sexta-feira, 6 de dezembro de 2019

Ética

Na filosofia, ética é o ramo que estuda os valores morais de um grupo ou de um individuo. O ser humano é um ser em constante conflito consigo próprio. Sigmund Freud estudou este fenómeno e dividiu a mente em três elementos: ID, Ego e Superego. O ID nasce connosco e representa o elemento mais primitivo da mente, onde reside o inconsciente e os desejos mais básicos e primitivos. Após o nascimento, começa a desenvolver-se o EGO (consciência), aspeto que procura controlar os impulsos do ID de forma a encontrar soluções menos precipitadas, mais realistas e que vão de encontro dos ideais e sejam socialmente aceitáveis. O Superego (consciência moral) são as crenças, cultura familiar, componente moral e social da personalidade e age em contraponto com o ID. O Ego, também conhecido como o nosso EU, tenta criar um caminho de equilíbrio entre o ID e o Superego, agindo como “uma pessoa equilibrada”. Conhecemos atitudes éticas que engrandecem a humanidade e outras que pelo contrário envergonham. Passo a citar um caso de ética, ou seja, de um Ego que vive em equilíbrio: Numa corrida de atletismo “corta mato” realizada em Espanha, Ivan Fernandes, ia em segundo lugar na prova que era liderada pelo campeão olímpico, o queniano Abel Mutai. Quase no final da prova, Mutai que tinha uma grande distância em relação ao segundo classificado, pensando que já tinha cortado a meta parou e, começou a cumprimentar o público. Ivan Fernandes que vinha em segundo lugar, em vez de correr para a meta e ganhar a prova, dirigiu-se a Mutai e gesticulando explicou-lhe que ainda não tinha cortado a meta, o atleta queniano correu os poucos metros que faltavam e venceu. No final da prova os jornalistas perguntaram a Fernandes: porque fizeste isso? E ele respondeu: Isso o quê? Porque deixaste o Abel Mutai ganhar?  Fernandes respondeu: eu não o deixei ganhar, ele ganhou porque foi melhor do que eu. Que mérito é que eu teria se tivesse ganho desta maneira? Se eu estivesse no primeiro lugar do pódio, quando chegasse a casa o que é que eu ia dizer à minha mãe? Falando de ética, esta é uma frase belíssima, porque a nossa mãe é a última pessoa que queremos dececionar, porque se a pessoa que nos trouxe à vida tiver vergonha de nós, é porque não prestamos. Os problemas morais e éticos são situações que normalmente não envolvem só a pessoa em questão, mas também outras pessoas que podem sofrer consequências das decisões e ações, que muitas vezes até podem afetar uma comunidade inteira. Falta de ética e atitudes que envergonham, são por exemplo: cientistas e governos que pelo dinheiro fácil, se deixam corromper por lóbis como o da indústria da carne, lacticínios, medicamentos, produtos químicos e armamento. Esconderem estudos que provam os malefícios provocados nas pessoas e no planeta por essas industrias e, não satisfeitos, ainda ajudam a promover os respetivos produtos. Eticamente falando, estes corruptores e corrompidos, são as tais pessoas que não podem contar à mãe aquilo que fazem, ela iria sentir vergonha de os ter parido.

sexta-feira, 1 de novembro de 2019

Questionar e agir



No clássico infantojuvenil “Alice no País da Maravilhas”, o seu autor Lewis Carroll coloca um diálogo interessante entre Alice e o Gato. Alice pergunta ao Gato qual seria o melhor caminho que deveria seguir para sair daquele lugar. O Gato responde:” Isso depende muito do sítio onde queres chegar”.  Alice diz: “Na verdade não me importo muito”, ao que o gato responde:” Então pouco importa o caminho que sigas”. Nesta história L. Carroll também coloca Alice num monólogo, onde Alice se interroga: “(…) a questão é: quem sou eu afinal? Ah, esse é o grande dilema!”. Neste diálogo e monólogo que podemos interpretar como filosóficos, existem duas questões que deveríamos colocar a nós próprios. Quais são os nossos objetivos como seres humanos e, quem somos nós além da nossa identificação civil. Com estas duas questões respondidas, então, podemos pedir aconselhamento quanto ao caminho a seguir. Até lá, tal como respondeu o Gato a Alice, não importa qual o caminho que sigamos. Num outro clássico da mesma índole: “O Principezinho” de Saint Exupéry, o autor descreve um diálogo entre a Raposa e o Principezinho:” Adeus, disse a Raposa. Eis o meu segredo. É muito simples: Só se vê bem com o coração, o essencial é invisível aos olhos”. Este também é um pressuposto importante para a evolução humana, vermos as situações pela perspetiva humanista. Cito dois livros para adolescentes porque é sobre duas adolescentes que vou continuar a escrever. Malala Yousafzai, ganhou o Prémio Nobel da Paz com apenas 17 anos. Num local dominado por melícias fundamentalistas Talibãs, onde havia grande repressão sobre as mulheres e se matava alguém simplesmente por discordar do sistema, Malala com apenas 11 anos começou a manifestar-se defendendo o direito de as meninas frequentarem a escola. Continuou com várias formas de luta defendendo a liberdade e a sua causa: “O direito à educação”. Quando tinha 15 anos aconteceu o que parecia inevitável, um terrorista disparou três tiros na sua cabeça. Felizmente não morreu. Agora, outra adolescente, Greta Thunberg com 16 anos de idade, lidera uma luta Hercúlea para salvar o planeta. Conseguiu o apoio de milhões de pessoas. Em março deste ano cerca de 1,4 milhões de crianças em idade escolar, fizeram greve e saíram à rua manifestando-se e apoiando a causa ambientalista. Embora muito jovem já se encontrou com personalidades como o Papa Francisco, Barack Obama, já discursou por duas vezes na Cimeira do Clima das Nações Unidas, onde no seu último discurso acusou os líderes das nações de:” não serem maduros o suficiente para encarar os factos e de estarem a deixar o peso das alterações climáticas para as crianças”. Malala e Greta são exemplos de alguém que por certo sabe quem é, qual o seu objetivo como ser humano e que vê com o coração. “Sejamos a mudança que queremos ver no mundo”, é importante pensarmos globalmente, mas agirmos localmente, percebermos qual a nossa responsabilidade naquilo que condenamos. Como disse G. Thunberg:” Temos de agir como se a nossa casa estivesse a arder, porque está mesmo”.

quarta-feira, 4 de setembro de 2019

Vácuo

 
 
 
 
 
 
 
 
Um vazio cheio de nadas
Onde a migalha é fartura
Um teu sorriso, um olhar, um simples beijo
Desejava-te um nome completo
Mas foste sempre uma abreviatura



José Adriano Gonçalves

quinta-feira, 29 de agosto de 2019

O Sermão


O sermão de Stº António aos peixes, proferido pelo Padre António Vieira em São Luís do Maranhão a 13 de junho de 1654, é uma alegoria intemporal, a sua voz fez um eco que se ouve até os dias de hoje. Neste sermão serviu-se da alegoria e, pregando aos peixes, tentou sensibilizar a consciência humana. Começou o sermão referindo que Stº António, quando pregava em Itália na cidade de Arímino contra os hereges,  vendo que as suas palavras não eram bem recebidas e pouco faltando para lhe tirarem a vida, não deixou de pregar, simplesmente mudou de  púlpito e de auditório, ”já que não me querem ouvir os homens, ouçam-me os peixes”, deixou as praças e foi para as praias pregar aos peixes. Estando o Padre Vieira, numa situação análoga à de Stº António e encontrando-se perto do mar, fez como o santo e pregou aos peixes. Destacou as virtudes dos peixes em geral e enalteceu de sobremaneira quatro deles. Criticou-os também de forma global, relativamente à sua ignorância, vaidade, cegueira e más condutas e, por se comerem uns aos outros, com a agravante de serem sempre os maiores a comerem os mais pequenos, explorando e humilhando os mais desfavorecidos. Também na crítica escolheu quatro peixes que por fazerem lembrar a hipocrisia e mesquinhez dos homens, mereceram uma crítica mais profunda. Embora o sermão fosse sobre as atrocidades que os sanguinários colonos portugueses infligiam aos nativos, o tema continua atual, porque continuamos a viver num Mundo onde grande parte da população continua a ser explorada por alguns que dominados pela ganância, o muito é insuficiente. Deveríamos ler e meditar Vieira pelo conteúdo moralista e pela escrita de rara beleza. Fernando Pessoa escreveu que Vieira era o “imperador da língua portuguesa”. Atualmente na situação de emergência ecológica que vivemos e não querendo os homens ouvirem os que tentam salvar a humanidade e o planeta, será que temos de voltar a pregar aos peixes para que os homens nos oiçam? Nunca houve no Mundo gente tão inculta com poder para fazer tanto mal. Dois exemplos de incultura: Bolsonaro presidente do Brasil, respondendo a um jornalista como resolver o problema ambiental: “é só você fazer cocó, dia sim dia não”. Trump no seu discurso do dia da independência diz que o exército americano havia conseguido “tomar o controlo dos aeroportos “contra os britânicos em 1775, o avião só foi inventado um século depois. Sim, já tivemos Hitler, Mao, Estaline, Pinochet, guerras mundiais, genocídios, mas não aprendemos nada com isso? Falemos aos peixes para enaltecer aqueles que lutam por uma humanidade mais humana e criticar os que desrespeitam a criação. O dia da sobrecarga do planeta deste ano foi a 29 de julho, a data mais recuada desde que o défice ecológico começou no ano 1970. As grandes potências “esfregam as mãos” de contentes com o degelo do Ártico, veem mais uma oportunidade de faturar milhões, não conseguem ver que o degelo poderá afetar negativamente o mundo de forma irreversível. Gaudí disse: “A originalidade consiste no retorno à origem; assim, original é aquele que retorna à simplicidade das primeiras soluções”. Aprendamos!

quarta-feira, 19 de junho de 2019

A Poesia


Acredito na transformação da humanidade até um nível de purificação, em que tudo e todos viverão em harmonia. Que a humanidade evoluirá em conhecimento de tal forma que implementará no mundo uma era de espiritualidade, onde imperará a paz gloriosa e a felicidade. Acreditando nestes pressupostos, não poderei desassociar do caminho a percorrer, a filosofia, a democracia e a poesia. A filosofia porque é a busca incessante da sabedoria, a democracia porque permite o debate livre das ideias e a poesia, que por ser a voz da alma e que melhor exprime o sentimento humano. O Poeta é um sonhador, um idealista, um criativo. Agostinho da Silva dizia: “todo o homem nasce poeta e deveria viver de tal maneira e proceder de tal forma que um dia quando morresse, se pudesse dizer: morreu um poema”. A poesia brota do âmago e expressa os sentimentos, vai a lugares nunca vistos, mergulha no irreal e torna-o realidade. O pensamento poético é uma criação divina, que usa o poeta para se manifestar. A poesia não deve ser reprimida nem envergonhada. Como escreveu Ary dos Santos: “Serei tudo o que disserem! Poeta castrado, não!”. O que é ser poeta? Para F. Pessoa: “O poeta é um fingidor. Finge tão completamente. Que chega a fingir que é dor. A dor que deveras sente”. Para F.B. Espanca:” Ser poeta é ser mais alto, é ser maior do que os homens”. Ser poeta é viver sendo aquilo que se quer ser, é lembrar aos homens que todos são uma exceção, que não há alguém no mundo que seja igual, nem física ,nem emocionalmente e que tudo deveria ser uma exceção adaptada à excecionalidade que cada ser é. Ser poeta é lembrar aos homens que todos podem ser felizes, cada um fazendo aquilo que mais gosta, que o amor é capaz de acabar com qualquer tipo de mal. Ser poeta é acreditar na “Ilha dos amores “de Camões, no “Quinto Império” de Vieira, em Isaías 11:6-9, na “ Sétima idade” de Fernão Lopes. Ser poeta é ensinar aos homens” A Pedra Filosofal” de Gedeão “…o sonho é uma constante da vida, tão concreta e definida, como outra coisa qualquer ..… o sonho comanda a vida…”. Todo o homem nasce poeta, mas a maior parte está hipnotizada por um género de encantador de serpentes, que os mantém amordaçados, uns com o olhar fixo na sobrevivência, outros com o olhar fixo na gula e na luxúria. Mas o pensamento poético um dia irá sobrepor-se a tudo e conduzirá o homem à fraternidade. P. Neruda escreveu: “… quero viver num mundo em que os seres sejam simplesmente humanos, sem mais títulos além desse. Sem trazer na cabeça uma regra, uma palavra rígida, um rótulo.” Eu sei que sou um ser quimérico e tal qual C. Lispector “Não quero a terrível limitação do que vive apenas do que é possível de fazer sentido. Eu não: quero uma verdade inventada”. Ou como E. Galeano explicou a utopia, dizendo que ela estava lá no horizonte e, que sempre que caminhava em sua direção ela afastava-se, ele continuava a caminhar em sua direção e ela sempre se afastando, acaba concluindo: A utopia serve para isso mesmo, para eu não deixar de caminhar. Sonhemos sempre e sejamos o poema para que fomos criados.

sexta-feira, 31 de maio de 2019

A Filosofia


 
Sempre que a humanidade atravessa um período de conturbação social, a filosofia emerge das profundezas para confortar a alma humana. Os filósofos são os eternos amigos da Humanidade e perante as adversidades são eles os primeiros a aparecer. Evocam-se os espíritos dos mais ilustres filósofos da antiguidade, para ajudarem a curar uma sociedade que vive doente, angustiada, intolerante e violenta. A sociedade atravessa uma crise de valores, porque a família e a escola, na sua generalidade, não conseguiram contrabalançar com valores de ética, moral e educação uma juventude programada para a competição e, educada no binômio produção/consumo numa sociedade que se tornou demasiado industrializada e pouco social. Esta situação criou em muitos membros da sociedade um vazio existencial e desequilíbrios emocionais. Ao longo da história sempre houve crises sociais e, foi sempre a filosofia a catapulta que projetou o pensamento humano para patamares de consciência mais elevados. A função da filosofia é fornecer “ferramentas”, que permitam ajudar a compreender o que acontece à nossa volta, para atuarmos de acordo com os princípios éticos da conduta humana. Como é o caso da escola filosófica estoica criada em Atenas por volta de 300 a.C. pelo filósofo Zenão de Cítio. Esta corrente filosófica ficou famosa através dos seus ilustres praticantes, onde se inclui o famoso Imperador Romano, Marco Aurélio. O estoicismo ensina que as virtudes devem ser baseadas nos comportamentos e não nas palavras. Que não devemos depender do que não controlamos, mas apenas de nós e das nossas escolhas. O estoicismo lembra que o mundo é imprevisível e que o tempo é efémero, por essa razão devemos vivê-lo da melhor forma possível. Temos a obrigação de sermos firmes, controlar as nossas emoções, ser fortes e confiar na nossa capacidade de raciocínio. O estoico, pensa em como pode melhorar diariamente a sua maneira de ser e agir, como superar os problemas e transformá-los em oportunidades. O estoicismo não se preocupa com teorias abstratas é, um conjunto de reflexões, conselhos e práticas para viver melhor. Como o estoicismo valoriza a ação em detrimento das palavras, tem alguns exercícios práticos que ajudam o fortalecimento da personalidade. Uma das práticas difundidas pelos estoicos é a reflexão matinal, onde a pessoa se prepara para as situações que poderá encontrar durante o dia, mesmo as mais adversas. Essas meditações devem ser anotadas para autoavaliação, assim fazia Marco Aurélio, cujos pensamentos se encontram publicados no famoso Livro “Meditações “. Vários são os aforismos que compõem o pensamento estoico: receba elogios e criticas da mesma maneira, reveja o seu dia e tire ilações, lembre-se sempre que vai morrer, confie em si mesmo, não tenha vergonha de pedir ajuda, faça uma mudança no seu interior. Seja uma força do bem. A filosofia desempenha um papel fundamental na formação, ensina a pensar, transmite valores para a transformação da sociedade. O sistema não quer que as pessoas dominem a arte de pensar com clareza, porque contraria a “moral do rebanho”.

segunda-feira, 13 de maio de 2019

A Democracia


No ano 399 a. C. o filósofo Sócrates, considerado por muitos como o fundador da filosofia ocidental, foi julgado e condenado à morte. A cidade estado “Atenas “onde Sócrates vivia, era gerida desde o ano 508 a.C.  por um novo sistema politico chamado democracia. Por esta razão, o Filósofo teve um julgamento democrático. O julgamento tinha três acusadores, que perante o Bulé (conselho constituído por 500 membros) apresentaram as acusações, às quais, Sócrates rebateu detalhadamente cada uma. Tendo a maioria dos jurados votado a favor da condenação, Sócrates foi condenado, num dos primeiros atos de injustiça (que temos conhecimento) praticados pela democracia. Sendo a liberdade de expressão o suporte vital de qualquer regime democrático, não deixa de ser um paradoxo alguém, em democracia, ser condenado por utilizar a sua liberdade de expressão, sem nunca ter incentivado à violência e desobediência. Platão, seu discípulo, após o julgamento, condenou a democracia referindo que este julgamento mostrou que a democracia poderia calar a verdade tanto quanto a tirania. Passados quatro séculos, segundo as escrituras sagradas, deu-se o julgamento de Jesus Cristo. Pelo que conta a história, Jesus foi um homem de bem, que sempre pautou a sua vivência com gestos de bondade e tolerância. Acusado injustamente, o governador romano Pôncio Pilates, ficou com o ónus da questão. Entendendo que Jesus era inocente, o governador aproveitou a tradição de soltar um preso na Páscoa para o libertar. Colocando lado a lado, Jesus e um conhecido criminoso de nome Barrabás, teve uma atitude “democrática”, perguntando ao povo quem é que queriam que ele libertasse. A maioria escolheu Barrabás para ser libertado e, como se não bastasse, exigiu a crucificação de Jesus. Prosseguindo na minha divagação, nos séculos XV e XVI quando todos defendiam o geocentrismo, dizendo que o planeta Terra estava fixo no centro do Universo com os corpos celestes a girar em seu redor, só Copérnico e Galileu, cada um em sua época, defenderam o heliocentrismo, dizendo que a terra girava em volta de si mesma e em redor do Sol e, mais uma vez, a maioria errou. Sem dúvida, numa perspetiva histórica, nem sempre a maioria tem razão. A democracia não se esgota na votação, contém leis e mecanismos de ação que salvaguardam a dignidade da pessoa humana. A democracia não é a ditadura da maioria, rege-se pela justiça social e concede espaço de opinião à minoria. Ao longo de 2500 anos, a democracia evoluiu e fortaleceu-se, mas quando imbuída de ignorância, continua tão frágil como no seu início. Não podemos cumprir a democracia sem sabermos o seu verdadeiro significado, desconhecendo a importância de uma sociedade num estado democrático. É necessária uma educação para a política e para a sociedade, um tema que precisa ser debatido nas aulas de filosofia, disciplina que deveria constar do currículo escolar desde os primeiros anos de escolaridade. Não devemos confundir instruir com educar. Os alunos devem ser instruídos nas áreas das suas aptidões específicas, mas educados no aspeto moral e cívico. Uma sociedade desinformada, sem hábitos de leitura, sem cultura política, pode através da democracia, construir uma tirania e, trocar liberdade por grilhões.

sexta-feira, 5 de abril de 2019

O Ser Humano


A humanidade faz fantásticos progressos tecnológicos, mas não consegue evoluir no seu relacionamento social e ambiental. Socialmente continua a evidenciar manifestações de intolerância, discriminação, violação dos direitos humanos, xenofobia, racismo e homofobia. Por sua vez na área ambiental, são as alterações climáticas, extinção de ecossistemas e de algumas espécies animais. As alterações climáticas, perda e fragmentação do habitat, caça desregulada, tráfico, poluição, doenças, entre outras causas, têm provocado o aumento de espécies em vias de extinção. Há muitos anos que cientistas de todo o mundo avisam: “Os seres humanos e o mundo natural estão em colisão”, os danos ambientais “irreversíveis” e “substanciais” causados pelos humanos estão a destruir o planeta. Embora estejam a surgir jovens com um grande sentido ecológico, como a sueca de 16 anos Greta Thunberg, uma ativista que tem mobilizado milhares de jovens em todo o mundo para uma atitude consciente em relação ao meio onde vivemos, os ativistas ambientais são muitas vezes perseguidos, intimidados ou até assassinados. Pessoas como Greta Thunberg têm de ser protegidas, fazem parte de uma espécie rara, a espécie humana que tem humanidade. Esta espécie humana não se pode extinguir pois é o garante da nossa sobrevivência. São aqueles que cumprem na sua existência o pressuposto para que foram criados, cujo comportamento se materializa na racionalidade e, que no percurso da sua vida cumprem o que o Universo (natureza) espera deles. Cada ser deve-se realizar sendo aquilo que é. O Universo não espera do “ser humano” a construção de naves espaciais, ele já tem os planetas. Também não precisa que o “ser humano” invente coisas rápidas, ele já tem a velocidade da luz. O Universo, espera do “ser humano”, que ele se construa como “ser humano” na verdadeira essência da palavra. E, se a espécie humana se concretizar como “ser humano” na verdadeira essência da palavra, por consequência, desaparecem a maior parte dos problemas com os quais nos debatemos. Se o “ser humano” estiver no lugar do “ser humano”, não precisamos de nos prevenir do homem que se comporta como um animal irracional. As suas atitudes não se vão transformar em obstáculos para a humanidade, mas um fator de soma para a sua evolução. Na natureza, todos os seres têm a sua função e não podem ser nada além disso. A pedra não pode querer deixar de ser pedra, as plantas não podem dizer que não fazem fotossíntese, porque são essas as suas funções. Os animais simplesmente procriam e lutam para para perpetuar a sua espécie. O “ser humano” é a exceção à regra, tem o livre arbítrio, sendo a única espécie que tem capacidade de opção para ser ou não ser aquilo para que foi criado. Podemos dizer que ninguém sabe o que é a essência humana, mas sabemos quais são as necessidades da humanidade. A solução pode estar na mudança dos paradigmas da educação. Os alunos desde muito jovens devem ser incentivados a questionar a realidade para saber o porquê das coisas e não serem meros reprodutores de escritos. O ensino deve ajudar a criar o “ser humano” racional, com grande sentido social e ecológico.

domingo, 24 de março de 2019

O Rei Midas



As lendas da mitologia grega conduzem-nos inevitavelmente a uma reflexão. São histórias que começaram por ser transmitidas oralmente pelas pessoas, até que um dia, passaram a ser registadas na linguagem escrita. Embora muito fantasiadas, algumas lendas contêm um fundo educativo. É o caso da lenda do rei Midas. Esta lenda conta que o rei Midas por ter tido uma ação que orgulhou o deus Dionísio (baco), este como gratidão ao rei Midas, disse-lhe que pedisse algo que desejasse muito, que lhe proporcionaria esse desejo. O rei Midas, embora fosse muito rico e vivesse na abundância, era ganancioso. Então, pediu ao deus Dionísio que lhe desse um dom, para que em tudo o que tocasse se transformasse em ouro. Dionísio tentou demovê-lo desse pedido, mas, em vão, Midas recusou. Começou logo a utilizar o seu novo poder, tocou numa pedra e ela transformou-se em ouro, tocou numa folha caída de uma árvore e também se transformou em ouro, era uma maravilha. Passado algum tempo, deu-lhe fome, mas não podia comer, tudo o que tocava transformava-se em ouro, tentou beber vinho, mas o líquido transformou-se em ouro. Percebeu que iria morrer à fome e à sede. A sua adorada filha quando chega a casa e vê o pai em agonia, corre para ele e ao abraça-lo transforma-se numa estátua de ouro. Desesperado, Midas pede a Dioniso que lhe retire esse poder. Dioniso satisfaz-lhe este novo pedido e Midas arrependido voltou para os campos para viver uma vida humilde e longe das cidades. O rei Midas foi demasiado ambicioso e a ambição desmedida é ganância, confundiu o superficial com o essencial, colocou a riqueza material como o seu maior bem enquanto ser humano. Aprendeu uma grande lição, mas à custa de muito sofrimento. Hoje, existem imensos reis Midas, gente que em tudo o que toca quer transformar em fortuna, fortuna essa, que nunca é suficiente. É o campeonato do mundo dos ricos, a classificação sai na revista Forbes. Em 2017 o 1ª lugar foi para Jeff Bezos, fundador da Amazon com uma fortuna avaliada em 112 bilhões de dólares. Os reis Midas da atualidade, numa corrida desenfreada pelo “vil Metal”, delapidam os recursos naturais do planeta, sem questionamento, sem pensar no impacto futuro que terão as suas ações de hoje. Seguem sem olhar a valores morais, sociais e respeito pelo meio em que vivem, recusam um equilíbrio entre as necessidades humanas, o progresso e preservação dos recursos naturais. Só no Brasil matam-se quase 90 mil vacas e bois por dia. Uma fábrica da Hyundai é capaz de produzir um automóvel em cada 10 segundos (até seis mil por dia). A Tailândia em 2016 produziu 521 mil barris de petróleo por dia. O consumismo desenfreado está a destruir o Planeta e tal como na história do Rei Midas, um dia vai haver gente com muito dinheiro, mas com uma vida triste demais para ser vivida. Somos todos responsáveis pela preservação do meio ambiente. Uma economia circular, onde a reutilização de recursos é maximizada, redução do consumo de carne e peixe e eficiência energética são meios disponíveis que a maior parte de nós pode utilizar para diminuir o impacto nocivo no planeta.