Na sequência de uma conversa, perguntaram se eu era mesmo
vegetariano. Eu respondi que sim. “Eu também gostava de ser, não acho bem o que
fazem aos animais, mas a vida é curta e temos que aproveitar todos os prazeres,
não consigo prescindir do prazer de comer carne e peixe”. Esta observação fez-me
lembrar a análise que ouvi de uma professora de filosofia, Lúcia Galvão da Nova
Acrópole, sobre o musical “O Fantasma da Ópera”. A filósofa analisando a obra
numa perspetiva metafórica, interpreta a história como uma luta entre a
essência humana e o apego material. Contextualizando,” O Fantasma da ópera” é
um romance francês de Gaston Leroux publicado em 1910, com várias adaptações
para o teatro e cinema, sendo o musical mais visto de sempre, por mais de 140
milhões de pessoas. Os principais protagonistas são: Erik o fantasma, que por
ter o rosto deformado usa uma máscara e vive nos subterraneos da ópera,
Christine a quem o fantasma através das suas lições de canto ajuda a
transformar-se numa grande soprano e, Raoul um amigo de infância de Christine,
que é o patrocinador da ópera. A narrativa conta-nos o amor que o fantasma
(Erik) e Raoul têm por Christine e a indecisão desta sobre por quem optar. O
fantasma (Erik) que numa primeira fase não tinha uma presença física perante
Christine, pois ela só ouvia a sua voz, a que chamava “a voz do anjo da
música”, representa o mundo das verdades o desenvolvimento espiritual a
verticalidade. Ele era um génio, mas pela sua deformação física, era negado
pelos homens e vivia escondido nos subterrâneos escuros do teatro. Raoul, representa
o ego, o mundano a banalidade os prazeres efémeros a horizontalidade. Christine
vivia crucificada entre estes dois mundos, tal como a maior parte de nós, vivia
no conflito do dualismo, espírito/ matéria, bem /mal. Enquanto Christine, só
ouvia a voz do fantasma, as palavras deste eram maravilhosas, cheias de brilho,
mas, quando viu o rosto de Erik e soube que era ele o assassino de algumas pessoas
do teatro, que lhe queria roubar os prazeres da vida, chama-o de monstro. O que
Erik matou são as superficialidades, “as distrações do palco da vida”, que
impedem de sermos a nossa verdadeira essência. Por vezes, fazemos algo que vai
contra a nossa consciência, sentimos remorsos, sentimos essa luta que Christine
travou, entre o certo e o errado que traz benefícios materiais. É normal
colocarmos máscaras na nossa face, a maior parte de nós foi educada assim. Mas,
como diz na peça: “Ainda que tenhas muitas máscaras a tua verdadeira face, a
tua essência humana, ainda te perseguirá”. Christine optou por Raoul (a vida
feliz cheia de futilidades), é o que a maior parte de nós faria. Quando
confrontamos a nossa consciência, achamo-la um monstro, com as nossas
debilidades e vícios não estamos preparados para ver o seu rosto e colocamo-la
nas caves escuras do nosso intimo. E como disse a pessoa que me interpelou, “A
vida é curta e temos que aproveitar todos os prazeres”. O ideal, seria
aproveitar a vida, mas sem ter medo de olhar a face da nossa consciência.
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Excelente "metáfora", caro amigo Adriano!!! (Gilberto)
ResponderEliminarDespertar a consciência para outras realidades, dava jeito. :))
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