março deste ano cerca de 1,4 milhões de
crianças em idade escolar, fizeram greve e saíram à rua manifestando-se e
apoiando a causa ambientalista. Embora muito jovem já se encontrou com
personalidades como o Papa Francisco, Barack Obama, já discursou por duas vezes
na Cimeira do Clima das Nações Unidas, onde no seu último discurso acusou os
líderes das nações de:” não serem maduros
o suficiente para encarar os factos e de estarem a deixar o peso das alterações
climáticas para as crianças”. Malala e Greta são exemplos de alguém que por
certo sabe quem é, qual o seu objetivo como ser humano e que vê com o coração. “Sejamos
a mudança que queremos ver no mundo”, é importante pensarmos globalmente, mas
agirmos localmente, percebermos qual a nossa responsabilidade naquilo que
condenamos. Como disse G. Thunberg:” Temos
de agir como se a nossa casa estivesse a arder, porque está mesmo”.
quarta-feira, 4 de setembro de 2019
Vácuo
Um vazio cheio de nadas
Onde a migalha é fartura
Onde a migalha é fartura
Um teu sorriso, um olhar, um simples beijo
Desejava-te um nome completo
Mas foste sempre uma abreviatura
José Adriano Gonçalves
José Adriano Gonçalves
quinta-feira, 29 de agosto de 2019
O Sermão
O sermão de Stº António aos
peixes, proferido pelo Padre António Vieira em São Luís do Maranhão a 13 de junho
de 1654, é uma alegoria intemporal, a sua voz fez um eco que se ouve até os
dias de hoje. Neste sermão serviu-se da alegoria e, pregando aos peixes, tentou
sensibilizar a consciência humana. Começou o sermão referindo que Stº António,
quando pregava em Itália na cidade de Arímino contra os hereges, vendo que as suas palavras não eram bem
recebidas e pouco faltando para lhe tirarem a vida, não deixou de pregar,
simplesmente mudou de púlpito e de
auditório, ”já que não me querem ouvir os
homens, ouçam-me os peixes”, deixou as praças e foi para as praias pregar
aos peixes. Estando o Padre Vieira, numa situação análoga à de Stº António e
encontrando-se perto do mar, fez como o santo e pregou aos peixes. Destacou as
virtudes dos peixes em geral e enalteceu de sobremaneira quatro deles. Criticou-os
também de forma global, relativamente à sua ignorância, vaidade, cegueira e más
condutas e, por se comerem uns aos outros, com a agravante de serem sempre os
maiores a comerem os mais pequenos, explorando e humilhando os mais
desfavorecidos. Também na crítica escolheu quatro peixes que por fazerem
lembrar a hipocrisia e mesquinhez dos homens, mereceram uma crítica mais
profunda. Embora o sermão fosse sobre as atrocidades que os sanguinários
colonos portugueses infligiam aos nativos, o tema continua atual, porque
continuamos a viver num Mundo onde grande parte da população continua a ser
explorada por alguns que dominados pela ganância, o muito é insuficiente.
Deveríamos ler e meditar Vieira pelo conteúdo moralista e pela escrita de rara
beleza. Fernando Pessoa escreveu que Vieira era o “imperador da língua portuguesa”. Atualmente na situação de
emergência ecológica que vivemos e não querendo os homens ouvirem os que tentam
salvar a humanidade e o planeta, será que temos de voltar a pregar aos peixes
para que os homens nos oiçam? Nunca houve no Mundo gente tão inculta com poder
para fazer tanto mal. Dois exemplos de incultura: Bolsonaro presidente do
Brasil, respondendo a um jornalista como resolver o problema ambiental: “é só você fazer cocó, dia sim dia não”. Trump
no seu discurso do dia da independência diz que o exército americano havia
conseguido “tomar o controlo dos
aeroportos “contra os britânicos em 1775, o avião só foi inventado um
século depois. Sim, já tivemos Hitler, Mao, Estaline, Pinochet, guerras
mundiais, genocídios, mas não aprendemos nada com isso? Falemos aos peixes para
enaltecer aqueles que lutam por uma humanidade mais humana e criticar os que
desrespeitam a criação. O dia da sobrecarga do planeta deste ano foi a 29 de
julho, a data mais recuada desde que o défice ecológico começou no ano 1970. As
grandes potências “esfregam as mãos” de contentes com o degelo do Ártico, veem
mais uma oportunidade de faturar milhões, não conseguem ver que o degelo poderá
afetar negativamente o mundo de forma irreversível. Gaudí disse: “A originalidade consiste no retorno à
origem; assim, original é aquele que retorna à simplicidade das primeiras
soluções”. Aprendamos!
quarta-feira, 19 de junho de 2019
A Poesia
Acredito na
transformação da humanidade até um nível de purificação, em que tudo e todos
viverão em harmonia. Que a humanidade evoluirá em conhecimento de tal forma que
implementará no mundo uma era de espiritualidade, onde imperará a paz gloriosa
e a felicidade. Acreditando nestes pressupostos, não poderei desassociar do
caminho a percorrer, a filosofia, a democracia e a poesia. A filosofia porque é
a busca incessante da sabedoria, a democracia porque permite o debate livre das
ideias e a poesia, que por ser a voz da alma e que melhor exprime o sentimento
humano. O Poeta é um sonhador, um idealista, um criativo. Agostinho da Silva
dizia: “todo o homem nasce poeta e
deveria viver de tal maneira e proceder de tal forma que um dia quando
morresse, se pudesse dizer: morreu um poema”. A poesia brota do âmago e
expressa os sentimentos, vai a lugares nunca vistos, mergulha no irreal e torna-o
realidade. O pensamento poético é uma criação divina, que usa o poeta para se
manifestar. A poesia não deve ser reprimida nem envergonhada. Como escreveu Ary
dos Santos: “Serei tudo o que disserem!
Poeta castrado, não!”. O que é ser poeta? Para F. Pessoa: “O poeta é um fingidor. Finge tão
completamente. Que chega a fingir que é dor. A dor que deveras sente”. Para
F.B. Espanca:” Ser poeta é ser mais alto,
é ser maior do que os homens”. Ser poeta é viver sendo aquilo que se quer
ser, é lembrar aos homens que todos são uma exceção, que não há alguém no mundo
que seja igual, nem física ,nem emocionalmente e que tudo deveria ser uma
exceção adaptada à excecionalidade que cada ser é. Ser poeta é lembrar aos
homens que todos podem ser felizes, cada um fazendo aquilo que mais gosta, que o
amor é capaz de acabar com qualquer tipo de mal. Ser poeta é acreditar na “Ilha
dos amores “de Camões, no “Quinto Império” de Vieira, em Isaías 11:6-9, na “
Sétima idade” de Fernão Lopes. Ser poeta é ensinar aos homens” A Pedra
Filosofal” de Gedeão “…o sonho é uma
constante da vida, tão concreta e definida, como outra coisa qualquer ..… o
sonho comanda a vida…”. Todo o homem nasce poeta, mas a maior parte está
hipnotizada por um género de encantador de serpentes, que os mantém
amordaçados, uns com o olhar fixo na sobrevivência, outros com o olhar fixo na
gula e na luxúria. Mas o pensamento poético um dia irá sobrepor-se a tudo e
conduzirá o homem à fraternidade. P. Neruda escreveu: “… quero viver num mundo em que os seres sejam simplesmente humanos,
sem mais títulos além desse. Sem trazer na cabeça uma regra, uma palavra
rígida, um rótulo.” Eu sei que sou um ser quimérico e tal qual C. Lispector
“Não quero a terrível limitação do que
vive apenas do que é possível de fazer sentido. Eu não: quero uma verdade
inventada”. Ou como E. Galeano explicou a utopia, dizendo que ela estava lá
no horizonte e, que sempre que caminhava em sua direção ela afastava-se, ele
continuava a caminhar em sua direção e ela sempre se afastando, acaba
concluindo: A utopia serve para isso mesmo, para eu não deixar de caminhar.
Sonhemos sempre e sejamos o poema para que fomos criados.
sexta-feira, 31 de maio de 2019
A Filosofia
segunda-feira, 13 de maio de 2019
A Democracia
No ano 399 a. C. o filósofo Sócrates, considerado por muitos
como o fundador da filosofia ocidental, foi julgado e condenado à morte. A
cidade estado “Atenas “onde Sócrates vivia, era gerida desde o ano 508 a.C. por um novo sistema politico chamado
democracia. Por esta razão, o Filósofo teve um julgamento democrático. O
julgamento tinha três acusadores, que perante o Bulé (conselho constituído por
500 membros) apresentaram as acusações, às quais, Sócrates rebateu
detalhadamente cada uma. Tendo a maioria dos jurados votado a favor da
condenação, Sócrates foi condenado, num dos primeiros atos de injustiça (que
temos conhecimento) praticados pela democracia. Sendo a liberdade de expressão
o suporte vital de qualquer regime democrático, não deixa de ser um paradoxo alguém,
em democracia, ser condenado por utilizar a sua liberdade de expressão, sem
nunca ter incentivado à violência e desobediência. Platão, seu discípulo, após
o julgamento, condenou a democracia referindo que este julgamento mostrou que a
democracia poderia calar a verdade tanto quanto a tirania. Passados quatro
séculos, segundo as escrituras sagradas, deu-se o julgamento de Jesus Cristo.
Pelo que conta a história, Jesus foi um homem de bem, que sempre pautou a sua
vivência com gestos de bondade e tolerância. Acusado injustamente, o governador
romano Pôncio Pilates, ficou com o ónus da questão. Entendendo que Jesus era
inocente, o governador aproveitou a tradição de soltar um preso na Páscoa para o
libertar. Colocando lado a lado, Jesus e um conhecido criminoso de nome
Barrabás, teve uma atitude “democrática”, perguntando ao povo quem é que
queriam que ele libertasse. A maioria escolheu Barrabás para ser libertado e,
como se não bastasse, exigiu a crucificação de Jesus. Prosseguindo na minha
divagação, nos séculos XV e XVI quando todos defendiam o geocentrismo, dizendo
que o planeta Terra estava fixo no centro do Universo com os corpos celestes a
girar em seu redor, só Copérnico e Galileu, cada um em sua época, defenderam o
heliocentrismo, dizendo que a terra girava em volta de si mesma e em redor do
Sol e, mais uma vez, a maioria errou. Sem dúvida, numa perspetiva histórica,
nem sempre a maioria tem razão. A democracia não se esgota na votação, contém
leis e mecanismos de ação que salvaguardam a dignidade da pessoa humana. A
democracia não é a ditadura da maioria, rege-se pela justiça social e concede
espaço de opinião à minoria. Ao longo de 2500 anos, a democracia evoluiu e
fortaleceu-se, mas quando imbuída de ignorância, continua tão frágil como no
seu início. Não podemos cumprir a democracia sem sabermos o seu verdadeiro
significado, desconhecendo a importância de uma sociedade num estado
democrático. É necessária uma educação para a política e para a sociedade, um
tema que precisa ser debatido nas aulas de filosofia, disciplina que deveria constar
do currículo escolar desde os primeiros anos de escolaridade. Não devemos
confundir instruir com educar. Os alunos devem ser instruídos nas áreas das suas
aptidões específicas, mas educados no aspeto moral e cívico. Uma sociedade
desinformada, sem hábitos de leitura, sem cultura política, pode através da democracia,
construir uma tirania e, trocar liberdade por grilhões.
sexta-feira, 5 de abril de 2019
O Ser Humano
A humanidade faz fantásticos
progressos tecnológicos, mas não consegue evoluir no seu relacionamento social
e ambiental. Socialmente continua a evidenciar manifestações de intolerância, discriminação,
violação dos direitos humanos, xenofobia, racismo e homofobia. Por sua vez na
área ambiental, são as alterações climáticas, extinção de ecossistemas e de
algumas espécies animais. As alterações climáticas, perda e fragmentação do
habitat, caça desregulada, tráfico, poluição, doenças, entre outras causas, têm
provocado o aumento de espécies em vias de extinção. Há muitos anos que cientistas
de todo o mundo avisam: “Os seres humanos e o mundo natural estão em colisão”,
os danos ambientais “irreversíveis” e “substanciais” causados pelos humanos
estão a destruir o planeta. Embora estejam a surgir jovens com um grande
sentido ecológico, como a sueca de 16 anos Greta Thunberg, uma ativista que tem
mobilizado milhares de jovens em todo o mundo para uma atitude consciente em
relação ao meio onde vivemos, os ativistas ambientais são muitas vezes
perseguidos, intimidados ou até assassinados. Pessoas como Greta Thunberg têm
de ser protegidas, fazem parte de uma espécie rara, a espécie humana que tem
humanidade. Esta espécie humana não se pode extinguir pois é o garante da nossa
sobrevivência. São aqueles que cumprem na sua existência o pressuposto para que
foram criados, cujo comportamento se materializa na racionalidade e, que no
percurso da sua vida cumprem o que o Universo (natureza) espera deles. Cada ser
deve-se realizar sendo aquilo que é. O Universo não espera do “ser humano” a
construção de naves espaciais, ele já tem os planetas. Também não precisa que o
“ser humano” invente coisas rápidas, ele já tem a velocidade da luz. O Universo,
espera do “ser humano”, que ele se construa como “ser humano” na verdadeira
essência da palavra. E, se a espécie humana se concretizar como “ser humano” na
verdadeira essência da palavra, por consequência, desaparecem a maior parte dos
problemas com os quais nos debatemos. Se o “ser humano” estiver no lugar do “ser
humano”, não precisamos de nos prevenir do homem que se comporta como um animal
irracional. As suas atitudes não se vão transformar em obstáculos para a
humanidade, mas um fator de soma para a sua evolução. Na natureza, todos os
seres têm a sua função e não podem ser nada além disso. A pedra não pode querer
deixar de ser pedra, as plantas não podem dizer que não fazem fotossíntese,
porque são essas as suas funções. Os animais simplesmente procriam e lutam para
para perpetuar a sua espécie. O “ser humano” é a exceção à regra, tem o livre
arbítrio, sendo a única espécie que tem capacidade de opção para ser ou não ser
aquilo para que foi criado. Podemos dizer que ninguém sabe o que é a essência
humana, mas sabemos quais são as necessidades da humanidade. A solução pode estar
na mudança dos paradigmas da educação. Os alunos desde muito jovens devem ser
incentivados a questionar a realidade para saber o porquê das coisas e não
serem meros reprodutores de escritos. O ensino deve ajudar a criar o “ser
humano” racional, com grande sentido social e ecológico.
domingo, 24 de março de 2019
O Rei Midas
As lendas da mitologia grega
conduzem-nos inevitavelmente a uma reflexão. São histórias que começaram por
ser transmitidas oralmente pelas pessoas, até que um dia, passaram a ser
registadas na linguagem escrita. Embora muito fantasiadas, algumas lendas
contêm um fundo educativo. É o caso da lenda do rei Midas. Esta lenda conta que
o rei Midas por ter tido uma ação que orgulhou o deus Dionísio (baco), este
como gratidão ao rei Midas, disse-lhe que pedisse algo que desejasse muito, que
lhe proporcionaria esse desejo. O rei Midas, embora fosse muito rico e vivesse
na abundância, era ganancioso. Então, pediu ao deus Dionísio que lhe desse um
dom, para que em tudo o que tocasse se transformasse em ouro. Dionísio tentou
demovê-lo desse pedido, mas, em vão, Midas recusou. Começou logo a utilizar o
seu novo poder, tocou numa pedra e ela transformou-se em ouro, tocou numa folha
caída de uma árvore e também se transformou em ouro, era uma maravilha. Passado
algum tempo, deu-lhe fome, mas não podia comer, tudo o que tocava
transformava-se em ouro, tentou beber vinho, mas o líquido transformou-se em
ouro. Percebeu que iria morrer à fome e à sede. A sua adorada filha quando
chega a casa e vê o pai em agonia, corre para ele e ao abraça-lo transforma-se
numa estátua de ouro. Desesperado, Midas pede a Dioniso que lhe retire esse poder.
Dioniso satisfaz-lhe este novo pedido e Midas arrependido voltou para os campos
para viver uma vida humilde e longe das cidades. O rei Midas foi demasiado
ambicioso e a ambição desmedida é ganância, confundiu o superficial com o
essencial, colocou a riqueza material como o seu maior bem enquanto ser humano.
Aprendeu uma grande lição, mas à custa de muito sofrimento. Hoje, existem
imensos reis Midas, gente que em tudo o que toca quer transformar em fortuna,
fortuna essa, que nunca é suficiente. É o campeonato do mundo dos ricos, a
classificação sai na revista Forbes. Em 2017 o 1ª lugar foi para Jeff Bezos,
fundador da Amazon com uma fortuna avaliada em 112 bilhões de dólares. Os reis
Midas da atualidade, numa corrida desenfreada pelo “vil Metal”, delapidam os
recursos naturais do planeta, sem questionamento, sem pensar no impacto futuro
que terão as suas ações de hoje. Seguem sem olhar a valores morais, sociais e
respeito pelo meio em que vivem, recusam um equilíbrio entre as necessidades
humanas, o progresso e preservação dos recursos naturais. Só no Brasil matam-se
quase 90 mil vacas e bois por dia. Uma fábrica da Hyundai é capaz de produzir
um automóvel em cada 10 segundos (até seis mil por dia). A Tailândia em 2016
produziu 521 mil barris de petróleo por dia. O consumismo desenfreado está a
destruir o Planeta e tal como na história do Rei Midas, um dia vai haver gente
com muito dinheiro, mas com uma vida triste demais para ser vivida. Somos todos
responsáveis pela preservação do meio ambiente. Uma economia circular, onde a
reutilização de recursos é maximizada, redução do consumo de carne e peixe e
eficiência energética são meios disponíveis que a maior parte de nós pode
utilizar para diminuir o impacto nocivo no planeta.
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