O sermão de Stº António aos
peixes, proferido pelo Padre António Vieira em São Luís do Maranhão a 13 de junho
de 1654, é uma alegoria intemporal, a sua voz fez um eco que se ouve até os
dias de hoje. Neste sermão serviu-se da alegoria e, pregando aos peixes, tentou
sensibilizar a consciência humana. Começou o sermão referindo que Stº António,
quando pregava em Itália na cidade de Arímino contra os hereges, vendo que as suas palavras não eram bem
recebidas e pouco faltando para lhe tirarem a vida, não deixou de pregar,
simplesmente mudou de púlpito e de
auditório, ”já que não me querem ouvir os
homens, ouçam-me os peixes”, deixou as praças e foi para as praias pregar
aos peixes. Estando o Padre Vieira, numa situação análoga à de Stº António e
encontrando-se perto do mar, fez como o santo e pregou aos peixes. Destacou as
virtudes dos peixes em geral e enalteceu de sobremaneira quatro deles. Criticou-os
também de forma global, relativamente à sua ignorância, vaidade, cegueira e más
condutas e, por se comerem uns aos outros, com a agravante de serem sempre os
maiores a comerem os mais pequenos, explorando e humilhando os mais
desfavorecidos. Também na crítica escolheu quatro peixes que por fazerem
lembrar a hipocrisia e mesquinhez dos homens, mereceram uma crítica mais
profunda. Embora o sermão fosse sobre as atrocidades que os sanguinários
colonos portugueses infligiam aos nativos, o tema continua atual, porque
continuamos a viver num Mundo onde grande parte da população continua a ser
explorada por alguns que dominados pela ganância, o muito é insuficiente.
Deveríamos ler e meditar Vieira pelo conteúdo moralista e pela escrita de rara
beleza. Fernando Pessoa escreveu que Vieira era o “imperador da língua portuguesa”. Atualmente na situação de
emergência ecológica que vivemos e não querendo os homens ouvirem os que tentam
salvar a humanidade e o planeta, será que temos de voltar a pregar aos peixes
para que os homens nos oiçam? Nunca houve no Mundo gente tão inculta com poder
para fazer tanto mal. Dois exemplos de incultura: Bolsonaro presidente do
Brasil, respondendo a um jornalista como resolver o problema ambiental: “é só você fazer cocó, dia sim dia não”. Trump
no seu discurso do dia da independência diz que o exército americano havia
conseguido “tomar o controlo dos
aeroportos “contra os britânicos em 1775, o avião só foi inventado um
século depois. Sim, já tivemos Hitler, Mao, Estaline, Pinochet, guerras
mundiais, genocídios, mas não aprendemos nada com isso? Falemos aos peixes para
enaltecer aqueles que lutam por uma humanidade mais humana e criticar os que
desrespeitam a criação. O dia da sobrecarga do planeta deste ano foi a 29 de
julho, a data mais recuada desde que o défice ecológico começou no ano 1970. As
grandes potências “esfregam as mãos” de contentes com o degelo do Ártico, veem
mais uma oportunidade de faturar milhões, não conseguem ver que o degelo poderá
afetar negativamente o mundo de forma irreversível. Gaudí disse: “A originalidade consiste no retorno à
origem; assim, original é aquele que retorna à simplicidade das primeiras
soluções”. Aprendamos!
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Muito pertinente, caro amigo Adriano! Abraço!
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