sexta-feira, 10 de agosto de 2012

O Fio da Navalha de Somerset Maugham

O Fio da navalha de Somerset Maugham é um romance intemporal, pois embora se situe entre a primeira e segunda guerra mundial, passando pela crise económica de 1929, aborda temas que são intrínsecos ao ser humano. O protagonista do romance é Larry, as principais personagens secundárias são: Isabel, Gray, Elliott, Suzanne Rouvier, Sophie e o próprio narrador. Embora todas estas personagens tenham algum tipo de relacionamento com Larry, não gravitam em seu redor só com o objetivo de contar a sua história, pois cada uma personifica um determinado tipo de comportamento humano, que nos leva a uma reflexão.

Em relação às personagens, Identifico-me com Larry na sua busca espiritual. Larry gostava de ler os grandes pensadores da humanidade, era bom ouvinte e não se negava experienciar vários tipos de religiosidade que de alguma forma pudessem contribuir para uma melhor compreensão da razão da sua existência. Na busca de um sentido para a vida, Larry viajou para Paris, e depois para a India onde parece que encontrou o que procurava. Mas não era um seguidor, foi sempre um pensador solitário. Quanto a Isabel, comecei por compreendê-la, mas ao longo do romance acabei por antipatizar com esta personagem, e quem ler o livro saberá a razão. Isabel amava Larry mas acabou por casar com Gray, pois o tipo de vida que Larry lhe propunha estava muito longe daquela que idealizava, onde o prestígio social e uma espiritualidade sem compromisso eram dois itens indispensáveis. Suzanne Rouvier é um tipo de pessoa que vive a vida juntando o útil ao agradável. Acaba por não ser uma pessoa feliz, mas também não passa por momentos de grande infelicidade. Vive o dia-a-dia com muito pragmatismo. Sophie é na minha opinião a personagem mais infeliz do romance. Era boa menina, muito alinhada, gostava de ler e escrever poesia. A vida acabou por não lhe correr bem e não teve força e sorte suficiente para dar a volta. A vida dela fez-me rever algumas pessoas conhecidas, e até amigas que passaram pelo mesmo. Elliott, tio de Isabel, pertence a uma classe que em Portugal apelidamos de jet set (socialite), vive de rendimentos, passa a vida a dar festas onde só convida gente importante, e faz tudo para participar nas chamadas festas chiques da alta sociedade. Para ele a aparência é o mais importante. Foi salvo da grande depressão de 1929 pelo vaticano, com quem tinha ótimas relações e lhe aconselhou a vender todas as ações, antes dos valores da bolsa terem descido drasticamente. Gray era o melhor amigo de Larry, amava Isabel com quem acabou por casar. Filho único de um milionário, foi uma das vítimas da crise económica de 1929, ficando na miséria. O narrador, Somerset Maugham, diz que conheceu os protagonistas e quanto à história escreve: “Não inventei nada. Para poupar constrangimentos a pessoas ainda vivas, dei às personagens que desempenham papéis nesta história nomes fictícios e tomei todas as precauções para evitar que alguém às reconhecesse”. Não sei se é verdade, mas se é, ele foi um homem com muita sorte por ter partilhado um pouco da sua vida com estas pessoas.

Pequeno excerto de um diálogo entre Larry e Isabel:

- “ Quero tomar uma decisão quanto à existência ou não existência de Deus – Quero descobrir porque existe o mal. Quero saber se tenho uma alma imortal ou se é o fim de tudo quando morrer.”
 - “ As pessoas têm-se colocado essas perguntas desde há milhares de anos. Se fosse possível encontrar as respostas certamente alguém já o teria feito.”
  - “ Se os homens fazem perguntas destas há milhares de anos, isso só prova que não conseguem deixar de às fazer e que têm de continuar a fazê-las”

Pequeno excerto de um diálogo entre o narrador e Isabel:

– Está muito apaixonada por Larry?
– Vá para o diabo. Nunca amei mais ninguém em toda a minha vida.
- Então porque casou com Gray?
- Tinha de casar com alguém. Ele era doido por mim e a minha mãe queria que eu casasse com ele. Toda a gente me dizia que era uma sorte ter-me livrado do Larry. E eu gostava muito do Gray; ainda gosto………. – Penso que realmente não o amava, mas uma pessoa passa bem sem o amor. Lá no fundo era pelo Larry que eu suspirava……….

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