quinta-feira, 15 de julho de 2010

Desbravar terreno - Desporto adaptado


A selecção Nacional de Atletismo ANDDI- Portugal, participou no 5º Campeonato da Europa de Atletismo INAS – FID, realizado em Varazdin na Croácia. Os resultados desportivos superaram as expectativas.
Além dos diversos títulos individuais, colectivamente Portugal foi campeão da Europa no sector masculino e vice – campeão no sector feminino.
Mais uma vez tive o privilégio de integrar a equipa técnica que acompanhou a nossa selecção. Um Grupo maravilhoso de pessoas que só se encontram esporadicamente, mas que rapidamente criam empatias e reúnem sinergias que permitem os nossos atletas concretizarem os desideratos propostos. Os atletas geriram da melhor forma possível as suas limitações e foram exemplares no seu comportamento.
Como o desporto adaptado não tem grande visibilidade nos órgãos de comunicação social, e tendo em conta a importância da sua divulgação, a mesma deve ser efectuada por todos aqueles que de alguma forma estejam ligados ao sector. Por esta razão vou utilizar o meu humilde blogue para tecer umas breves considerações sobre esta temática.
Começo por citar ( Winnick 1997) numa definição de desporto adaptado “ Experiências desportivas modificadas ou especialmente designadas para suprir as necessidades especiais de indivíduos. O âmbito do desporto adaptado inclui a integração de pessoas portadoras de deficiências com pessoas normais, e lugares nos quais que se incluem apenas pessoas com condições de deficiência”
Com o objectivo de demonstrar a importância desta actividade faço também referência à Constituição Portuguesa, que consagra o direito à cultura física e ao desporto para todos. Este aspecto é reforçado por um artigo da lei de Bases do Desporto que coloca o desporto como factor indispensável na formação da pessoa e no desenvolvimento da sociedade, fazendo também referência ao valor da prática desportiva para os cidadãos portadores de deficiência, tanto no desporto de recreação, como na prática do desporto de alta competição.
O problema é que a constituição, estatutos de Associações, Federações e definições de grandes pensadores nunca colocarão um único indivíduo com deficiência a praticar desporto ou uma outra actividade qualquer. Para que isso aconteça, é necessária a intervenção Humana na prática, fundamentalmente por indivíduos altruístas (no verdadeiro sentido da palavra), que de uma forma abnegada se dediquem à causa.
Fico feliz por Portugal continuar a ser um exemplo no desporto Adaptado, fundamentalmente na área da deficiência mental/ incapacidade intelectual, onde os resultados desportivos têm atingido a excelência. Os atletas portugueses através dos seus êxitos estão a desbravar um caminho onde ainda existem muitos obstáculos, que penso, só poderem ser removidos através de momentos de felicidade como aqueles que vivemos neste campeonato. E eu digo isto, porque sei que a felicidade é contagiante.
Parabéns à ANDDI- Portugal, e a todos aqueles que de alguma forma deram o seu contributo para mais este êxito desportivo. Mas não posso deixar de fazer uma referência especial ao Seleccionador Nacional Costa Pereira o grande dinamizador e ao Atleta Lenine Cunha que pela forma como exprimirem os seus sentimentos, dentro e fora das pistas, são um autêntico espectáculo dentro de um espectáculo.
E como disse na reunião de encerramento “ estes campeonatos sem a presença destas duas personagens, nunca serão a mesma coisa “
Um Pensamento:
” O desporto tem o mérito de dar visibilidade às visibilidades dos indivíduos, e não às suas dificuldades, pois ninguém pratica uma actividade desportiva e recreativa em que não tenha oportunidade de colocar em evidência as suas capacidades”
Aqui vai um link fornecido pela fisioterapeuta Maria João com uma sessão fotografica do atleta Lenine Cunha ( fotos tiradas no 5º Campeonato da Europa na Croácia)
http://www.youtube.com/watch?v=tRvh2M1vU7c

quinta-feira, 1 de julho de 2010

As razões de um povo triste - Apenas a minha opinião


Ontem falava com um amigo e questionava o porquê do sentimento de fatalidade do povo português. De eu achar que na sua essência, o nosso povo é triste. Porque é que nós temos o Fado e os brasileiros o Samba?
Na sequência dessa conversa, nasce este artigo, onde eu vejo algumas razões, do porquê de sermos assim.
Normalmente quando se conta a história de um País, evitamos falar das derrotas, preferimos enaltecer tudo o que de bom foi feito. Hoje vou escrever umas breves notas, sobre as grandes derrotas de Portugal.
A primeira grande derrota foi a quatro de Agosto de 1578 com a batalha de Alcácer Quibir. A teimosia de um rei sem experiência militar, e que se recusava terminantemente a seguir os conselhos dos seus capitães, esses sim, homens com conhecimento na arte de guerrear, fez dessa batalha o maior desastre da história militar portuguesa.
D. Sebastião organizou um exército com cerca de 17000 homens para atacar o norte de África. Cometeu muitas imprudências, não teve em consideração as regras mais básicas para defrontar um inimigo que além de estar a lutar no seu terreno, tinha um exército com cerca de 60000 guerreiros, ou seja, ultrapassava os portugueses numa proporção de 4 para 1.
Entre os muitos erros cometidos existem três que foram decisivos: 1º O percurso entre Arzila e Larache foi feito a pé, quando deveria ter sido feito de barco, o que desgastou fisicamente o nosso exército.2º Saiu de Larache que é uma zona costeira e onde poderia ter o apoio do poder de fogo dos navios, aliás estratégia essa, com grandes resultados em outras acções deste género e dirige-se para Alcácer Quibir, onde vai lutar numa zona quase desértica. 3ª A hora do combate que segundo consta deu-se perto do meio-dia, a hora em que havia mais calor. Dessa batalha poucos portugueses voltaram. O Rei provavelmente foi morto, embora o seu corpo nunca tenha sido encontrado.
Os efeitos desta batalha foram muito além das perdas humanas. Aproveitando essa situação Filipe ll de Espanha, invadiu Portugal derrubando um exército fragilizado que apoiava D. António o Prior do Crato. E assim Portugal ficou 60 anos sobre o Domínio Espanhol.
Filipe ll de Espanha passou a ser Filipe l de Portugal.
E aqui segue-se mais uma grande derrota. Filipe ll resolve construir a chamada “Invencível Armada “ para invadir a Inglaterra. Esta esquadra com 130 barcos, saiu de Lisboa a 28 de Maio de 1588. Aproximadamente um terço desta frota (43 navios) era português. Um dos principais esquadrões de batalha era chamado de “ Esquadra Portugal” contendo alguns dos melhores Galeões de guerra do Mundo. A maior parte dos navios foram destruídos. Foi uma humilhante derrota para os Espanhóis com graves repercussões para Portugal.
Depois vieram as invasões francesas em 1807.Em 1808 a Família Real com mais cerca de 10000 pessoas, onde se contava praticamente toda a aristocracia portuguesa, ministros, sacerdotes, criados, documentos e tudo o que era de valor, vão de abalada para o Brasil.
Como aquilo por lá era bom, só regressaram em 1921.
Por cá ficou o povo português, com a ajuda? Dos ingleses a combater os franceses e a sofrer maltrates e humilhações dos franceses e posteriormente dos ingleses, que se achavam no direito de punir e escravizar aqueles que ajudaram a salvar.
Mas como se isso não chegasse, veio o D. Miguel que ficou dono da coroa portuguesa, e depois vem o D. Pedro, que abdicou do título de Imperador do Brasil, para combater o irmão e colocar a sua filha D. Maria ll no trono de Portugal. Foi uma guerra civil, entre os absolutistas e os Liberais, para fazer sofrer um povo que já tanto tinha sofrido.
Também temos a batalha de La LYS, onde as tropas alemães provocaram uma estrondosa derrota ás tropas portuguesas. Esta é sem sombra de dúvidas a segunda maior catástrofe militar portuguesa a seguir a Alcácer Quibir.
Portugal tinha cerca de 20000 homens, mal armados e em condições precárias. Inclusivamente, alguns oficiais portugueses, já tinham comunicado ao governo português o estado de calamidade em que se encontravam as nossas tropas. Portugal tinha cerca de 15000 soldados nas primeiras linhas de combate, que foram impotentes para sustentar o embate com oito divisões do 6º exército Alemão, constituído por cerca de 55000 homens. As tropas portuguesas em apenas quatro horas, perderam cerca de 7500 homens, entre os quais 327 oficiais. Eu acho que dá para imaginar um pouco o que se passou por lá.
Estas breves linhas sobre alguns acontecimentos menos felizes e seguindo a minha reflexão, não são os únicos motivos para não sermos um povo de grandes euforias.
A Inquisição, quarenta e um anos (1933 a 1974) de ditadura .Uma guerra colonial (1959 até 1975) em que Portugal combatia simultâneamente em Angola, Moçambique, Cabinda, Guiné, Timor, entre outras colónias, também contribuíram em muito para o que somos.
Como podemos constatar, este é um povo que durante gerações não teve razões para rir, e isso ficou no nosso código genético. Ensinaram a este povo que quando tivesse dificuldades, rezasse a Fátima que ela iria ajudar. Deram-lhe o Futebol ao fim de semana para poder distrair-se, e o fado para através da canção, contar os seus lamentos.
Não lhe deram cultura, pois não interessava que o povo soubesse que havia algo mais que os três efes, (Fátima, Futebol e Fado)
Aos poucos vamos aprender a ser alegres e optimistas. A felicidade também se aprende.