sexta-feira, 11 de junho de 2010

Cromos - uma colecção e uma lição




Quando eu era miúdo coleccionava cromos (estampas coloridas) com jogadores de futebol. Eram rebuçados (balas) de açúcar que traziam embrulhados as fotos dos craques com um número no verso. Depois comprava uma caderneta e começava a cola-los nos respectivos números (como não tinha cola, fazia uma mistura de farinha com água), só que em milhares de cromos havia um que era único, não era repetido, esse era conhecido pelo premiado. Sem ele não se completava a caderneta que daria uma bola de futebol em cautchouc (coisa fina para a altura). Durante a minha infância e tal como milhares de miúdos coleccionei cadernetas incompletas, pois faltava sempre o premiado.
Com as colecções de cromos, além dos nomes dos jogadores, também aprendi a negociar. Por vezes tinha que dar muitos cromos em troca de um e vice-versa. Ajudou-me na criatividade, e foram as minhas primeiras lições sobre organização (que acabei por nunca aplicar, sou desorganizado por natureza). Mas a grande lição foi com o premiado que nunca vinha parar ás minhas mãos. Através dele, fiquei a saber que há coisas na vida que temos que “lutar” muito para obter e mesmo quando damos o nosso máximo não conseguimos. Mas também aprendi que vale a pena lutar, e que quando termina uma colecção mesmo incompleta, aparecerá outra, para tentarmos completar. Fazendo uma analogia com a minha vida, ainda hoje continuo a fechar cadernetas incompletas, embora já me tenham saído alguns premiados (onde coloco os meus filhos), mas em muitas situações ainda procuro premiados, pois há cadernetas da minha vida que estão incompletas. Mas sei que, com a lição que aprendi com os cromos, até o último dia da minha vida, não deixarei de tentar completa-las.
Continuando a divagar:
Na Terça-feira fui buscar o meu filho à escola (infelizmente um acontecimento raro) e deparei-me com um enorme alvoroço. Da sala do meu filho não saía nenhum aluno. Estavam vários pais à porta da sala num autentico burburinho.
No Pátio os alunos estavam todos organizados em Grupos, havia alguns empurrões, faziam um ruído e uns movimentos que fazia lembrar uma feira. Após algum tempo, fiquei a saber que os alunos da sala do meu filho não podiam sair, porque um aluno tinha-se apropriado indevidamente dos cromos de um colega. A agitação no Pátio, era devido à troca de cromos de jogadores de Futebol. As conversas eram todas à voltas dos jogadores, Já tens o Messi? E o Ronaldo? Queres trocar?
Quem diria que estes putos, os tais da playstation portátil, game boy, phonescoop e outros avanços tecnológicos, andavam seduzidos pelos pedacinhos de papel com fotografias de jogadores de futebol, tal qual os miúdos há 40 ou talvez 50 anos atrás. Afinal eles não são diferentes! UFF que alivio.
Deram-lhe uns cromos e a mão que segurava a tecnologia passou logo a segurar uma simples caderneta.
Os cromos já não trazem o doce de açúcar, o que é muito bom para a saúde. Também já não é preciso cola , pois são auto-colantes, não há o premiado, nem prémio para quem completa a caderneta, mas o entusiasmo é o mesmo.
Espero que expliquem aos miúdos que uma colecção de cromos, além do respectivo divertimento, tem outros atributos, que podem ser úteis.
Quando eles não conseguirem os cromos que pretendem, não os deixem desistir da colecção, e digam-lhes o que estão aprendendo com isso. Eles precisam de ter sempre uma forma positiva de ver qualquer situação , por muito ruim que ela seja.
Vendo bem as coisas, tanto podemos dizer que as rosas têm espinhos, como podemos dizer que os espinhos Têm rosas.

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