sexta-feira, 8 de abril de 2016

Livro - Os Maias de Eça de Queiroz


Reler os Maias é sempre um prazer e um pouco de tristeza. Prazer pela bela leitura que este romance proporciona e, um pouco de tristeza por não ter o prazer de o ler pela primeira vez. Embora já o tivesse lido há muitos anos, tinha na mente as principais passagens deste magnífico romance. É claro, que atualmente apercebi-me de uma série de situações, fundamentalmente críticas sociais, que quando o li na minha juventude não tinham grande significado para mim. Muitos amigos dizem-me: eu fui obrigado a ler isso na escola, mas não li o livro, só li o resumo. Não sabem o que perderam. Não vou fazer um resumo do livro, pois já existem tantos, vou só colocar alguns excertos que achei interessantes e que me tinham passado despercebidos aquando da primeira leitura.

Achei interessante a abordagem no livro sobre o ensino. Primeiro o questionar o excesso de carga horária e a utilização de conteúdos que não têm utilidade. Depois a discussão na assembleia sobre a inclusão das aulas de ginástica nas escolas a que o Conde Gouvarinho respondeu: "Creia o digno par que nunca este país retomará o seu lugar à testa da civilização, se, nos liceus, nos colégios, nos estabelecimentos de instrução, nós outros os legisladores formos, com mão ímpia, substituir a cruz pelo trapézio".

Chamou-me também à atenção a referência às instituições de proteção dos animais que já se faziam ouvir na Europa do seculo XIX. Também nesta situação Portugal não acompanhava o pensamento dos países mais evoluídos. Defendia- se que em vez de corridas com cavalos era mais importante uma boa tourada.

“... Pois é verdade, tenho esse fraco português, prefiro toiros. Cada raça possui o seu sport próprio, e o nosso é o toiro: o toiro com muito sol, ar de dia santo, água fresca e foguetes... Mas sabe o Sr. Salcede qual a vantagem da tourada? É ser uma grande escola de força, de coragem e de destreza... Em Portugal não há instituição que tenha importância igual à tourada de curiosos. E acredite uma coisa: é que se nesta triste geração moderna ainda há em Lisboa uns rapazes com um certo músculo, a espinha direita, e capazes de dar um bom soco, deve-se isso ao toiro e à tourada de curiosos...O marquês entusiasmadíssimo bateu palmas. Aquilo é que era falar! Aquilo é que era dar a filosofia do toiro! Está claro que a tourada era uma grande educação física! E ainda havia uns imbecis que falavam em acabar com os toiros! Oh! Estúpidos, acabais então com a coragem portuguesa! (…) O quê, o toiro? Está claro! O toiro devia ser neste país como o ensino é lá fora: gratuito e obrigatório”.

Outras frases e referencias de grande encanto podemos encontrar neste livro.

“ – Falhamos na vida, menino! – Creio que sim…Mas todo o mundo mais ou menos a falha. Isto é, falha-se sempre na realidade aquela vida que se planeou com a imaginação”

“É extraordinário! Neste abençoado país todos os políticos têm «imenso talento» ……..Um país governado «com imenso talento», que é de todos na Europa, segundo o consenso unânime, o mais estupidamente governado !Eu proponho isto ,a ver: que, como os talentos sempre falham, se experimentassem uma vez os imbecis”

 ... uma senhora alta, loura, com um meio véu muito apertado e muito escuro que realçava o esplendor de sua carnação ebúrnea. Craft e Carlos afastaram-se, ela passou diante deles, com um passo soberano de deusa, maravilhosamente bem-feita, deixando atrás de si como uma claridade, um reflexo de cabelos de ouro, e um aroma no ar. Trazia um casaco colante de veludo branco de Gênova, e um momento sobre as lajes do peristilo brilhou o verniz de suas botinas.

Para descrever tudo o que gostei, seriam precisas muitas folhas, fico por aqui e dou um conselho a que ainda não leu que leia e, quem já leu que releia, pois por certo que irá encontrar muitas coisas que passaram despercebidas na primeira vez. E como não há duas sem tês, um dia mais tarde por certo, vou voltar a lê-lo.

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