quarta-feira, 30 de novembro de 2016

A CASA DOS HÓSPEDES

 
Adaptado de um poema do mestre Sufi do século Xll: RUMI
 
 

O “ser humano” é uma casa de hóspedes.

Cada manhã é uma nova visita.

A alegria, a depressão, a  maldade, a falta de sentido

Aparecem, como uma visita inesperada.

Devemos a todos dar as boas vindas e entretê-los

Mesmo que sejam uma multidão de dores e mágoas

Que violentamente varram a nossa casa e, levem a mobília

Mesmo assim, devemos tratar honradamente cada hóspede

Ele pode estar a purificar-nos  

Para que possamos receber uma nova alegria.

O pensamento obscuro, a vergonha, a malícia

Devemos recebe-los à porta rindo

E, convidá-los para entrarem.

Sejamos gratos a quem quer que venha

Porque cada um foi enviado

Como um guia do além.

domingo, 6 de novembro de 2016

Sustentabilidade

Estima-se que anualmente a nível mundial são abatidos nos matadouros mais de 60 biliões de animais (sem contabilizar o abate doméstico). Esta é uma frase que por si só, pode não ter muito significado. Mas, se fizermos uma pequena análise sobre o que está por detrás desta simples frase, logo ganha proporções gigantescas. O percurso de um animal até o matadouro tem uma pegada ecológica de grandes dimensões. Como a maior parte das pessoas não tem sensibilidade para a exploração e sofrimento dos animais, este artigo, tem como objectivo alertar para as causas ambientais e, fazer compreender a influência que a causa animal tem na sustentabilidade do planeta.
 Então vejamos: Mais de metade da água potável do mundo é destinada à pecuária. A produção animal consome até dez vezes mais água do que a usada pela agricultura. Trinta por cento da superfície terrestre do planeta é utilizada pela pecuária e até setenta por cento da superfície agrícola pertence à criação de animais. Metade da produção mundial de grãos é destinada à pecuária. Cerca de oitenta por cento da produção mundial de soja, setenta por cento da produção mundial de milho e setenta por cento da produção mundial de aveia são destinadas ao consumo animal. Mais de oitenta por cento do desmatamento da Amazónia brasileira destina-se à pecuária. A quantidade de comida atualmente consumida pelo gado mundial alimentaria mais de nove biliões de pessoas, uma vez que a população humana mundial é de sete biliões, a quantidade de alimentos destinados hoje ao gado seria mais do que suficiente para alimentar toda a população humana e, cobriria as necessidades de uma população mundial só prevista para 2050. Os recursos usados para alimentar dois biliões e meio de pessoas com produtos animais, poderiam alimentar vinte biliões de pessoas com uma alimentação vegetariana.Com uma alimentação vegetariana, alimentaríamos três vezes a população atual do planeta e ainda haveria sobra de alimentos. Para produzir 1kg de arroz são precisos 2 litros e meio de água, 1 kg de trigo cento e trinta litros, 1 kg de carne de bovinos dezassete mil litros. Mais de cinquenta por cento dos gases do efeito estufa ocorre devido à pecuária, sendo maior que a produzida pelos automóveis que é de cerca de onze por cento. A produção animal é a principal causa de poluição de rios e lagos. Os dejetos suínos têm um potencial poluidor duzentos e cinquenta vezes maior do que o esgoto doméstico.

Podemos concluir: 1 - Com uma alteração dos nossos hábitos alimentares e de consumo o planeta é auto sustentável. 2- Deixam de fazer sentido os argumentos da indústria dos transgénicos que para a produção destes alimentos tão nefastos para a natureza, argumentam para a sua utilização o; “suprir as necessidades alimentares do planeta” 3 - Urge tomar medidas para evitar uma catástrofe que se avizinha. Mas, existe uma resistência muito grande, mesmo a nível do próprio Estado, como por exemplo, a chamada Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público que rejeitou o Projeto de Lei 4624/12, que criava o “Programa Segunda Sem Carne”. O texto proibia o fornecimento de carne e seus derivados às segundas-feiras nas escolas da rede pública de ensino ou de quaisquer órgãos públicos, obrigando-os a expor em local de fácil visibilidade um cardápio vegetariano. Nós não podemos mudar as pessoas, mas podemos ser a razão pela qual as pessoas mudem. Continuaremos a alertar, e como dizia a canção “ até que a voz me doa”

segunda-feira, 26 de setembro de 2016

A Cidade e as Serras


O romance “ A cidade e as Serras “ de Eça de Queiroz, escrito nos finais do século XIX, parece ser uma visão antecipada de uma realidade que é muito actual. O Jacinto, protagonista do romance, até aos seus 34 anos, personifica grande parte da nossa sociedade que vive de e para o progresso tecnológico. Vivemos numa sociedade de consumo, destruidora de recursos, alheia à sustentabilidade do planeta, que pensa unicamente no seu bem-estar imediato. Muitos de nós estão a tornar-se seres amorfos e egoístas que privilegiam a socialização através das redes sociais em detrimento do contacto físico. Já é comum numa casa, cada elemento da família encontrar-se isolado dos restantes elementos, vivendo no ciberespaço ou isoladamente a ver o seu programa de televisão preferido. Voltando ao Jacinto, este, nasceu e cresceu rico na vanguardista cidade de Paris e, vivia com a convicção de que a felicidade dependia da perfeita simbiose entre a cultura e a tecnologia, que a ciência avidamente disponibilizava para o seu bem-estar pessoal. Era um comprador compulsivo de todos os gadgets da altura, costumava dizer: “O homem só é superiormente feliz quando é superiormente civilizado” Na sua casa, o opulento Nº 202 dos Campos Elísios, Jacinto disponha de Telégrafo, telefone, elevador, máquina de escrever, conferençofone, teatrofone, máquina de calcular e uma biblioteca com cerca de 30 mil volumes. Eram festas e banquetes com a alta burguesia. Contudo, Jacinto mergulhou no mais profundo tédio e, como filosofava o seu amigo Zé Fernandes “…o homem tornava-se escravo de uma ilusão infeliz”. O romance acaba com Jacinto vivendo em Portugal, mais propriamente no baixo Douro em Tormes, antiga terra dos seus avós. Ai descobre a felicidade na rusticidade e no trivial, começa a apreciar as estrelas, as cores da natureza o ar da Serra o “ vinho com alma” O arroz com favas melhor que os pratos gourmets e de lá nunca mais saiu. Hoje temos a televisão com mais de duzentos canais, jogos digitais, Facebook, Instagram, Youtube e o Google que tem muito mais informação que os mais de 30 mil volumes da biblioteca do Jacinto. Tal como o protagonista do romance continuamos a ser consumidores compulsivos de gadgets, só que com outras designações, hoje são: Tablets, Computadores, Smartphones, Leitores de MP3 e muitos mais. A mim preocupa-me o vazio que este tipo de hábitos está a provocar na sociedade. Sou um usuário da maior parte desta tecnologia e penso que se bem administrada é uma mais-valia para a humanidade. Mas, não podemos deixar morrer as tertúlias, que já nos séculos xix e xx faziam parte da intelectualidade Portuguesa, que do cruzar de ideias e debate de opiniões, surgiram novas formas de pensar a sociedade. As noites de serão, as discussões pela noite dentro onde dissertam os pluralistas e os obstinados, nunca foram tão importantes como agora. Após o jantar é preciso sair de casa, ocupar as mesas dos cafés, filosofar, falar do trivial, do raro e, contribuir para a mudança que queremos ver no mundo. É necessário revitalizar o conceito de família que cada vez mais desagregada está a construir uma sociedade sem valores. No momento em que já é preciso 1, 6 planetas para satisfazer o consumismo, é necessário criarmos um novo paradigma ecológico. Rapidamente temos que deixar de ser tão virtuais e mais humanos, estarmos mais juntos, física e espiritualmente. Correremos o risco de calmamente em casa, através da televisão, assistirmos às imagens da destruição do planeta e, quando despertarmos não termos a sorte que o jacinto de Tormes teve, descobrir a felicidade ao meio da natureza, porque ela pode já não existir.

domingo, 25 de setembro de 2016

Tens de ser o Melhor

“Tens de vencer, tens que estar entre os melhores”. Esta frase podia se reportar a um atleta de alta competição de uma qualquer modalidade desportiva, mas provavelmente está a referenciar o que poderá ser o lema do estudante do futuro. No desporto, os patamares de exigência foram subindo até um nível que para treinar um atleta, foi necessário criar equipas multidisciplinares com: treinador, psicólogo, fisiologista, fisioterapeuta, biomecânico, nutricionista, utilização de recursos ergogênicos e, em alguns casos, ainda o recurso a substâncias dopantes. Será que uma situação similar um dia ocorrerá na prática estudantil?
A baixa empregabilidade em certos setores e, a exigência do mercado de trabalho, farão com que só os melhores alunos das melhores universidades consigam empregos bem renumerados e de longa duração. Os menos cotados, se conseguirem entrar no mercado de trabalho, provavelmente vão encontrar a precaridade.

Há alguns anos atrás os chamados “ explicadores” eram solicitados para ajudar alguns alunos com dificuldades de compreensão em uma determinada disciplina, hoje, já são um recurso frequente para potenciar o conhecimento em alunos de excelência. O ser bom já não é suficiente, têm de ser os melhores. Na sequência do que aconteceu no desporto é provável, que os alunos venham a ter equipas multidisciplinares de apoio ao estudo e que utilizem substâncias ergogénicas para uma melhor concentração e controle de ansiedade. Por este caminho, o doping aparecerá naturalmente com a utilização de anfetaminas e outros produtos que permitam o aluno estudar 10 ou 12 horas seguidas sem cansaço aparente. A questão é: Será este o tipo de ser humano que queremos construir para a nossa sociedade? Será este o tipo de vida que pretendemos para os nossos filhos? Na minha opinião, é um tema que merece uma rápida reflexão.

terça-feira, 5 de julho de 2016

O Professor


Na minha opinião, um professor tem o poder de mudar gerações e, essas gerações podem mudar o mundo. Tanto para o bem, como para o mal. Hoje sabemos que a maioria dos extremistas islâmicos é incentivada nas escolas (Madrassas) às práticas mais bárbaras que todos conhecemos. Um professor quando tem um aluno à sua frente, o seu primeiro pensamento deve ser: que tipo de ser humano é que eu quero ajudar a construir?

Serve esta breve introdução, simplesmente, para apresentar um pequeno texto que encontrei algures na net e, que sendo ou não verídico o local onde apareceu, o texto vale pela reflexão que pode produzir….

Texto encontrado após a Segunda Guerra Mundial, num campo de concentração nazista:

“ Prezado Professor, sou sobrevivente de um campo de concentração. Os meus olhos viram o que nenhum homem deveria ver. Câmaras de gás construídas por engenheiros formados. Crianças envenenadas por médicos diplomados. Recém-nascidos mortos por enfermeiras treinadas. Mulheres e bebés fuzilados e queimados por graduados de colégios e universidades. Assim tenho as minhas suspeitas sobre a Educação. Meu pedido é: ajude os seus alunos a tornarem-se humanos. Seus esforços nunca deverão produzir monstros treinados ou psicopatas hábeis. Ler, escrever e saber aritmética só são importantes se fizerem as nossas crianças mais humanas.”

terça-feira, 28 de junho de 2016

Alfa e Ómega


                      

                       Alfa e Ómega

Tudo tem um princípio e um fim
Apareceste com a sublime beleza de uma aurora boreal
Aprisionaste-me no teu esplendor
Foste; a alegria e a dor
O doce beijo, a palavra amarga
O mais belo sol, a terrível tempestade
A estrela que brilha, a escuridão
Depois, desapareceste, com o encanto do mais belo crepúsculo
E, assim, se cumpriu a vida
Tudo termina, quando a lição está aprendida
Adriano

segunda-feira, 20 de junho de 2016

Livro - Os Miseráveis

Com o intuito de tecer um comentário sobre o livro, durante a sua leitura fui anotando numa pequena agenda, diálogos e frases maravilhosas que ia encontrando. Acontece que perdi a agenda. Sendo assim, vou recorrer a um apontamento de um livro “ A Tentação do Impossível”  que é um ensaio desenvolvido sobre um curso ministrado por Vargas Llosa na Universidade de Oxford.

Vargas Llosa, neste ensaio faz uma análise da criação, estrutura e dos elementos que envolveram a composição de “ Os Miseráveis” de Victor Hugo

Passo a transcrever:
 “tudo é impossível nas aspirações de Os miseráveis, e a primeira dessas impossibilidades é o desaparecimento de todas as nossas misérias”. E ainda, não há a menor dúvida, tampouco, de que “Os miseráveis é uma das obras na história da literatura que mais fizeram homens e mulheres de todas as línguas e culturas desejar um mundo mais justo, mais racional e mais belo do que aquele em que viviam”.


Acho que neste excerto de “ A tentação do Impossível” Vargas Llosa descreve todo sentido do livro. Sei que algumas das personagens que compõem este livro vão me fazer companhia durante muito tempo. È  um livro colossal, diria que, sem defeitos e, que nos leva a uma reflexão muito profunda do que é a humanidade. Um dia volto a Lê-lo