O homem vivia em grupo, ia vagueando pelas imensas terras, coletando os
alimentos de que necessitava sem ter que forçar a natureza a nada que não fosse
natural. Supõe-se que se alimentava de raízes, plantas e frutos que ia
retirando das árvores. Com o aumento demográfico ele sentiu necessidade de se apoderar
das árvores e reproduzi-las a fim de ter alimento suficiente para si e para o
seu grupo. Plantou mais árvores, fez um risco no chão e passou a ser dono
daquela área repartindo os alimentos segundo os seus interesses. Aquilo que
deveria pertencer a toda a humanidade passou a pertencer a um só homem ou a um
grupo de homens. Este é o pecado original, que deu origem à maior parte do sofrimento
humano. A Bíblia regista este momento metaforicamente no episódio em que Eva e
Adão, incentivados pela serpente comeram o fruto da árvore do conhecimento. O
que diz esta metáfora é que, quando comeram aquele fruto que era de todos e por
isso não podia ser de ninguém, cometeu-se um erro (pecado) muito grave. O comer
o fruto da árvore proibida representa simbolicamente o momento em que o homem
tomou conta da árvore, fez o tal risco no chão e deu início ao que hoje chamamos
de propriedade privada. A partir desse momento, o homem começou a tornar-se sedentário,
aconteceram os “assentamentos permanentes” que deram origem às cidades, depois
aos países e por fim aos impérios. O homem apropriou-se de tudo o que era livre
na natureza, aprisionou, domesticou e torturou os animais, aprisionou e tornou
escravos outros homens e explorou a natureza castigando o planeta com as
maiores atrocidades possíveis. A partir do momento em que o homem disse: “esta
árvore é minha” o seu sentido de posse foi aumentando, tornou-se insaciável.
Para obter o que julgava ter direito, fez as guerras, que ao longo dos séculos
têm matado milhões e milhões de pessoas, deixou um rasto de destruição e causou
um sofrimento incomensurável. Será que este percurso poderia ter sido feito de
outra forma? Provavelmente não. O nosso futuro terá de ser a continuidade deste
mundo de ganância em que poucos têm demais e muitos têm de menos? Viveremos num
mundo onde segundo a ONU atualmente 2,4 biliões de pessoas não têm acesso a
água potável, enquanto outros esbanjam os seus recursos hídricos? Em que uns
morrem pela gula e outros pela fome, porque não têm um grão de cereal para
comer? Poluiremos o nosso planeta de tal forma a não ser possível a existência
de vida? Vamos acreditar que esse não é o nosso destino e, que o nosso futuro
será o sonho do homem “poeta português” com que sonharam Camões com a criação
da “Ilha dos Amores”, o Padre António Vieira e posteriormente Fernando Pessoa
com a criação do “Quinto Império”. Sonharam que o “Quinto Império” seria o
império português e Portugal iria ajudar a construir um império civilizacional,
espiritual, de fraternidade universal a ser vivido na terra. Este “Quinto Império”
promoveria a transformação e purificação da humanidade que conduziria a uma
relação harmoniosa entre o homem os animais e a natureza, entre o homem e Deus.
Segundo o homem “poeta português” a humanidade alcançará um grau de perfeição,
entrará em comunhão com o divino, tendo acesso ao conhecimento e implantará a
paz e a fraternidade no mundo. Poderemos chamar a este sonho do homem “poeta português”
uma utopia, como foi uma utopia a construção do país que é Portugal, do dobrar o
Cabo do Bojador, do Caminho Marítimo para a Índia e tantas outras utopias que
os portugueses acabaram por tornar realidade. Hoje em dia já é fácil de
constatar na sociedade portuguesa uma transformação de mentalidade e criação de
um novo paradigma ambiental, ético, cultural, civilizacional e espiritual. Estejam
atentos…
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