segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

A Desculpa


Existe a desculpa esfarrapada cujo expoente é a famosa frase: “eu não tenho culpa, a culpa é do meu signo”, a desculpa religiosa “a culpa é do diabo, foi ele que me tentou” e a desculpa cientifica, “A culpa é do Gene “.  A desculpa é transversal a toda a sociedade, desde o trivial ao argumento mais sofisticado, existem desculpas para todos os gostos. No parlamento brasileiro uma deputada expressou de forma convicta: “A corrupção está no DNA do brasileiro”. É sobre a desculpa científica que vou tecer algumas palavras neste artigo. Não me querendo imiscuir numa área que não domino, limito-me a referenciar somente o que a um leigo é permitido. O DNA é constituído por cromossomas que por sua vez são constituídos por genes. Os genes são um género de manual de instruções codificadas. A nossa herança biológica, (hereditariedade) é transmitida pelas características codificadas nos genes. Segundo o biólogo Dawkins, os genes é que criaram o nosso corpo e a nossa mente. Compreendendo a parte biológica dos genes, já não é tão claro, que sejam eles os responsáveis pelas nossas atitudes, perfil psicológico, emoções, opções morais e éticas. É comum a expressão: “Não podemos fazer nada, ele é assim, faz parte da sua genética (feitio)”. O geneticista Dean Hamer, depois de já ter mencionado um gene responsável pela homossexualidade, mais propriamente o cromossoma x secção xq28, saiu recentemente com um livro (O gene de Deus) que revela o gene (Vmat2) como responsável pela fé religiosa. Embora não explique se foi esse gene responsável pelo homem criar Deus ou se foi Deus que criou esse gene para o homem saber da sua existência. Também um estudo efectuado na Finlândia revelou dois genes que podem estar ligados à violência. Já se identificou o gene do alcoolismo e, até o da promiscuidade e da infidelidade. Ou seja, nós não somos responsáveis pelas nossas ações, mas umas “pobres” vítimas dos genes. É claro que estes argumentos já estão a ser utilizados habilmente pelos advogados para redução de penas. Acredito no livre arbítrio filosófico, doutrina que afirma: “o ser humano é livre de escolher ou decidir em função da sua própria vontade, estando isento de qualquer condicionamento prévio ou causa determinante” Acredito na educação que por sua vez produz o respeito. Acredito na consciência e, não acreditando na religião, acredito na espiritualidade. O corpo não é simplesmente uma máquina para a sobrevivência e transmissão dos genes é, também uma entidade para o desenvolvimento do espírito. O que provoca o alcoolismo não é o gene é, a infelicidade e a miséria humana. Os cerca de 800 milhões de pessoas ameaçados de morte por causa da fome, devido ao desperdício de alimentos. Os 60 biliões de animais mortos por ano nos matadouros, o aquecimento global, a infestação dos produtos agrícolas com químicos e toda a destruição da natureza, as guerras para fomentar a venda de armas, a precariedade no emprego e desigualdades sociais, nada disto tem desculpa, a culpa não é dos genes, dos signos ou do diabo é da estupidez humana, que como Einstein disse: “É infinita”.

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