quinta-feira, 2 de julho de 2009

Ácido láctico - O bom,o Mau e o Vilão

O ácido láctico tem sido ao longo dos anos o vilão do desporto.
Muitas vezes relacionado com a especialização precoce, acusado de destruir talentos que (supostamente) foram sujeitos a treinos com elevados níveis de lactato na sua fase de formação. Responsável pelas dores musculares após treinos de elevada intensidade e culpado de nos últimos metros de uma prova o atleta ser ultrapassado. Ou seja, quando o atleta não tem o rendimento pretendido, é ele normalmente o culpado.

Então começam as suposições:

- O atleta fez pouco treino de lactato, e por isso não suporta a acumulação e não consegue manter os níveis de velocidade.

- Ou fez muitos treinos com elevadas concentrações de ácido láctico e o seu sistema neuromuscular ficou saturado tornando o atleta lento.

- Talvez não tenha efectuado um bom trabalho de capacidade e potência aeróbia, fazendo com que o lactato apareça precocemente e a sua remoção seja muito lenta, etc.

Mas será que é mesmo verdade? Será ele o culpado de tudo o que de mau acontece? É claro que eu não tenho a resposta, mas vou debruçar-me um pouco sobre este assunto a ver se consigo chegar a alguma conclusão. Não vou descrever o que é o ácido láctico, ou como se forma, porque isso já toda gente sabe. Vou mencionar apenas alguns dados relativos ao tema, que possibilitem uma reflexão. Como gosto do treino da corrida de velocidade, vou colocar as situações como treinador desta disciplina.
E começo com a seguinte questão:

As grandes concentrações do ácido láctico são prejudiciais, benéficas ou não têm influncia no treino dos corredores de velocidade?
Vou mencionar algumas situações, e pode ser que alguém dê uma opinião a este artigo que possa levar a um melhor esclarecimento sobre esta substância, que efectivamente tem enorme importância na planificação do treino. As grandes concentrações de ácido láctico, têm uma interferência negativa no sistema neuromuscular. Pois o lactato acumulado invade a fenda sináptica provocando alterações no funcionamento da acetilcolina, (acetilcolina é o único neurotransmissor utilizado no sistema nervoso somático e um dos muitos neurotransmissores do sistema nervoso autónomo – Wikipédia) provavelmente através de uma menor liberação desta substancia. Esta molécula “mensageira” tem a função de transmitir os impulsos nervosos para as fibras musculares, de forma a que as contracções musculares se produzam com a eficiência desejada. Se o seu normal funcionamento for limitado por algum factor, as contracções musculares não serão eficientes, o que tornará o atleta mais lento. Segundo Jayme Netto "o ácido láctico é o inimigo número 1 da velocidade de condução nervosa".

Outra situação a destacar, embora eu não conheça nenhum estudo científico sobre a mesma, é que a estrutura muscular quando exposta a uma acidose continuada, perde mobilidade e o músculo torna-se mais rígido.

Também é comum atribuirmos ao ácido láctico aquelas dores musculares que aparecem nas horas subsequentes e dias imediatos aos treinos intensos. Mas, segundo estudos recentes, essas dores não são provocadas pelo ácido láctico, mas sim pelos micro traumatismos provocados no músculo, que iniciam um processo inflamatório cerca de 24 horas após o esforço. No entanto, durante e logo após o exercício, por vezes o acido láctico provoca dor aguda, ardor, indisposição e muitas vezes até o vómito.

Mas para termos êxito nas competições de velocidade é necessário trabalharmos este mecanismo e treinamos com alguns dos objectivos, que passo a mencionar:

1. Melhorar o sistema de reabsorção do lactato;
2. Melhorar a tolerância à concentração do lactato;
3. Manter o funcionamento do sistema apesar do lactato;
4. Suportar maiores concentrações de lactato;
5. Aperfeiçoar a coordenação em situações lácticas, etc

Além disso, o acido láctico tem importantes funções no organismo, sendo uma substancia essencialmente utilizada:

1. No fornecimento de energia;
2. Na eliminação dos hidratos de carbono provenientes da alimentação;
3. Na produção de glicose;
4. No aumento de resistência em condições extremas, etc.

Com estes pequenos exemplos ficamos a saber que ele é mau, mas também bom e imprescindível.

Agora interessa saber como manipular esta situação no treino:
Se melhorarmos o metabolismo aeróbio do atleta, atrasamos a alta concentração de lactato e melhoramos a velocidade de remoção do mesmo. Mas se trabalhamos o sistema aeróbio sobre a forma de capacidade, desenvolvemos as fibras tipo 1 lentas, o que não interessa no treino de velocistas. Então este metabolismo só deve ser treinado no regime de potência onde são estimuladas as fibras intermédias tipo 2A.
Em relação aos treinos de potência e capacidade láctica devemos separar estas sessões com o maior intervalo possível, tentar remover o ácido láctico dos músculos o mais rapidamente e intercalar as sessões lácticas, com treinos de características estruturais, regenerativas, potência aeróbia, de capacidade ou potência aláctica. Mas aqui surge outro problema.

O professor Paulo Colaço fez uma experiência com atletas velocistas de bom nível Nacional, utilizando modelos referenciados na literatura como trabalho aláctico. Os testes foram os seguintes:
Corrida a intensidade sub máxima.
- 1º teste 8 x 30 metros 3´intervalo;
- 2º teste 8 x 60 metros 3´intervalo;
- 3º teste 8 x 30 metros 6´intervalo;
- 4º teste 8 x 60 metros 6´intervalo.
E o resultado foi que houve atletas que atingiram nestes testes 14,59 e 15,21 de milimoles de acido láctico.

Como podemos constatar, em apenas dois simples exemplos, a terminologia por vezes prega-nos umas partidas. Por vezes pensamos que estamos a trabalhar muito bem e estamos a fazer um monte de asneiras. Não me alongo mais sobre o tema , porque sei, que ninguém gosta de ler artigos muito longos, mas espero ter despertado um pouco de curiosidade. E para acabar, uma frase “ :

"A teoria só pode erguer-se a partir de uma prática conhecida e reflectida”

2 comentários:

  1. Ah! Gand´Luva Branca!!!!
    Ora toma que é democratico.
    Um ABRAÇO

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  2. sou atleta e mudei de treinador q diz isso mesmo a verdade e que treinava nem metade do q antes treinava e do dia pa noite melhorei qause meio segundo aos 100 passando dom mediano a um atleta mt bom

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