sexta-feira, 31 de julho de 2009

Canónigos - mais um para a colecção


Hoje comi pela primeira vez canónigos. Vi no supermercado um saco transparente com uma planta verde, que eu desconhecia. Tinha escrito em letras grandes “saladas”, e numas letras de tamanho menor, “canónigos”. É claro que comprei, para experimentar. E fiz bem. Faz uma óptima salada. Aconselho a experiência, ninguém vai ficar desiludido (a).Depois fui ao Google, e claro que encontrei logo uma série de referências sobre o produto. Entre muitas encontrei esta: “o vegetal mais completo em termos nutritivos, os canónigos. Trata-se de um vegetal de folhas verdes carnudas com propriedades antioxidantes, extremamente rico em Ómega 3, vitaminas, fibras, ferro e proteínas “. Já tinha descoberto que o nabo é muito mais saboroso e melhor de comer cru do que cozido, agora com a descoberta dos canónigos as minhas saladas ficaram muito mais ricas e saborosas. A salada ficou assim: tomate ás rodelas, pepino aos pedaços, couve roxa ás tiras finas, pimentão vermelho ás tiras finas, canónigos e alface aos pedaços, cenoura e nabo raspado em tiras muito finas. Para temperar, sumo de limão e azeite. A acompanhar, queijo fresco. O contraste de sabores, faz com que a salada fique uma delícia.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

A Verdade ou a minha Verdade?


O ser humano que está na foto , sou eu, a tentar fotografar a verdade.












Quando ensinamos os nomes das cores às crianças, dizemos: esta cor é o azul. Mas nunca sabemos se a cor que a criança está a ver é a mesma que nós estamos a ver. O certo é que a partir desse momento a criança irá chamar sempre azul a essa cor. O azul que a criança está a ver pode ser o nosso amarelo, mas ambos chamaremos sempre azul aquela cor.

Ao longo da nossa vida vamos ensinando e aprendendo verdades. Mas, como podemos constatar, existe a possibilidade de duas pessoas identificarem um objecto correctamente quanto à sua cor e estarem a ver cores diferentes.


A única verdade absoluta que conheço é a da La Palisse. O senhor de La Palisse, foi um chefe militar francês que ficou celebre pelas suas vitórias em várias batalhas. Mas um dia, quando comandava os seus soldados na batalha de Pavia, foi morto em pleno combate.

Os seus soldados, homens do povo e de pouca cultura, quiseram fazer-lhe uma homenagem, compondo uma canção em sua honra. A letra da canção dizia o seguinte: “ O senhor de La Palice/ morreu em frente a Pavia/ momentos antes da sua morte/podem crer, inda vivia/ eheheheh.

Esta sim, é uma verdade absoluta.


A nossa verdade começa por ser a verdade dos outros. Ensinam-nos as verdades deles e, nós tomamos-las por verdades nossas.

Há quem viva toda a vida com a verdade dos outros e há quem como eu, queira ter a sua verdade. Quanto mais separarmo-nos da verdade dos outros, mais possibilidade teremos de ter a nossa verdade.

É preciso esvaziarmos a nossa mente das amarras que lhe colocaram e darmos-lhe liberdade para pensar, questionar, reflectir, ser criativa, etc.


Aos poucos, tenho criado a minha verdade, que pode ser má, até pode ser a maior mentira do mundo, mas é a minha verdade. Eu posso acreditar em coisas tontas , mas são as minhas coisas tontas, não são as coisas tontas dos outros.

A verdade é um estado evolutivo, a minha verdade de hoje não é a do passado, está em constante evolução. Todos os dias aprendemos e fazemos correcções.


Eu penso que o expoente máximo da nossa liberdade é termos uma verdade própria. Quando a nossa verdade é a verdade dos outros, corremos o risco de colocar bombas no corpo, fazê-las explodir, matar um montão de pessoas e acreditar que depois vamos para o paraíso e lá estão uma dezena de virgens á nossa espera para desfrutarmos de imensos prazeres.

Ou fazermos mal a alguém e depois irmos com o senhor padre que diz para rezarmos e estamos perdoados.


Enfim, cada um é livre de escolher as verdades que quiser, eu escolho as minhas e sinto-me muito bem com isso. De qualquer forma é importante conhecermos alguns conceitos sobre a verdade, proferidos por pessoas que pensaram sobre o assunto:


Segundo Nietzsche ” O ser humano, não aguenta saber todas as verdades que existem no universo. Por isso ele prefere ter Fé, pois assim ele não precisa saber o que é a VERDADE, por não suportá-la em sua própria estupidez humana. É cómodo… E a maior inimiga da verdade não é a mentira, pois esta se dilui com o tempo e a pesquisa lógica. A maior inimiga da verdade é a convicção, pois esta é a mãe da alienação fundamentada nos dogmas".


" O “maluco” do Osho ( forma carinhosa de o tratar) diz que : “A verdade é. Ela simplesmente é. Nada pode ser dito a respeito dela. E tudo o que for dito a respeito dela irá torna-la falsa”.


Segundo Platão: “ a verdade é tudo o que explica como as coisas são e a mentira como as coisas não são. Podemos também afirmar que a verdade é o contrário da ilusão; porque a ilusão consiste em fazer-nos tomar a aparência por realidade"


Para o filosofo madeirense Adriano Gonçalves 1961 até !..... D.C. eheheh A verdade tem de ser construída pela própria pessoa, estando em constante evolução. Para quem, a sua verdade é a verdade dos outros, vive na mentira, mesmo que a verdade dos outros seja mais verdadeira que a sua verdade.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

A palavra escrita ensinou-me a escutar a voz humana


Eu sei que sou suspeito para falar sobre este livro, devido à minha preferência literária ser o romance histórico. Comprei o livro, Memórias de Adriano em 2004, por duas razões: primeira, porque tinha curiosidade em ler algo da Marguerite Yourcenar , pois sabia que era uma grande escritora e que inclusivamente tinha sido a primeira mulher a ser eleita à Academia francesa de letras. A segunda razão, porque o meu nome é Adriano, senti curiosidade em saber algo sobre a vida desta personagem, pois além da famosa muralha de Adriano, pouco ou nada sabia sobre ele. O que vos posso dizer é que o livro é excepcional, está muito bem escrito, cheio de reflexões e conteúdos, que não podem deixar alguém indiferente. De seguida transcrevo um excerto do livro, onde podemos constatar a dimensão desta obra.

“Como toda a gente, só disponho de três meios para avaliar a existência humana: o estudo de nós próprios, o mais difícil e o mais perigoso, mas também o mais fecundo dos métodos; a observação dos homens, que na maior parte dos casos fazem tudo para nos esconder os seus segredos ou para nos convencer de que os têm; os livros, com os erros particulares de perspectiva que nascem entre as suas linhas. Li quase tudo quanto os nossos historiadores, os nossos poetas e mesmo os nossos narradores escreveram, apesar de estes últimos serem considerados frívolos, e devo-lhes talvez mais informações do que as que recebi das situações bastante variadas da minha própria vida. A palavra escrita ensinou-me a escutar a voz humana, assim como as grandes atitudes imóveis das estátuas me ensinaram a apreciar os gestos. Em contra partida, e posteriormente, a vida fez-me compreender os livros. Mas estes mentem, mesmo os mais sinceros. Os menos hábeis, por falta de palavras e de frases onde possam abrangê-la, traçam da vida uma imagem trivial e pobre; alguns, como Lucano, tornam-na mais pesada e obstruída com uma solenidade que ela não tem. Outros, pelo contrário, como Petrónio, aligeiram-na, fazem dela uma bola saltitante e vazia, fácil de receber e de atirar num universo sem peso. Os poetas transportam-nos a um mundo mais vasto ou mais belo, mais ardente ou mais doce que este que nos é dado, por isso mesmo diferente e praticamente quase inabitável. Os filósofos, para poderem estudar a realidade pura, submetem-na quase às mesmas transformações a que o fogo ou o pilão submetem os corpos: coisa alguma de um ser ou de um facto, tal como nós o conhecemos, parece subsistir nesses cristais ou nessas cinzas. Os historiadores apresentam-nos, do passado, sistemas excessivamente completos, séries de causas e efeitos exactos e claros de mais para terem sido alguma vez inteiramente verdadeiros; dispõem de novo esta dócil matéria morta, e eu sei que Alexandre escapará sempre mesmo a Plutarco. Os narradores, os autores de fábulas milésias, não fazem mais, como os carniceiros, que pendurar no açougue pequenos bocados de carne apreciados pelas moscas. Adaptar-me-ia muito mal a um mundo sem livros; mas a realidade não está lá, porque eles a não contêm inteira”
Espero ter aguçado a curiosidade sobre esta obra

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Será que está na hora?


A época de atletismo está a terminar, este fim de semana é o Campeonato Nacional Absoluto, última competição a nível Nacional. Estou muito cansado. Ano após ano adio projectos pessoais em prol de uma coisa que gosto muito, dar treino de atletismo.Praticamente não estou com a família, saio de casa muitas vezes ás 6 e meia da manhã, trabalho até ás 17 horas, de seguida vou para a pista de atletismo e muitas vezes só de lá consigo sair por volta das 21 horas. Não me identifico minimamente com o actual modelo de gestão da modalidade. Além disso, ficam de fora os projectos pessoais, os meus filhos de 8 e 3 anos e a minha esposa. Será que vale a pena tudo isto? será que chegou à hora de parar um pouco e pensar mais nos meus filhos do que nos filhos dos outros? se calhar sim!...
Um poema de Álvaro de Campos ( heterónimo de Fernando Pessoa, descreve um pouco o que sinto neste momento.)
Estou cansado, é claro,
Porque, a certa altura, a gente tem que estar cansado.
De que estou cansado, não sei:
De nada me serviria sabê-lo,
Pois o cansaço fica na mesma.
A ferida dói como dói
E não em função da causa que a produziu.
Sim, estou cansado,
E um pouco sorridente
De o cansaço ser só isto —
Uma vontade de sono no corpo,
Um desejo de não pensar na alma,
E por cima de tudo uma transparência lúcida
Do entendimento retrospectivo…
E a luxúria única de não ter já esperanças?
Sou inteligente; eis tudo.
Tenho visto muito e entendido muito o que tenho visto,
E há um certo prazer até no cansaço que isto nos dá,
Que afinal a cabeça sempre serve para qualquer coisa.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

O Português no seu melhor



Depois de ter lido este artigo, evito estar muito tempo a olhar um espelho. ehehehe.Embora já muito divulgado, este artigo tem de fazer parte do meu blogue. A mim fez-me pensar muito, espero que também a outras pessoas que o vão ler. No fundo tem um pouco de nós todos ( salvo rara excepção)
Eduardo Prado Coelho, antes de falecer, teve a lucidez de nos deixar esta reflexão, sobre nós todos, por isso façam uma leitura atenta.
ATREVE-TE A LER, OUSA REFLECTIR, SE TIVERES CORAGEM:Precisa-se de matéria-prima para construir um País - Eduardo Prado Coelho – in Público
A crença geral anterior era de que Santana Lopes não servia, bem como Cavaco, Durão e Guterres.Agora dizemos que Sócrates não serve.o que vier depois de Sócrates também não servirá para nada.Por isso começo a suspeitar que o problema não está no trapalhão que foi Santana Lopes ou na farsa que é o Sócrates.O problema está em nós. Nós como povo.Nós como matéria-prima de um país.Porque pertenço a um país onde a ESPERTEZA é a moeda sempre valorizada, tanto ou mais do que o euro.Um país onde ficar rico da noite para o dia é uma virtude mais apreciada do que formar uma família baseada em valores e respeito aos demais.Pertenço a um país onde, lamentavelmente, os jornais jamais poderão ser vendidos como em outros países, isto é, pondo umas caixas nos passeios onde se paga por um só jornal E SE TIRA UM SÓ JORNAL,DEIXANDO-SE OS DEMAIS ONDE ESTÃO.Pertenço ao país onde as EMPRESAS PRIVADAS são fornecedoras particulares dos seus empregados pouco honestos, que levam para casa,como se fosse correcto, folhas de papel, lápis, canetas, clips e tudo o que possa ser útil para os trabalhos de escola dos filhos ….e para eles mesmos.Pertenço a um país onde as pessoas se sentem espertas porque conseguiram comprar um descodificador falso da TV Cabo, onde se frauda a declaração de IRS para não pagar ou pagar menos impostos.Pertenço a um país:– Onde a falta de pontualidade é um hábito;– Onde os directores das empresas não valorizam o capital humano.– Onde há pouco interesse pela ecologia, onde as pessoas atiram lixo nas ruas e, depois, reclamam do governo por não limpar os esgotos.– Onde pessoas se queixam que a luz e a água são serviços caros.– Onde não existe a cultura pela leitura (onde os nossos jovens dizem que é ‘muito chato ter que ler’) e não há consciência nem memória política, histórica nem económica.– Onde os nossos políticos trabalham dois dias por semana para aprovar projectos e leis que só servem para caçar os pobres, arreliar a classe média e beneficiar alguns.Pertenço a um país onde as cartas de condução e as declarações médicas podem ser ‘compradas’, sem se fazer qualquer exame.– Um país onde uma pessoa de idade avançada, ou uma mulher com uma criança nos braços, ou um inválido, fica em pé no autocarro, enquanto a pessoa que está sentada finge que dorme para não lhe dar o lugar.– Um país no qual a prioridade de passagem é para o carro e não para o peão.– Um país onde fazemos muitas coisas erradas, mas estamos sempre a criticar os nossos governantes.– Quanto mais analiso os defeitos de Santana Lopes e de Sócrates,melhor me sinto como pessoa, apesar de que ainda ontem corrompi um guarda de trânsito para não ser multado.– Quanto mais digo o quanto o Cavaco é culpado, melhor sou eu como português, apesar de que ainda hoje pela manhã explorei um cliente que confiava em mim, o que me ajudou a pagar algumas dívidas.Não. Não. Não. Já basta.Como ‘matéria prima’ de um país, temos muitas coisas boas, mas falta muito para sermos os homens e as mulheres que o nosso país precisa.Esses defeitos, essa ‘CHICO-ESPERTERTICE PORTUGUESA’ congénita, essa desonestidade em pequena escala, que depois cresce e evolui até se converter em casos escandalosos na política, essa falta de qualidade humana, mais do que Santana, Guterres, Cavaco ou Sócrates, é que é real e honestamente má, porque todos eles são portugueses como nós,ELEITOS POR NÓS. Nascidos aqui, não noutra parte…Fico triste.Porque, ainda que Sócrates se fosse embora hoje, o próximo que o suceder terá que continuar a trabalhar com a mesma matéria prima defeituosa que, como povo, somos nós mesmos.E não poderá fazer nada…Não tenho nenhuma garantia de que alguém possa fazer melhor, mas enquanto alguém não sinalizar um caminho destinado a erradicar primeiro os vícios que temos como povo, ninguém servirá.Nem serviu Santana, nem serviu Guterres, não serviu Cavaco, nem serve Sócrates e nem servirá o que vier.Qual é a alternativa?
Precisamos de mais um ditador, para que nos faça cumprir a lei com a força e por meio do terror?Aqui faz falta outra coisa. E enquanto essa ‘outra coisa’ não comece a surgir de baixo para cima, ou de cima para baixo, ou do centro para os lados, ou como queiram, seguiremos igualmente condenados, igualmente estancados….igualmente abusados!É muito bom ser português. Mas quando essa portugalidade autóctone começa a ser um empecilho às nossas possibilidades de desenvolvimento como Nação, então tudo muda…Não esperemos acender uma vela a todos os santos, a ver se nos mandam um Messias.Nós temos que mudar. Um novo governante com os mesmos portugueses nada poderá fazer.Está muito claro… Somos nós que temos que mudar.Sim, creio que isto encaixa muito bem em tudo o que anda a acontecer-nos:
Desculpamos a mediocridade de programas de televisão nefastos e,francamente, tolerantes com o fracasso.É a indústria da desculpa e da estupidez.Agora, depois desta mensagem, francamente, decidi procurar o responsável, não para o castigar, mas para lhe exigir (sim, exigir)que melhore o seu comportamento e que não se faça de mouco, dedesentendido.Sim, decidi procurar o responsável e ESTOU SEGURO DE QUE O ENCONTRAREI QUANDO ME OLHAR NO ESPELHO.AÍ ESTÁ. NÃO PRECISO PROCURÁ-LO NOUTRO LADO.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

O que tem de ser, tem muita força



Como Já referi em artigos anteriores, depois de ter presenciado os Jogos Paralímpicos, fiquei com a certeza que a maior parte das nossas limitações são produtos da nossa mente, sendo a nossa capacidade muito superior às limitações criadas. Dai eu ter resolvido escrever sobre uma história que provavelmente nunca aconteceu mas, ilustra bem, como por vezes, somos ou não, condicionados. Esta história existe em várias versões, adaptei uma.
Duas crianças patinavam num Lago congelado. Era um dia típico de inverno na Alemanha, Céu cinzento e um frio de rachar. De repente, o gelo quebrou-se e uma das crianças caiu na água. A outra vendo o seu amigo a afogar-se debaixo do gelo, tirou o patim e começou a golpear o gelo com todas as forças, conseguindo quebrar o gelo e salvar o amigo. Alertados para a situação, chegaram os bombeiros, que ficaram estupefactos com a forma como o menino tinha tirado o amigo do Lago. Pois, segundo eles, era impossível umas mãos tão pequenas e ainda por cima com um patim quebrar aquela espessura de gelo. Nesse instante aproximou-se um velho que tinha presenciado a situação e disse: Eu sei como é que ele conseguiu. Todos questionaram: Como? O velho respondeu: Não havia ninguém por perto para dizer-lhe que não podia fazer!
“ Fazer ou não fazer algo, só depende da nossa vontade e perseverança”( Albert Einstein)

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Atletismo português campeão nos Global Games


Por vezes a infelicidade bate à porta, e entrega-nos alguém íntimo com grandes limitações físicas ou intelectuais. Nesse momento é bom sabermos que, entre os recursos disponíveis para ajudar, existe um, muito importante, mas raramente solicitado, que se chama desporto de competição. Um bom exemplo foi os Global Games 2009 realizados na República Checa, onde tive o privilégio de fazer parte da Selecção Nacional como técnico de atletismo. É uma competição destinada a quem as vicissitudes da vida, impediu de ter uma capacidade intelectual, enquadrada dentro dos parâmetros considerados normais. Esta competição surgiu, para colmatar a ausência da deficiência intelectual nos Jogos Paralímpicos. Eventos com esta dimensão, proporcionam a estes atletas especiais, uma oportunidade de atingirem a excelência, dos seus níveis técnicos e físicos ( dentro das suas limitações). Contribuindo assim, para diminuir a diferença existente, para os ditos “normais”, tornando todos mais iguais. Falando do atletismo, onde estou integrado, posso dizer que é uma modalidade onde todos são respeitados, aprendem a respeitar e onde a dignidade impera. O facto destes atletas nos treinos e nas competições estarem habituados a ultrapassar dificuldades, prepara-os para a vida, ajudando a compreender que para obter êxito, é sempre preciso muito trabalho. Que quando as coisas não correm bem, o desistir é a pior solução. Atletas com este tipo de deficiência, são muito desconcentrados e normalmente com grandes níveis de ansiedade e falta de confiança. Também nestes aspectos o desporto de competição ajuda muito, pois estes são factores, trabalhados no treino. Outro factor importante, é a possibilidade destes atletas treinarem e competirem juntamente, com os “ditos normais” o que facilita também a sua integração numa sociedade competitiva como a nossa. Nestes Global Games 2009, Portugal teve uma prestação excelente. Foi campeão em atletismo, feminino e masculino, futsal, basket , obteve diversas medalhas no ciclismo e numa modalidade experimental, remo Indor , também foi vencedor. Nas outras modalidades, onde esteve presente, obteve resultados dignos de registo. Mas este artigo não é para falar sobre resultados, que já foram mencionados em muitos órgãos de informação e estão disponíveis na Net. É somente para enaltecer, e constatar que: Num País, de dimensão territorial e populacional tão reduzida é fantástico a obtenção de tantos êxitos, á frente de Países como os Estados Unidos , Brasil, Venezuela, etc, onde só uma cidade tem mais população do que Portugal. Para obter tantos êxitos a este nível, com certeza que existe uma grande base de recrutamento e para tal, muita gente a trabalhar bem nesta área. Também podemos concluir que a estrutura responsável por esta área no nosso caso (ANDDI) está bem organizada. Em síntese, podemos dizer que não somos um grande País, mas temos gente com um coração do tamanho do Mundo. Devemos ter orgulho nestes atletas, pessoas, muitas delas no anonimato e instituições que trabalham com eles (onde eu não me incluo, devido a minha colaboração ser ínfima). E termino como sempre gosto, com uma frase “ A pedra não tem esperança de ser outra coisa que não pedra, mas ao colaborar, ela torna-se templo” Saint- Exupéry
Ao amigo C.P. que provavelmente nunca leu esta frase, mas sempre soube o significado que transmite

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Ácido láctico - O bom,o Mau e o Vilão

O ácido láctico tem sido ao longo dos anos o vilão do desporto.
Muitas vezes relacionado com a especialização precoce, acusado de destruir talentos que (supostamente) foram sujeitos a treinos com elevados níveis de lactato na sua fase de formação. Responsável pelas dores musculares após treinos de elevada intensidade e culpado de nos últimos metros de uma prova o atleta ser ultrapassado. Ou seja, quando o atleta não tem o rendimento pretendido, é ele normalmente o culpado.

Então começam as suposições:

- O atleta fez pouco treino de lactato, e por isso não suporta a acumulação e não consegue manter os níveis de velocidade.

- Ou fez muitos treinos com elevadas concentrações de ácido láctico e o seu sistema neuromuscular ficou saturado tornando o atleta lento.

- Talvez não tenha efectuado um bom trabalho de capacidade e potência aeróbia, fazendo com que o lactato apareça precocemente e a sua remoção seja muito lenta, etc.

Mas será que é mesmo verdade? Será ele o culpado de tudo o que de mau acontece? É claro que eu não tenho a resposta, mas vou debruçar-me um pouco sobre este assunto a ver se consigo chegar a alguma conclusão. Não vou descrever o que é o ácido láctico, ou como se forma, porque isso já toda gente sabe. Vou mencionar apenas alguns dados relativos ao tema, que possibilitem uma reflexão. Como gosto do treino da corrida de velocidade, vou colocar as situações como treinador desta disciplina.
E começo com a seguinte questão:

As grandes concentrações do ácido láctico são prejudiciais, benéficas ou não têm influncia no treino dos corredores de velocidade?
Vou mencionar algumas situações, e pode ser que alguém dê uma opinião a este artigo que possa levar a um melhor esclarecimento sobre esta substância, que efectivamente tem enorme importância na planificação do treino. As grandes concentrações de ácido láctico, têm uma interferência negativa no sistema neuromuscular. Pois o lactato acumulado invade a fenda sináptica provocando alterações no funcionamento da acetilcolina, (acetilcolina é o único neurotransmissor utilizado no sistema nervoso somático e um dos muitos neurotransmissores do sistema nervoso autónomo – Wikipédia) provavelmente através de uma menor liberação desta substancia. Esta molécula “mensageira” tem a função de transmitir os impulsos nervosos para as fibras musculares, de forma a que as contracções musculares se produzam com a eficiência desejada. Se o seu normal funcionamento for limitado por algum factor, as contracções musculares não serão eficientes, o que tornará o atleta mais lento. Segundo Jayme Netto "o ácido láctico é o inimigo número 1 da velocidade de condução nervosa".

Outra situação a destacar, embora eu não conheça nenhum estudo científico sobre a mesma, é que a estrutura muscular quando exposta a uma acidose continuada, perde mobilidade e o músculo torna-se mais rígido.

Também é comum atribuirmos ao ácido láctico aquelas dores musculares que aparecem nas horas subsequentes e dias imediatos aos treinos intensos. Mas, segundo estudos recentes, essas dores não são provocadas pelo ácido láctico, mas sim pelos micro traumatismos provocados no músculo, que iniciam um processo inflamatório cerca de 24 horas após o esforço. No entanto, durante e logo após o exercício, por vezes o acido láctico provoca dor aguda, ardor, indisposição e muitas vezes até o vómito.

Mas para termos êxito nas competições de velocidade é necessário trabalharmos este mecanismo e treinamos com alguns dos objectivos, que passo a mencionar:

1. Melhorar o sistema de reabsorção do lactato;
2. Melhorar a tolerância à concentração do lactato;
3. Manter o funcionamento do sistema apesar do lactato;
4. Suportar maiores concentrações de lactato;
5. Aperfeiçoar a coordenação em situações lácticas, etc

Além disso, o acido láctico tem importantes funções no organismo, sendo uma substancia essencialmente utilizada:

1. No fornecimento de energia;
2. Na eliminação dos hidratos de carbono provenientes da alimentação;
3. Na produção de glicose;
4. No aumento de resistência em condições extremas, etc.

Com estes pequenos exemplos ficamos a saber que ele é mau, mas também bom e imprescindível.

Agora interessa saber como manipular esta situação no treino:
Se melhorarmos o metabolismo aeróbio do atleta, atrasamos a alta concentração de lactato e melhoramos a velocidade de remoção do mesmo. Mas se trabalhamos o sistema aeróbio sobre a forma de capacidade, desenvolvemos as fibras tipo 1 lentas, o que não interessa no treino de velocistas. Então este metabolismo só deve ser treinado no regime de potência onde são estimuladas as fibras intermédias tipo 2A.
Em relação aos treinos de potência e capacidade láctica devemos separar estas sessões com o maior intervalo possível, tentar remover o ácido láctico dos músculos o mais rapidamente e intercalar as sessões lácticas, com treinos de características estruturais, regenerativas, potência aeróbia, de capacidade ou potência aláctica. Mas aqui surge outro problema.

O professor Paulo Colaço fez uma experiência com atletas velocistas de bom nível Nacional, utilizando modelos referenciados na literatura como trabalho aláctico. Os testes foram os seguintes:
Corrida a intensidade sub máxima.
- 1º teste 8 x 30 metros 3´intervalo;
- 2º teste 8 x 60 metros 3´intervalo;
- 3º teste 8 x 30 metros 6´intervalo;
- 4º teste 8 x 60 metros 6´intervalo.
E o resultado foi que houve atletas que atingiram nestes testes 14,59 e 15,21 de milimoles de acido láctico.

Como podemos constatar, em apenas dois simples exemplos, a terminologia por vezes prega-nos umas partidas. Por vezes pensamos que estamos a trabalhar muito bem e estamos a fazer um monte de asneiras. Não me alongo mais sobre o tema , porque sei, que ninguém gosta de ler artigos muito longos, mas espero ter despertado um pouco de curiosidade. E para acabar, uma frase “ :

"A teoria só pode erguer-se a partir de uma prática conhecida e reflectida”