segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Na realidade, eu sou aquilo que não sou





Quem é que eu sou realmente? Sou as várias personagens que eu criei e represento e nas quais acredito com tal convicção que acabo por perder-me dentro delas, ou serei uma outra pessoa que nem sei que existe?
Isto tem tudo a ver com a obra “A apresentação do eu na vida de todos os dias” de Erving Goffman e da qual passo a descrever de forma muito sucinta algumas ideias que retirei da mesma.

Erving Goffman em vez de fazer uma análise do que é a realidade, debruça-se sobre a forma como vemos a realidade, ou seja em que circunstâncias pensamos que as cenas que vemos ou fazemos são reais. Na sua perspectiva toda a gente em toda a parte com maior ou menor consciência está sempre a representar, todos somos actores.
Por essa razão, e na sua óptica é que utilizamos a palavra “pessoa” que tem origem na palavra grega prósopon que significa máscara. A pessoa que nos tornamos ao representar certos papeis e a forma como vemos as representações dos outras pessoas, passam a ser as personagens mais verdadeiras, pois são nelas que projectamos os nossos ideais, no fundo, aquilo com que nos gostaríamos de parecer.
A personagem que representamos e o que realmente somos acabam por fundir-se e formar a pessoa (máscara) pois segundo o autor nascemos como indivíduos, adquirimos carácter e só depois é que nos transformamos em pessoas (máscaras)
Para podermos representar uma máscara que seja coerente é necessário cumprir certos deveres sociais, e actuar de forma consistente. Goffman recorre a vários exemplos para demonstrar as dificuldades que existem no desempenho da máscara e apresenta soluções para as ultrapassar.
O autor classifica a forma como desempenhamos os nossos papéis, de “cínico” quando não acreditamos nos papéis que representamos, nem temos interesse em convencer a nossa audiência e de “Sincero” quando acreditamos na impressão que o nosso desempenho vai causar.
Goffman chama de fachada a um conjunto de elementos através dos quais o publico avalia ou descobre onde decorre a cena qual é o estatuto do autor assim como o papel que o mesmo procura desempenhar. Dela fazem parte o “Quadro” constituído pelo cenário e o palco onde se irá representar a acção humana e outras subdivisões como “aspectos cénicos da fachada”, fachada pessoal” etc.
A minha interpretação do texto é que perante a sociedade em que vivemos, acabamos por criar adaptações para podermos responder de maneira satisfatória às expectativas solicitadas pela mesma. Tentamos criar perante a sociedade a imagem que a própria sociedade define como ideal e assim podermos impressionar os outros elementos da sociedade positivamente. Esta situação também é válida perante nós próprios, que normalmente queremos ser aquilo que idealizamos e não o que somos na realidade. O benefício do desempenho é que “ Se nunca tentássemos parecer um pouco melhores do que somos, como seriamos capazes de nos tornar de facto melhores” .

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