“A Criança de fui chora na
estrada. Deixei-a ali quando vim a ser quem sou; mas hoje, vendo que o que sou
é nada, Quero ir buscar quem fui onde ficou”.
Fernando Pessoa
Escrever sobre poesia, e sobre a
crença que um dia o Mundo será um lugar de paz, amor e fraternidade, conhecendo
o percurso conflituoso da humanidade, até parece ironia. Santo Agostinho, dizia
que o mal não tinha origem em si mesmo, o que existia era a ausência de bem, e
à ausência de bem, deu-se o nome de mal. Eu acredito na transformação gradual da
humanidade, até ao ponto em que tudo e todos, um dia viverão em harmonia. Acredito
que a humanidade evoluirá em conhecimento, de tal maneira que implementará no
mundo uma forma de vida, onde a ausência de bem será insignificante. Acreditando
nestes pressupostos, não poderei desassociar do caminho a percorrer, a
filosofia, a democracia e a poesia. A filosofia porque é a busca incessante da
sabedoria, a democracia porque permite o debate livre das ideias, a poesia, que
por ser a voz da alma e aquela que melhor exprime o sentimento humano. O Poeta
é um sonhador, um idealista, um criativo. Agostinho da Silva dizia: “todo o
homem nasce poeta e deveria viver de tal maneira e proceder de tal forma que um
dia quando morresse, se pudesse dizer: morreu um poema”. A poesia brota do
âmago e expressa os sentimentos, vai a lugares nunca vistos, mergulha no irreal
e torna-o realidade. O pensamento poético é uma criação divina, que usa o poeta
para se manifestar. A poesia não deve ser reprimida nem envergonhada. Como
escreveu Ary dos Santos: “Serei tudo o que disserem! Poeta castrado, não!”. O
que é ser poeta? Para F. Pessoa: “O poeta é um fingidor. Finge tão
completamente. Que chega a fingir que é dor. A dor que deveras sente”. Para
F.B. Espanca:” Ser poeta é ser mais alto, é ser maior do que os homens”.
Ser poeta é viver sendo aquilo que se quer ser, é lembrar aos homens que todos
são uma exceção, que não há alguém no mundo que seja igual, nem física ,nem
emocionalmente, e que tudo deveria ser uma exceção adaptada à excecionalidade
que cada ser é. Ser poeta é lembrar aos homens que todos podem ser felizes,
cada um fazendo aquilo que mais gosta, que o amor é capaz de acabar com
qualquer tipo de mal. Ser poeta é acreditar na “Ilha dos amores “de Camões, no “Quinto
Império” de Vieira, em Isaías 11:6-9 onde se pode ler que a paz se estende para
toda a terra, sem conflitos nem maldade, na “ Sétima idade” de Fernão Lopes.
Ser poeta é ensinar aos homens” A Pedra Filosofal” de Gedeão “…o sonho
é uma constante da vida, tão concreta e definida, como outra coisa qualquer ..…
o sonho comanda a vida…”. Todo o homem nasce poeta, mas a maior parte
está hipnotizada por um género de encantador de serpentes, que os mantém
amordaçados, uns com o olhar fixo na sobrevivência, outros com o olhar fixo na
gula e na luxúria. Mas o pensamento poético um dia irá sobrepor-se a tudo e
conduzirá o homem à fraternidade. P. Neruda escreveu: “… quero viver
num mundo em que os seres sejam simplesmente humanos, sem mais títulos além
desse. Sem trazer na cabeça uma regra, uma palavra rígida, um rótulo.” Eu
sei que sou um ser quimérico e tal qual C. Lispector “Não quero a terrível
limitação do que vive apenas do que é possível de fazer sentido. Eu não: quero
uma verdade inventada”. Ou como E. Galeano explicou a utopia, dizendo que
ela estava lá no horizonte e, que sempre que caminhava em sua direção ela
afastava-se, ele continuava a caminhar em sua direção e ela sempre se
afastando, acaba concluindo: A utopia serve para isso mesmo, para eu não deixar
de caminhar. Sonhemos sempre e sejamos o poema para que fomos criados.
Adriano Gonçalves
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