segunda-feira, 22 de outubro de 2018

O Fantasma da Ópera


Na sequência de uma conversa, perguntaram se eu era mesmo vegetariano. Eu respondi que sim. “Eu também gostava de ser, não acho bem o que fazem aos animais, mas a vida é curta e temos que aproveitar todos os prazeres, não consigo prescindir do prazer de comer carne e peixe”. Esta observação fez-me lembrar a análise que ouvi de uma professora de filosofia, Lúcia Galvão da Nova Acrópole, sobre o musical “O Fantasma da Ópera”. A filósofa analisando a obra numa perspetiva metafórica, interpreta a história como uma luta entre a essência humana e o apego material. Contextualizando,” O Fantasma da ópera” é um romance francês de Gaston Leroux publicado em 1910, com várias adaptações para o teatro e cinema, sendo o musical mais visto de sempre, por mais de 140 milhões de pessoas. Os principais protagonistas são: Erik o fantasma, que por ter o rosto deformado usa uma máscara e vive nos subterraneos da ópera, Christine a quem o fantasma através das suas lições de canto ajuda a transformar-se numa grande soprano e, Raoul um amigo de infância de Christine, que é o patrocinador da ópera. A narrativa conta-nos o amor que o fantasma (Erik) e Raoul têm por Christine e a indecisão desta sobre por quem optar. O fantasma (Erik) que numa primeira fase não tinha uma presença física perante Christine, pois ela só ouvia a sua voz, a que chamava “a voz do anjo da música”, representa o mundo das verdades o desenvolvimento espiritual a verticalidade. Ele era um génio, mas pela sua deformação física, era negado pelos homens e vivia escondido nos subterrâneos escuros do teatro. Raoul, representa o ego, o mundano a banalidade os prazeres efémeros a horizontalidade. Christine vivia crucificada entre estes dois mundos, tal como a maior parte de nós, vivia no conflito do dualismo, espírito/ matéria, bem /mal. Enquanto Christine, só ouvia a voz do fantasma, as palavras deste eram maravilhosas, cheias de brilho, mas, quando viu o rosto de Erik e soube que era ele o assassino de algumas pessoas do teatro, que lhe queria roubar os prazeres da vida, chama-o de monstro. O que Erik matou são as superficialidades, “as distrações do palco da vida”, que impedem de sermos a nossa verdadeira essência. Por vezes, fazemos algo que vai contra a nossa consciência, sentimos remorsos, sentimos essa luta que Christine travou, entre o certo e o errado que traz benefícios materiais. É normal colocarmos máscaras na nossa face, a maior parte de nós foi educada assim. Mas, como diz na peça: “Ainda que tenhas muitas máscaras a tua verdadeira face, a tua essência humana, ainda te perseguirá”. Christine optou por Raoul (a vida feliz cheia de futilidades), é o que a maior parte de nós faria. Quando confrontamos a nossa consciência, achamo-la um monstro, com as nossas debilidades e vícios não estamos preparados para ver o seu rosto e colocamo-la nas caves escuras do nosso intimo. E como disse a pessoa que me interpelou, “A vida é curta e temos que aproveitar todos os prazeres”. O ideal, seria aproveitar a vida, mas sem ter medo de olhar a face da nossa consciência.

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