À pergunta arrogante: mas você
sabe quem eu sou? Você sabe com quem está a falar? O filósofo brasileiro Mário
Cortella responde mais ou menos assim: sei, você é um entre 7,5 biliões de
indivíduos, pertencente a uma única espécie, entre outros 30 milhões de
espécies que habitam um pequeno planeta, que gira em volta de uma estrela
mediana, que é uma entre 100 biliões de estrelas que fazem parte de uma
galáxia, entre outros 200 biliões de galáxias que existem num dos universos
possíveis e que um dia vai desaparecer. E acaba esta dissertação dizendo: ainda
assim você acha-se importante? É claro que esta resposta se destina a quem tem
um comportamento arrogante por se considerar superior. A história da humanidade
relata-nos as imensas personalidades que deram grandes contributos nas mais
diversas áreas e, na defesa de causas com grandes benefícios para a humanidade.
Muitos desses famosos, perpetuam a sua imagem em estátuas e nos compêndios,
alguns eu admiro, agradeço o que fizeram, mas não são importantes para mim. Ser
importante, para mim, tem um sentido muito mais íntimo. Analisando o sentido
etimológico da palavra Importante, a sua origem é do latim importare (in +
portar) o prefixo in significa dentro e portar significa transportar. Ou seja,
uma pessoa importante é aquela transportamos para dentro de nós, que levamos no
nosso “coração”. É alguém que nos faz falta, que esteve connosco quando mais
precisamos, é quem nunca esqueceremos. Feliz aquele que tem no seu pai, mãe,
cônjuge, filhos, pessoas importantes para si. Feliz quem consegue ter “amigos”
que na verdadeira essência da palavra são pessoas importantes. Triste quem não
faz falta a alguém. Triste aquele que pela vida que levou não tem a quem
revelar a sua tristeza. Tchékhov num dos seus contos, fala do concheiro Iona a
quem lhe tinha morrido o filho e que no seu enorme desgosto precisava de falar
com alguém no sucedido, mas ninguém tinha vontade de o ouvir. Então, numa noite
em que não conseguia dormir dirigiu- se à cavalariça e começa a falar com a sua
égua: “É assim a vida, eguazinha amiga...
já cá não está o Kuzmá Iónitch…. Entregou a alma ao Criador… De repente, sem
mais nem menos apagou-se …. É assim: digamos que tu tens um potrinho, que és a
mãe do potrinho…E de repente, é um supor, o teu potrinho entrega a alma ao
Criador…Grande pena, não era? A égua mastiga, ouve e respira para as mãos do
dono. Iona não tem mão em si e conta-lhe tudo” Podemos acabar como o
cocheiro Iona, sem sermos importantes para alguém, agarrados a um animal de
estimação, ou simplesmente colocados num Lar ou abandonados num Hospital sem
alguém que nos queira ouvir. Precisamos sair de dentro de nós, para que os
outros nos possam “importar” e tornar-nos importantes. Façamos obra, lutemos
por causas, não habitemos dentro duma redoma. Sejamos bons seres humanos e
exteriorizemos essa condição de forma a podermos gravar o nosso nome no coração
de outras pessoas. É importante sermos importantes.
sexta-feira, 27 de abril de 2018
sexta-feira, 6 de abril de 2018
Ídolos
Desde os primórdios que a escrita faz alusão à
idolatria. Um texto bíblico do antigo testamento, conta que o rei da Babilónia
Nabucodonosor pediu ao profeta Daniel para lhe decifrar o seguinte sonho: “Uma estátua alta e muito brilhante com uma aparência
impressionante. A cabeça da estátua era de ouro maciço, o peito e os braços
eram de prata, o ventre e as coxas de bronze, as pernas de ferro e os pés parte
de ferro e parte de barro. Uma pedra desprendeu-se da montanha, e veio bater
nos pés da estátua quebrando-os”. E claro, toda a estátua se desmoronou. Consta que provém desta história a
frase: “Ídolos com pés de barro”. Embora esta história tenha mais de 2600 anos,
pode servir de reflexão para a atualidade onde como nunca se promovem Ídolos. A
economia através das técnicas de marketing e utilizando os mais avançados meios
de comunicação faz do ídolo, um produto que tenta rentabilizar financeiramente.
É demais evidente a tentativa de idolatrizar o mais possível. Esta, é uma ação
socialmente perigosa, porque os jovens, têm a tendência de imitar os
comportamentos dos seus ídolos, sendo muitos deles inadequados. Proliferam as
referências aos comportamentos desviantes dos chamados “ídolos com pés de
barro”, heróis vitimas do infortúnio, provavelmente por terem sido colocados
num pedestal, para o qual não estavam preparados. São medalhas devolvidas
devido à utilização do doping, internamentos para desintoxicação devido ao
consumo de drogas, violência doméstica, alcoolismo, prostituição, enfim, um
sem-números de situações que põem a descoberto o quanto falível é o ser humano,
para ser elevado a Ídolo e venerado. É preciso destruir este ídolo que bloqueia
a inteligência humana. Cultuar cega e, não nos deixar ver o outro, ficamos
obcecados. Onde poderíamos ver a grandeza da diversidade humana, vemos
simplesmente aquele que para nós está acima de tudo. É natural gostarmos,
valorizarmos e reconhecermos o valor daqueles que são exímios na sua arte, que
atingiram a excelência. É bom examinarmos os seus percursos, aprender com eles,
retermos o útil, mas, não venerar essas personalidades. A idolatria não deixa
ver que existem cidadãos anónimos, gente honesta, culta, inteligente e humilde,
que são verdadeiros exemplos para todos. Estes não têm campanha de marketing,
mas são tão ou mais importantes que as celebridades. Não têm uma plateia pela
frente, mas são exímios na arte de: “construir um mundo melhor”. Gente
altruísta, que depois de um dia árduo de trabalho anda pelas ruas ajudando os
sem abrigo, distribuindo alimentos. Alguns arriscando a vida nos campos de
refugiados, nos lugares mais inóspitos do planeta, ajudando quem mais precisa.
Outros, “comendo o pão que o diabo amassou” para sustentar uma família, dar
formação e educação aos seus filhos. Estes nunca serão ídolos, nunca saberemos
onde é a sua campa para os ir visitar, mas são a base da construção de uma
sociedade melhor.
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