sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

Cassandra


                   
Cassandra era a mais formosa das filhas de Príamo rei de Tróia. A mitologia grega, através da ilíada, conta que o Deus Apolo concedeu a Cassandra o dom de predizer o futuro em troca do seu amor por ele. Mas, Cassandra faltou à sua palavra. Apolo irritado, ordenou que as profecias de Cassandra não merecessem algum crédito e quem às ouvia acabava ridicularizando as mesmas. Assim, quando Cassandra previu a destruição de Tróia, ninguém levou a sério, o mesmo aconteceu quando pediu que destruíssem o famoso cavalo de Tróia e, com a profecia sobre a morte de Ageamenon. Consideravam-na louca. Como sabemos, essas profecias acabaram por concretizar-se. Hoje, na psicologia, utiliza- se o termo: “síndrome ou complexo de Cassandra”, uma metáfora para designar pessoas que, apesar de falarem verdade, são tidas como mentirosas, ou quando alguém visando o melhor, avisa e aconselha, mas os seus avisos e conselhos são ignorados. Fazendo uma analogia e um pouco de ironia, parece-me quea maldição do Deus Apolo, que ao longo dos séculos tem atingido as mais diversas intelectualidades da história, hoje atinge fundamentalmente os defensores da sustentabilidade do planeta e, aqueles que se preocupam com o bem comum e com o futuro das gerações vindouras. Isto passa-se a nível regional, Nacional e internacional. Quem não se lembra da famosa palmeira no Porto Santo, várias pessoas alertaram para a sua perigosidade, foram ignoradas e vítimas de chacota, a mesma acabou por cair fazendo duas vítimas. Os avisos públicos feitos pelo geógrafo Raimundo Quintal, para uma possível catástrofe devido ao estado das ribeiras e zonas adjacentes. O geógrafo foi acusado de profeta da desgraça, inimigo da Madeira e ridicularizado. Depois o previsto aconteceu e foi a destruição que se viu. Um recente relatório da ONU aponta a América Latina como a região mais hostil aos ambientalistas. Por toda a América latina e Caraíbas, os activistas ambientais são desacreditados, classificados como “ antidesenvolvimento” e, enfrentam os piores obstáculos na sua luta por um mundo mais sustentável. Em muitos casos a sua cruzada em prol do planeta e dos direitos humanos tem custado as suas vidas. Entretanto vão-nos chegando notícias credíveis sobre o estado em que estamos deixando a nossa casa. No oceano Pacífico existe a maior lixeira do mundo, conhecida nos meandros científicos pela “ Sopa de plástico”. Estima-se que esta lixeira flutuante seja composta por cerca de cem milhões de toneladas de lixo. Segundo a ONU, os resíduos de plástico matam por ano mais de um milão de aves marinhas e mais de cem mil mamíferos marinhos. A verdade (incómoda) sobre a produção de animais em serie, para um consumo desmesurado de carne que está dizimando os recursos naturais do planeta. As florestas estão perdendo a área de um campo de futebol por segundo, para a criação de pastos para a pecuária, que por sua vez também é considerada a principal fonte de contaminação de oceanos, rios e aquíferos. O aquecimento global, segundo as últimas notícias está chegando ao aumento de 1ºC, ou seja, à metade da trajectória para um aquecimento de 2ºC que é considerado pelos climatologistas como “perigoso”. A enumeração destas situações continuava mas falta-me espaço. Não sejamos como os troianos, não passemos a vida a ridicularizar todos aqueles que nos avisam sobre o mal que estamos a fazer à natureza e, as consequências nefastas que isso ira trazer. Sejamos seres inteligentes, analisar, reflectir e agir pela nossa consciência. Não deixemos que a nossa Tróia (planeta) seja destruída.

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