sexta-feira, 20 de março de 2015

A ciência e a religião


A diferença do código genético do homem para o seu parente mais próximo, o chimpanzé, é de apenas 1,5 %. Alguns estudos mais recentes falam numa percentagem inferior a 5%.” Em muitas funções e aptidões muitos animais são superiores ao homem, exemplo das aves e golfinhos que revelam um sentido de orientação excecional. Cães e gatos possuem olfato e audição muito superiores ao nosso. Aquilo que nos distingue realmente é a dimensão relativa do nosso córtex “

 Muitas pessoas ficam ofendidas quando digo que a nossa diferença para com os animais é fundamente termos um cérebro mais elaborado e sofisticado. O que nós chamamos de massa cinzenta é o córtex, onde mora a inteligência, e o seu desenvolvimento é que faz a diferença entre o homem e os animais. Penso que a educação religiosa e as tradições são as principais causas da ofensa. A bíblia, como sabemos, permite interpretações para todos os gostos, não fosse assim e não haveriam tantas religiões com interpretações tão diversas sobre os mesmos temas. Ao longo dos anos foram apenas citados versículos que fora de contexto autorizam o homem a alimentar-se dos animais e a relegar os mesmos para um plano inferior e de serventia. Interpretações idênticas aconteceram relativamente à mulher, predestinada a ser serva do homem, à utilização da escravatura, legitimando inclusive o aparecimento da inquisição, as cruzadas e outras barbaridades. Sendo a consciência a minha única religião, não nego que sempre me senti atraído pela história das religiões e que gosto de ler a bíblia. Por esta razão, revolvi mencionar alguns versículos onde a bíblia exorta ao respeito pelos animais e sugere uma alimentação vegetariana para uma melhor vivência entre todos.

 Eclesiastes 3:18-21 que diz o seguinte:“Disse ainda comigo: é por causa dos filhos dos homens, para que Deus os prove, e eles vejam que são em si mesmos como os animais.  Porque o que sucede aos filhos dos homens sucede aos animais; o mesmo lhes sucede: como morre um, assim morre o outro, todos têm o mesmo fôlego de vida, e nenhuma vantagem tem o homem sobre os animais; porque tudo é vaidade. Todos vão para o mesmo lugar; todos procedem do pó e ao pó tornarão. Quem sabe se o fôlego de vida dos filhos dos homens se dirige para cima e o dos animais para baixo, para a terra?

 Gênesis 1:29 e 1:30 onde se apresenta a primeira lei dietética estabelecida por Deus para o homem e para os outros animais: “E disse Deus: Eis que vos tenho dado todas as ervas que dão sementes e se acham na superfície de toda a terra, e todas as árvores em que há frutos que dão sementes; isso vos será por alimento. E a todos os animais da terra, e a todas as aves dos céus, e a todos os répteis da terra, em que há fôlego de vida, toda erva verde lhes será para mantimento. E assim se fez.”

Isaías 11: 6-8 e 65:25 é onde podemos verificar o plano que Deus preconiza em que com a vinda do messias o mundo irá tornar-se vegetariano tal qua era no jardim do Éden:O lobo habitará com o cordeiro, e o leopardo se deitará junto ao cabrito; o bezerro, o filhote do leão e o animal doméstico andarão juntos, e um condutor pequeno os guiará.  A vaca e a ursa pastarão juntas, e as suas crias juntas se deitarão; o leão como o boi comerá palha. A criança de peito brincará sobre a toca da áspide, e o já desmamado meterá a mão na cova do basilisco.”  “O lobo e o cordeiro pastarão juntos, e o leão comerá palha como o boi; pó será a comida da serpente. Não se fará mal nem dano algum em todo o meu santo monte, diz o Senhor.

Tertúlia do sábado à tarde



 Nas tertúlias do sábado à tarde, quando no emaranhado das conversas, surge algo sobre a sustentabilidade do planeta “ temos o caldo entornado”. Os três R´s, da sustentabilidade; reduzir o consumo, reutilizar dando novas utilidades às coisas que já não necessitamos e reciclar para diminuir a quantidade de resíduos que vão para as lixeiras, poupando também na utilização de matérias-primas, permitem um vasto leque de opiniões que uma longa tarde de conversa por vezes não é suficiente para provocar consensos.

 Frases simples como: Devemos ter práticas que estabeleçam uma relação de harmonia entre o que consumimos e o meio ambiente ou, como alguém já escreveu; “ambiente limpo não é o que mais limpa, mas o que menos suja” por mais incrível que pareça não são consensuais.

 Neste tema a pessoa mais interventiva do grupo e a quem vou dar o nome fictício de Manuela recusa-se a fazer reciclagem e por mais que eu tente argumentar sobre os benefícios desta prática existe sempre um contra-argumento.

 A Manuela não faz reciclagem porque lá no condomínio onde vive quase ninguém faz, por essa razão diz: ou fazem todos ou não vale a pena fazer. Além do mais, desconfia que na recolha, o carro do lixo volta a misturar tudo. Disse-lhe que o dever dela era fazer a sua parte como o louva-a-deus na história do incêndio na floresta. Como ela desconhecia a história, lá contei, e passo a descrever: Houve um grande incêndio na floresta e os animais começaram a fugir das chamas, nessa fuga desenfreada o elefante viu um louva-a-deus com um pouco de água no bico indo em direção às chamas. O elefante perplexo perguntou ao louva-a-deus:- O que é que vais fazer? Ao que o louva-a-deus respondeu: - Vou apagar o incêndio. O elefante nem queria acreditar e disse-lhe: -Tu és louco, não vez que essa gotícula de água, não serve para nada, foge connosco ou vais morrer. O louva-a-deus respondeu: -Eu vou fazer a minha parte.

    Depois a Manuela argumentou que a nossa dimensão é tão pequena e o que podemos fazer é tão pouco, que a influência dos nossos hábitos a nível do planeta é nula. Lá ataquei eu com a famosa frase do Edmund Burke “ Ninguém cometeu maior erro, do que aquele que nada fez só porque o que podia fazer era muito pouco”. Os meus argumentos nunca eram suficientes.

 Logo de seguida disse-me que não era empregada do lixo, que pagávamos impostos para que alguém fizesse esse serviço. Lá tive que lembrar-lhe que ela também não era empregada das bombas de gasolina e deitava combustível no carro e não era empregada do supermercado e fazia os pagamentos nas máquinas de Auto atendimento, ações mais graves, pois retiravam postos de trabalho.

 Cada argumento meu só servia para elevar o nível da discussão. A minha amiga acabou por dizer o que lhe ia na alma, que essa coisa da reciclagem é tudo uma treta. Foi ao telemóvel, fez uma busca no Google a apresentou-me uma lista com dez itens de supostos malefícios da reciclagem. Estas a ver? E agora o que dizes? Disse-lhe que não me guiava pelo Google, mas pelo meu raciocínio e consciência, esses eram os meus maiores valores. Propus que ela tentasse ver o planeta como um condomínio, exatamente como o condomínio onde vivia. Que pensasse um pouco na influência que as ações dos seus vizinhos em termos de higiene e segurança nas próprias casas, têm na casa dela. Enfim, vão ter que passar ainda algumas gerações para mudar mentalidades.

Mas numa terra onde pessoas ditas normais ocupam constantemente estacionamentos destinados a pessoas com deficiência, onde existe gente que fica aborrecida porque perdeu algum tempo na estrada devido a um deficiente que ia numa cadeira de rodas movida eletricamente. Gente que usa uma ferramenta para retirar as moedas dos carrinhos de supermercado só para não o irem colocar no respetivo local. Pais que ensinam os filhos a apagar sempre a luz por causa da conta da eletricidade e não para diminuir a poluição que a produção de energia elétrica provoca. Não podemos esperar atitudes altruístas de quem cultiva o egoísmo, quem não respeita o seu semelhante nunca irá respeitar um planeta.

quinta-feira, 19 de março de 2015

A Armada Invencível


Portugal foi campeão da europa em atletismo nos sectores feminino e masculino: As equipas portuguesas venceram de forma inequívoca o 7º campeonato da europa de atletismo em pista coberta para atletas do INAS (deficiência intelectual).As selecções nacionais no seu conjunto conquistaram 25 medalhas (8 ouro, 8 prata e 9 bronze). Para a revalidação destes títulos, além do excelente contributo de todos os elementos envolvidos neste evento, contribuiu em muito, a prestação individual da estrela da equipa, Lenine Cunha, que conquistou 8 medalhas (2 ouro, 2 prata e 4 bronze), praticamente um terço do total das medalhas conquistadas. É de salientar as excelentes prestações de Érica Gomes com o recorde Nacional absoluto no triplo salto, Pedro Isidro na marcha que fez recorde dos campeonatos e realço também a veterana Graça Fernandes a quem a soma dos anos parece fazer bem. A presença de três jovens açorianos, Ana Filipe, Maria Sousa e Carlos Lima, todos a bom nível, são a evidência de uma renovação que se continua a fazer e da capacidade de recrutamento da ANDDI.

 Ao longo dos últimos anos, as excelentes prestações tanto individuais como coletivas dos nossos atletas nas competições INAS, têm sido o maior meio de divulgação do atletismo adaptado. A constante presença destes atletas na comunicação social, e a divulgação dos resultados nas redes sociais, tem contribuído de forma decisiva para o esclarecimento da importância que o desporto adaptado tem num melhor e mais equilibrado desenvolvimento social. Vivendo como vivemos, um momento de transformação no desporto adaptado, é de bom senso proteger estas atividades e ter muito cuidado em não matar a galinha dos ovos de ouro.

São Petersburgo, a antiga capital do império Russo foi a anfitriã deste campeonato. Com uma excelente organização tanto a nível do quadro competitivo como na componente social, este campeonato primou pela ausência de alguns países de referência nesta modalidade. Este facto não foi impeditivo da realização de alguns resultados de alto nível. Na minha opinião, essas ausências devem-se ao facto de durante a presente época ainda existirem mais duas grandes competições internacionais, uma no Equador e outra Qatar, tendo a actual crise financeira obrigado alguns países a fazerem opções.

Nota final: No último dia do campeonato a organização proporcionou a todos os intervenientes um passeio turístico pela cidade. A cidade confirmou a ideia que eu tinha dela, uma cidade muito linda, deslumbrante. Um dia gostaria de voltar para poder ver por dentro tudo aquilo que eu vi por fora. Uma referência à voluntária Alexandra Ivanova, uma estudante Bielorussa de apenas 21 anos, que fala um excelente português e sabe mais sobre a história e literatura de Portugal que muitos portugueses. Uma daquelas pessoas que vale a pena conhecer. Deixei para último o mais importante, El Comandante Costa Pereira, que com a sua dedicação e conhecimento consegue com que Portugal atinga estes patamares na área do atletismo da deficiência intelectual. Gosto de ver a sua entrada tipo furacão, transmitindo uma grande energia a todos e estabelecendo regras de uma forma muito clara que desmotiva qualquer atleta a infringi-las.