sexta-feira, 27 de abril de 2018

Ser Importante


À pergunta arrogante: mas você sabe quem eu sou? Você sabe com quem está a falar? O filósofo brasileiro Mário Cortella responde mais ou menos assim: sei, você é um entre 7,5 biliões de indivíduos, pertencente a uma única espécie, entre outros 30 milhões de espécies que habitam um pequeno planeta, que gira em volta de uma estrela mediana, que é uma entre 100 biliões de estrelas que fazem parte de uma galáxia, entre outros 200 biliões de galáxias que existem num dos universos possíveis e que um dia vai desaparecer. E acaba esta dissertação dizendo: ainda assim você acha-se importante? É claro que esta resposta se destina a quem tem um comportamento arrogante por se considerar superior. A história da humanidade relata-nos as imensas personalidades que deram grandes contributos nas mais diversas áreas e, na defesa de causas com grandes benefícios para a humanidade. Muitos desses famosos, perpetuam a sua imagem em estátuas e nos compêndios, alguns eu admiro, agradeço o que fizeram, mas não são importantes para mim. Ser importante, para mim, tem um sentido muito mais íntimo. Analisando o sentido etimológico da palavra Importante, a sua origem é do latim importare (in + portar) o prefixo in significa dentro e portar significa transportar. Ou seja, uma pessoa importante é aquela transportamos para dentro de nós, que levamos no nosso “coração”. É alguém que nos faz falta, que esteve connosco quando mais precisamos, é quem nunca esqueceremos. Feliz aquele que tem no seu pai, mãe, cônjuge, filhos, pessoas importantes para si. Feliz quem consegue ter “amigos” que na verdadeira essência da palavra são pessoas importantes. Triste quem não faz falta a alguém. Triste aquele que pela vida que levou não tem a quem revelar a sua tristeza. Tchékhov num dos seus contos, fala do concheiro Iona a quem lhe tinha morrido o filho e que no seu enorme desgosto precisava de falar com alguém no sucedido, mas ninguém tinha vontade de o ouvir. Então, numa noite em que não conseguia dormir dirigiu- se à cavalariça e começa a falar com a sua égua: “É assim a vida, eguazinha amiga... já cá não está o Kuzmá Iónitch…. Entregou a alma ao Criador… De repente, sem mais nem menos apagou-se …. É assim: digamos que tu tens um potrinho, que és a mãe do potrinho…E de repente, é um supor, o teu potrinho entrega a alma ao Criador…Grande pena, não era? A égua mastiga, ouve e respira para as mãos do dono. Iona não tem mão em si e conta-lhe tudo” Podemos acabar como o cocheiro Iona, sem sermos importantes para alguém, agarrados a um animal de estimação, ou simplesmente colocados num Lar ou abandonados num Hospital sem alguém que nos queira ouvir. Precisamos sair de dentro de nós, para que os outros nos possam “importar” e tornar-nos importantes. Façamos obra, lutemos por causas, não habitemos dentro duma redoma. Sejamos bons seres humanos e exteriorizemos essa condição de forma a podermos gravar o nosso nome no coração de outras pessoas. É importante sermos importantes.

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