quinta-feira, 1 de julho de 2010

As razões de um povo triste - Apenas a minha opinião


Ontem falava com um amigo e questionava o porquê do sentimento de fatalidade do povo português. De eu achar que na sua essência, o nosso povo é triste. Porque é que nós temos o Fado e os brasileiros o Samba?
Na sequência dessa conversa, nasce este artigo, onde eu vejo algumas razões, do porquê de sermos assim.
Normalmente quando se conta a história de um País, evitamos falar das derrotas, preferimos enaltecer tudo o que de bom foi feito. Hoje vou escrever umas breves notas, sobre as grandes derrotas de Portugal.
A primeira grande derrota foi a quatro de Agosto de 1578 com a batalha de Alcácer Quibir. A teimosia de um rei sem experiência militar, e que se recusava terminantemente a seguir os conselhos dos seus capitães, esses sim, homens com conhecimento na arte de guerrear, fez dessa batalha o maior desastre da história militar portuguesa.
D. Sebastião organizou um exército com cerca de 17000 homens para atacar o norte de África. Cometeu muitas imprudências, não teve em consideração as regras mais básicas para defrontar um inimigo que além de estar a lutar no seu terreno, tinha um exército com cerca de 60000 guerreiros, ou seja, ultrapassava os portugueses numa proporção de 4 para 1.
Entre os muitos erros cometidos existem três que foram decisivos: 1º O percurso entre Arzila e Larache foi feito a pé, quando deveria ter sido feito de barco, o que desgastou fisicamente o nosso exército.2º Saiu de Larache que é uma zona costeira e onde poderia ter o apoio do poder de fogo dos navios, aliás estratégia essa, com grandes resultados em outras acções deste género e dirige-se para Alcácer Quibir, onde vai lutar numa zona quase desértica. 3ª A hora do combate que segundo consta deu-se perto do meio-dia, a hora em que havia mais calor. Dessa batalha poucos portugueses voltaram. O Rei provavelmente foi morto, embora o seu corpo nunca tenha sido encontrado.
Os efeitos desta batalha foram muito além das perdas humanas. Aproveitando essa situação Filipe ll de Espanha, invadiu Portugal derrubando um exército fragilizado que apoiava D. António o Prior do Crato. E assim Portugal ficou 60 anos sobre o Domínio Espanhol.
Filipe ll de Espanha passou a ser Filipe l de Portugal.
E aqui segue-se mais uma grande derrota. Filipe ll resolve construir a chamada “Invencível Armada “ para invadir a Inglaterra. Esta esquadra com 130 barcos, saiu de Lisboa a 28 de Maio de 1588. Aproximadamente um terço desta frota (43 navios) era português. Um dos principais esquadrões de batalha era chamado de “ Esquadra Portugal” contendo alguns dos melhores Galeões de guerra do Mundo. A maior parte dos navios foram destruídos. Foi uma humilhante derrota para os Espanhóis com graves repercussões para Portugal.
Depois vieram as invasões francesas em 1807.Em 1808 a Família Real com mais cerca de 10000 pessoas, onde se contava praticamente toda a aristocracia portuguesa, ministros, sacerdotes, criados, documentos e tudo o que era de valor, vão de abalada para o Brasil.
Como aquilo por lá era bom, só regressaram em 1921.
Por cá ficou o povo português, com a ajuda? Dos ingleses a combater os franceses e a sofrer maltrates e humilhações dos franceses e posteriormente dos ingleses, que se achavam no direito de punir e escravizar aqueles que ajudaram a salvar.
Mas como se isso não chegasse, veio o D. Miguel que ficou dono da coroa portuguesa, e depois vem o D. Pedro, que abdicou do título de Imperador do Brasil, para combater o irmão e colocar a sua filha D. Maria ll no trono de Portugal. Foi uma guerra civil, entre os absolutistas e os Liberais, para fazer sofrer um povo que já tanto tinha sofrido.
Também temos a batalha de La LYS, onde as tropas alemães provocaram uma estrondosa derrota ás tropas portuguesas. Esta é sem sombra de dúvidas a segunda maior catástrofe militar portuguesa a seguir a Alcácer Quibir.
Portugal tinha cerca de 20000 homens, mal armados e em condições precárias. Inclusivamente, alguns oficiais portugueses, já tinham comunicado ao governo português o estado de calamidade em que se encontravam as nossas tropas. Portugal tinha cerca de 15000 soldados nas primeiras linhas de combate, que foram impotentes para sustentar o embate com oito divisões do 6º exército Alemão, constituído por cerca de 55000 homens. As tropas portuguesas em apenas quatro horas, perderam cerca de 7500 homens, entre os quais 327 oficiais. Eu acho que dá para imaginar um pouco o que se passou por lá.
Estas breves linhas sobre alguns acontecimentos menos felizes e seguindo a minha reflexão, não são os únicos motivos para não sermos um povo de grandes euforias.
A Inquisição, quarenta e um anos (1933 a 1974) de ditadura .Uma guerra colonial (1959 até 1975) em que Portugal combatia simultâneamente em Angola, Moçambique, Cabinda, Guiné, Timor, entre outras colónias, também contribuíram em muito para o que somos.
Como podemos constatar, este é um povo que durante gerações não teve razões para rir, e isso ficou no nosso código genético. Ensinaram a este povo que quando tivesse dificuldades, rezasse a Fátima que ela iria ajudar. Deram-lhe o Futebol ao fim de semana para poder distrair-se, e o fado para através da canção, contar os seus lamentos.
Não lhe deram cultura, pois não interessava que o povo soubesse que havia algo mais que os três efes, (Fátima, Futebol e Fado)
Aos poucos vamos aprender a ser alegres e optimistas. A felicidade também se aprende.

3 comentários:

  1. Como é que eles conseguiram fazer aquilo??? Tão poucos para tantos?? Hoje estamos "ao Tio, ao Tio", e nada fazemos. Nunca mais falo contigo, não sou teu criado, nem "Mouso" inspirador.
    Abraço

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  2. Que interessante ler esse seu post! Porque um dos cursos que fiz na faculdade nesse último semestre foi sobre o Mundo Ibérico. E vi muito sobre Portugal e sobre esse sentimento triste, trágico daí. Segundo meu professor e de suas leituras e interpretações, esse sentimento vem justamente do fato de uma história que deveria ser (ou parecia que seria) tão gloriosa, acabar e não restar mais nada... Como se fosse o destino mesmo, o fado...

    Pode ser que eu concorde, ainda não sei. Acho que concordo. Mas pensando assim também me parece, ao mesmo tempo, reduzir toda essa história e esse sentimento.

    Enfim... Só um comentário inútil agora, rs: o samba nem sempre é feliz. Podemos lembrar daquela letra: "... mas pra fazer um samba com beleza, é preciso um bocado de tristeza, se não não se faz um samba não..." ;)

    Um abraço.

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  3. Mas, será que não continuamos na mesma? Fátima: Enquanto cá esteve o Papa foi uma alegria para o Governo actual; Futebol: O Benfica ganhou o campeonato não se falou de outra coisa, durante o Mundial não se falou de outra coisa, O CR comprou um filho não se fala de outra coisa, uma alegria pra o Governo; Fado: Mesmo assim é o que nos vai valendo.

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